São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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RÚSSIA

Gabinete também sairá; ação visa fortalecer reformas, diz presidente

Putin destitui premiê 3 semanas antes daeleição

STEVEN LEE MYERS
DO "NEW YORK TIMES", EM MOSCOU

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, destituiu ontem o premiê Mikhail Kasyanov e todo o seu gabinete, anunciando que apontará um novo governo. A surpreendente medida foi tomada menos de três semanas antes da eleição presidencial.
Putin, que é favorito para vencer a eleição de 14 de março, não criticou diretamente o trabalho de Kasyanov, mas afirmou que o eleitorado merecia conhecer a nova composição do governo antes de ir às urnas. Mas ele não anunciou o nome do novo premiê.
A destituição de Kasyanov, que era a segunda autoridade mais importante da Rússia até ontem, não deve mudar muita coisa na política do país, que é totalmente controlada pelo presidente e por seus assessores. Estes, em grande parte, eram colegas de Putin na FSB (polícia secreta russa, sucessora da KGB soviética).
Não revelando o nome do sucessor de Kasyanov, porém, Putin injetou uma dose de dúvida na campanha para a eleição presidencial, que, segundo seus críticos, "não respeita os padrões democráticos internacionais".
"O progresso das reformas administrativa e socioeconômica depende muito do governo. É por isso que creio que minha decisão seja correta e que ela tivesse de ser tomada agora, não após a campanha. É correto divulgar a composição do órgão mais importante do Executivo agora, já que seus membros terão de assumir sua parte de responsabilidade", disse Putin, em rede nacional de TV.
Putin pôs, temporariamente, o vice-premiê Viktor Khristenko no lugar de Kasyanov. O restante do gabinete também continuará no poder interinamente. De acordo com funcionários do Kremlin, o anúncio oficial do novo gabinete não deverá ser feito antes do final desta semana.
Com isso, os russos deverão ter alguns dias de intriga política e de dúvida, o que deverá ofuscar a campanha eleitoral. Alguns analistas dizem que o escolhido de Putin deverá ser seu herdeiro político, podendo disputar a Presidência em 2008. O próprio Putin já deu a entender que pretende escolher seu sucessor.
Nenhum nome foi mencionado pelo Kremlin, mas já há favoritos na disputa pelo posto de premiê. Especula-se que Serguei Ivanov, atual ministro da Defesa e ex-funcionário da KGB, esteja no alto da lista de Putin. Aleksei Kudrin, ministro das Finanças e vice-premiê, também é forte candidato, já que é um defensor das reformas econômicas de Putin. Dmitri Kozak, advogado de São Petersburgo e conselheiro do presidente, também tem chances.
Essa foi a primeira reforma ministerial significativa ocorrida na Rússia desde que Putin ganhou a eleição, em 2000. A medida foi tomada no dia em que dois de seus mais importantes rivais na disputa presidencial anunciaram que poderão abandonar a campanha por conta do controle do Kremlin sobre a mídia estatal.
Irina Khakamada, uma liberal que está entre os mais duros críticos de Putin, afirmou que a campanha está cada vez mais caracterizada "por atentados às leis e por mentiras". Serguei Glazyev, de uma formação de esquerda, também abandonou a disputa. "Isso não é uma eleição", disse sua porta-voz, Yanina Dubeikovskaya.
Kasyanov era aliado do ex-presidente Boris Ieltsin (1991-1999). Segundo analistas, sua saída também marca o fim da era Ieltsin, já que ele era o último ex-membro do alto escalão do governo de Ieltsin que ainda estava no poder.
Putin também se livrou de outro grupo que era aliado de Ieltsin: o que era composto pelos chamados "oligarcas".


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