|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA
Líder dos EUA supera episódios embaraçosos que o desafiam desde sua 1ª campanha presidencial
Mago da imagem, Clinton resiste a escândalos
de Washington
Bill Clinton é
muito bom de
imagem. É verdade que tem
excelentes assessores. Mas a
maior parte de
seu estilo vem
dele mesmo.
Só alguém com esse extremo talento seria capaz de sobreviver a
problemas tão dramáticos como
os que ele tem vivido desde o início
de sua carreira política e ser duas
vezes eleito presidente dos EUA.
Algumas de suas qualidades não
lhe exigem muito esforço: ele é jovem, considerado bonito pela
maioria das mulheres e simpático
pela maioria dos homens. Seu jeito
carinhoso ao lidar com as pessoas
também parece natural.
Outras demandam uma enorme
força de vontade. Clinton não sabe
o que é preguiça. Trabalha de maneira intensiva o dia inteiro. Lê
muito e classifica as informações
com impressionante precisão.
Na campanha de 1992, ultrapassou diversos obstáculos. Por
exemplo, no famoso caso de Gennifer Flowers, uma cantora de cabaré que arrumou emprego público em Arkansas depois de supostamente ter tido um caso de 12 anos
com o governador Clinton.
É verdade que a acusadora dispunha de pouca credibilidade.
Mulher vulgar, ainda aceitou ter
seu caso patrocinado por um jornal sensacionalista de Nova York,
que comprou a exclusividade da
história. Mas ela vinha muito bem
armada, até com fitas de conversas
telefônica íntimas com um homem que, se não era Clinton, soava quase exatamente como ele.
A resposta de Clinton foi comparecer a um dos programas jornalísticos de maior audiência do país,
"60 Minutes" (na rede CBS), com
Hillary, negar as acusações, mas
admitir eufemisticamente ter
"provocado dor" a sua mulher
durante o casamento, considerar
os problemas superados e partir
para a ofensiva: "Nenhum homem público na história deste país
disse coisas tão íntimas ao povo
como eu fiz hoje". Bingo.
Quando as pesquisas começaram a mostrar que os eleitores o
consideravam frio demais, surgiu,
de óculos escuros, no show de TV
de Arsenio Hall, um humorista negro muito simpático, e tocou sax.
Conseguiu convencer seus opositores, George Bush e Ross Perot,
a participarem de um debate fora
dos padrões tradicionais, com perguntas do público num auditório.
Deu um espetáculo de simpatia e
espontaneidade. Ganhou a eleição
com esses lances e com seu trabalho estóico de ir a centenas de
emissoras de rádio e TV, tratar dos
assuntos de cada comunidade.
Ressaltou sua imagem de homem comum e simples, de fora do
círculo do poder, andando de ônibus em vez de avião ou limusine.
Explorou com habilidade a imagem familiar, mostrando a filha,
Chelsea, apenas em momentos
muito especiais e escondendo ao
máximo o irmão problemático.
No poder, deu suas escorregadas
iniciais. Conturbou o aeroporto de
Los Angeles para ter o cabelo cortado a bordo do US Air Force One
por um cabeleireiro de estrelas.
Meteu os pés pelas mãos ao demitir os funcionários do escritório
de turismo da Casa Branca e substituí-los por amigos de Arkansas.
Mas aprendeu logo a lidar com
Washington. Deixou os velhos
amigos para trás e contratou profissionais competentes para recompor sua imagem. Perdeu a
maioria no Congresso. Mas se reelegeu, graças a um adversário fraco e idoso e a seus méritos.
1997 foi ruim em termos de imagem. Mas 1998 prometia ser melhor. Adotou um cachorro e ganhou o aplauso de 50% dos norte-americanos que são donos de
cães (os outros 50%, donos de gatos, já o aplaudiam).
Livre de eleições, desviou seu governo um pouco à esquerda,
anunciando incentivos a creches
nos locais de trabalho, ampliação
da previdência e expansão dos Voluntários da Paz. Ia bem até o caso
Monica Lewinsky.
Transar com uma moça quase da
idade da filha e na Casa Branca,
prestar falso testemunho e tentar
comprar o silêncio dela: mesmo
um mago da imagem terá problemas para sair dessa sem se machucar.
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|