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PERU
Presidente afirma que a economia melhora, mas país tem baixa auto-estima
Toledo vê racismo na impopularidade
FRANCESC RELEA
DO "EL PAÍS", EM LIMA
O clima é de agitação nos corredores da Casa de Pizarro, sede do
governo peruano. São dias difíceis
para o presidente Alejandro Toledo, que acaba de nomear seu
quinto gabinete em dois anos e, a
julgar por seu baixo índice de popularidade, não consegue conquistar a confiança da população.
"Vistos de fora, os resultados
das pesquisas devem ser incompreensíveis, num país que avança
bem em termos econômicos e que
já começa a mostrar alguns resultados dos benefícios do crescimento", confessa Toledo, 57, peruano de raízes indígenas e de família humilde, que viveu vários
anos nos EUA, de onde voltou
com um doutorado em economia
da Universidade Stanford.
Pergunta - O sr. diz que o governo
tenta fazer as coisas direito, mas
sua popularidade está muito baixa
(7% de aprovação na Grande Lima).
Toledo - Seria muito fácil para
mim aumentar minha popularidade. Bastaria gastar mais do que
minha receita, quebrar a disciplina fiscal e dilapidar as reservas internacionais, de US$ 11 bilhões.
Não o farei. Nosso crescimento
nos últimos dois anos tem ficado
entre 4% e 5,2%, temos uma moeda estável, uma inflação inferior a
1,5%, os investimentos privados
estão aumentando, e contamos
com o megaprojeto de gás de Camisea, que prevê um investimento de mais de US$ 3 bilhões.
Pergunta - Quando ganhou as
eleições (2001), o sr. apresentou-se
como o presidente dos pobres. Que
resultados conseguiu nessa área?
Toledo - Para combater a pobreza, fomos até os rincões rurais
mais distantes, onde não chegam
os meios de comunicação nem os
institutos de pesquisas. O Instituto Nacional de Estatística mostra
uma queda de seis pontos percentuais na pobreza rural, de 48% para 42%, nos dois anos e meio de
nosso governo. Começa a diminuir o nível de desemprego, a renda familiar urbana vem subindo,
e temos um programa habitacional muito ativo para os pobres.
Pergunta - Se os resultados são
tão bons, por que os peruanos não
os aceitam?
Toledo - Somos um país em
transição, desiludido e sofrendo
de baixa auto-estima coletiva,
porque [o ex-presidente Alberto]
Fujimori o enganou. Tratar um
país com responsabilidade gera
um custo político que é maior
quando se vem de uma ditadura
corrupta e quando os corruptos
estão presos e seu interesse é solapar a democracia para ficarem
impunes. Mais de cinco comandantes gerais das Forças Armadas
estão na prisão.
Pergunta - O sr. assume alguma
parte da responsabilidade pela
imagem negativa que tem?
Toledo - Sem dúvida que sim. Se
precisamos fazer esse inventário,
começarei por mim mesmo.
Acho que um dos maiores erros
de meu governo foi ter confiado
em uma pessoa que acabou por
me trair profundamente [o ex-assessor presidencial César Almeyda, amigo de Toledo, envolvido
em denúncias de corrupção].
Agora cite, por favor, dois erros
de fundo de meu governo. Muitas
pessoas têm dificuldade em aceitar que uma pessoa com esta estrutura étnica [toca sua própria
pele] seja presidente. Não consegui reformar o Judiciário, mas isso não está em minhas mãos.
Pergunta - Por quê?
Toledo - Não posso. O cidadão
comum pensa que, se o Poder Judiciário, o Ministério Público ou o
Congresso não funcionam, a culpa é do presidente. Se eu colocar a
mão no Judiciário, todos cairão
em cima de mim. Vão falar da independência dos Poderes, de intervenção do Executivo. É terrível.
Não posso fazer nada. Não posso
fazer como Fujimori, que fechou
o Judiciário e o Congresso.
Pergunta - Onde o sr. se situa politicamente?
Toledo- Em nível conceitual, sou
da Terceira Via moderna e adequada à América Latina. Isso quer
dizer que acredito na economia
de mercado com rosto humano.
Pergunta - O sr. se sente mais
próximo da visão da América Latina dos presidentes Lula ou Bush?
Toledo - Sou muito amigo do
presidente Lula e do presidente
Bush. A questão não é o presidente Bush ou o presidente Lula. Temos uma aliança estratégica histórica com o Brasil e, não obstante, estamos negociando um tratado de livre comércio com os EUA.
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