São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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AMÉRICA LATINA

Ex-presidente é acusado de ter omitido conta bancária de US$ 600 mil na Suíça; ele nega acusações

Justiça argentina bloqueia bens de Menem

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O juiz federal argentino Norberto Oyarbide determinou ontem o bloqueio total dos bens de Carlos Menem (1989-99), em processo que investiga a suposta existência de uma conta bancária na Suíça, não declarada pelo ex-presidente argentino, em que estariam depositados US$ 600 mil.
Oyarbide havia disposto um embargo de 1,5 milhões de pesos (cerca de R$ 1,5 milhões) sobre os bens do ex-presidente, que está sendo processado por "omissão maliciosa de bens". O bloqueio foi determinado depois que Menem, em depoimento à Justiça de La Rioja, negou possuir bens para cumprir o embargo.
"É uma medida muito grave porque afeta todo o patrimônio e o proprietário não pode dispor dos bens", explicou Oyarbide.
O juiz ordenou ainda a avaliação de outros bens que pertenceriam a Menem, como uma propriedade no bairro portenho de Belgrano e três aeronaves.
Segundo informações de diários argentinos, citando fontes judiciais, Oyarbide já tem uma lista de bens identificados como propriedade de Menem, entre os quais estariam 26 lotes em Chilecito (norte da Argentina), duas casas em La Rioja, três carros e um avião Cessna.
A conta na Suíça não aparece nas declarações de renda do ex-presidente, que, no entanto, admitiu sua existência em uma entrevista à TV CNN em 2003.
Na ocasião, Menem afirmou que o dinheiro se referia a indenização recebida por ter sido vítima da repressão durante a última ditadura no país (1976-83). O ex-presidente alegou que a conta estava nos nomes de sua ex-mulher, Zulema Yoma, e de sua filha, Zulema Eva. As duas negam.
Se condenado por esse caso, Menem pode ser inabilitado para o exercício de cargos públicos.
No ano passado, Menem se retirou do segundo turno das eleições quando as pesquisas indicavam sua derrota frente ao atual presidente, Néstor Kirchner.

Investigações
Carlos Menem, cujo governo foi marcado por escândalos de corrupção, enfrenta uma série de processos judiciais dentro e fora da Argentina.
Na Suíça, ele é investigado pela existência de contas bancárias com recursos procedentes de operações ilegais que formam parte de várias causas, como lavagem de dinheiro e corrupção.
Em 2001, o ex-presidente chegou a ficar em prisão domiciliar, em decisão sobre causa em que era acusado de liderar uma rede ilegal de contrabando de armas para o Equador e a Croácia entre 1991 e 1995, em violação a embargo das Nações Unidas.
Na ocasião, o juiz federal argentino Jorge Urso determinou um embargo no valor de 3 milhões de pesos, mas Menem respondeu que não tinha bens suficientes.
Em uma decisão polêmica da Suprema Corte argentina, Menem foi liberado devido à falta de provas, mas ainda está sob investigação.
O ex-presidente também aparece implicado no caso que investiga o atentado terrorista, em 1994, à sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires, quando morreram 85 pessoas.
Menem é acusado por uma testemunha-chave de ter negociado com o Irã, por meio de um emissário, um pagamento no valor de US$ 10 milhões em troca de que não se acusasse o país de participação. O ex-presidente nega todas as acusações.


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