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RÚSSIA
Gabinete também sairá; ação visa fortalecer reformas, diz presidente
Putin destitui premiê 3 semanas antes daeleição
STEVEN LEE MYERS
DO "NEW YORK TIMES", EM MOSCOU
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, destituiu ontem o premiê Mikhail Kasyanov e todo o
seu gabinete, anunciando que
apontará um novo governo. A
surpreendente medida foi tomada menos de três semanas antes
da eleição presidencial.
Putin, que é favorito para vencer a eleição de 14 de março, não
criticou diretamente o trabalho
de Kasyanov, mas afirmou que o
eleitorado merecia conhecer a nova composição do governo antes
de ir às urnas. Mas ele não anunciou o nome do novo premiê.
A destituição de Kasyanov, que
era a segunda autoridade mais
importante da Rússia até ontem,
não deve mudar muita coisa na
política do país, que é totalmente
controlada pelo presidente e por
seus assessores. Estes, em grande
parte, eram colegas de Putin na
FSB (polícia secreta russa, sucessora da KGB soviética).
Não revelando o nome do sucessor de Kasyanov, porém, Putin
injetou uma dose de dúvida na
campanha para a eleição presidencial, que, segundo seus críticos, "não respeita os padrões democráticos internacionais".
"O progresso das reformas administrativa e socioeconômica
depende muito do governo. É por
isso que creio que minha decisão
seja correta e que ela tivesse de ser
tomada agora, não após a campanha. É correto divulgar a composição do órgão mais importante
do Executivo agora, já que seus
membros terão de assumir sua
parte de responsabilidade", disse
Putin, em rede nacional de TV.
Putin pôs, temporariamente, o
vice-premiê Viktor Khristenko
no lugar de Kasyanov. O restante
do gabinete também continuará
no poder interinamente. De acordo com funcionários do Kremlin,
o anúncio oficial do novo gabinete não deverá ser feito antes do final desta semana.
Com isso, os russos deverão ter
alguns dias de intriga política e de
dúvida, o que deverá ofuscar a
campanha eleitoral. Alguns analistas dizem que o escolhido de
Putin deverá ser seu herdeiro político, podendo disputar a Presidência em 2008. O próprio Putin
já deu a entender que pretende escolher seu sucessor.
Nenhum nome foi mencionado
pelo Kremlin, mas já há favoritos
na disputa pelo posto de premiê.
Especula-se que Serguei Ivanov,
atual ministro da Defesa e ex-funcionário da KGB, esteja no alto da
lista de Putin. Aleksei Kudrin, ministro das Finanças e vice-premiê,
também é forte candidato, já que
é um defensor das reformas econômicas de Putin. Dmitri Kozak,
advogado de São Petersburgo e
conselheiro do presidente, também tem chances.
Essa foi a primeira reforma ministerial significativa ocorrida na
Rússia desde que Putin ganhou a
eleição, em 2000. A medida foi tomada no dia em que dois de seus
mais importantes rivais na disputa presidencial anunciaram que
poderão abandonar a campanha
por conta do controle do Kremlin
sobre a mídia estatal.
Irina Khakamada, uma liberal
que está entre os mais duros críticos de Putin, afirmou que a campanha está cada vez mais caracterizada "por atentados às leis e por
mentiras". Serguei Glazyev, de
uma formação de esquerda, também abandonou a disputa. "Isso
não é uma eleição", disse sua porta-voz, Yanina Dubeikovskaya.
Kasyanov era aliado do ex-presidente Boris Ieltsin (1991-1999).
Segundo analistas, sua saída também marca o fim da era Ieltsin, já
que ele era o último ex-membro
do alto escalão do governo de Ieltsin que ainda estava no poder.
Putin também se livrou de outro grupo que era aliado de Ieltsin:
o que era composto pelos chamados "oligarcas".
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