São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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PERU

Presidente afirma que a economia melhora, mas país tem baixa auto-estima

Toledo vê racismo na impopularidade

FRANCESC RELEA
DO "EL PAÍS", EM LIMA

O clima é de agitação nos corredores da Casa de Pizarro, sede do governo peruano. São dias difíceis para o presidente Alejandro Toledo, que acaba de nomear seu quinto gabinete em dois anos e, a julgar por seu baixo índice de popularidade, não consegue conquistar a confiança da população.
"Vistos de fora, os resultados das pesquisas devem ser incompreensíveis, num país que avança bem em termos econômicos e que já começa a mostrar alguns resultados dos benefícios do crescimento", confessa Toledo, 57, peruano de raízes indígenas e de família humilde, que viveu vários anos nos EUA, de onde voltou com um doutorado em economia da Universidade Stanford.

Pergunta - O sr. diz que o governo tenta fazer as coisas direito, mas sua popularidade está muito baixa (7% de aprovação na Grande Lima).
Toledo -
Seria muito fácil para mim aumentar minha popularidade. Bastaria gastar mais do que minha receita, quebrar a disciplina fiscal e dilapidar as reservas internacionais, de US$ 11 bilhões. Não o farei. Nosso crescimento nos últimos dois anos tem ficado entre 4% e 5,2%, temos uma moeda estável, uma inflação inferior a 1,5%, os investimentos privados estão aumentando, e contamos com o megaprojeto de gás de Camisea, que prevê um investimento de mais de US$ 3 bilhões.

Pergunta - Quando ganhou as eleições (2001), o sr. apresentou-se como o presidente dos pobres. Que resultados conseguiu nessa área?
Toledo -
Para combater a pobreza, fomos até os rincões rurais mais distantes, onde não chegam os meios de comunicação nem os institutos de pesquisas. O Instituto Nacional de Estatística mostra uma queda de seis pontos percentuais na pobreza rural, de 48% para 42%, nos dois anos e meio de nosso governo. Começa a diminuir o nível de desemprego, a renda familiar urbana vem subindo, e temos um programa habitacional muito ativo para os pobres.

Pergunta - Se os resultados são tão bons, por que os peruanos não os aceitam?
Toledo -
Somos um país em transição, desiludido e sofrendo de baixa auto-estima coletiva, porque [o ex-presidente Alberto] Fujimori o enganou. Tratar um país com responsabilidade gera um custo político que é maior quando se vem de uma ditadura corrupta e quando os corruptos estão presos e seu interesse é solapar a democracia para ficarem impunes. Mais de cinco comandantes gerais das Forças Armadas estão na prisão.

Pergunta - O sr. assume alguma parte da responsabilidade pela imagem negativa que tem?
Toledo -
Sem dúvida que sim. Se precisamos fazer esse inventário, começarei por mim mesmo. Acho que um dos maiores erros de meu governo foi ter confiado em uma pessoa que acabou por me trair profundamente [o ex-assessor presidencial César Almeyda, amigo de Toledo, envolvido em denúncias de corrupção].
Agora cite, por favor, dois erros de fundo de meu governo. Muitas pessoas têm dificuldade em aceitar que uma pessoa com esta estrutura étnica [toca sua própria pele] seja presidente. Não consegui reformar o Judiciário, mas isso não está em minhas mãos.

Pergunta - Por quê?
Toledo -
Não posso. O cidadão comum pensa que, se o Poder Judiciário, o Ministério Público ou o Congresso não funcionam, a culpa é do presidente. Se eu colocar a mão no Judiciário, todos cairão em cima de mim. Vão falar da independência dos Poderes, de intervenção do Executivo. É terrível. Não posso fazer nada. Não posso fazer como Fujimori, que fechou o Judiciário e o Congresso.

Pergunta - Onde o sr. se situa politicamente?
Toledo-
Em nível conceitual, sou da Terceira Via moderna e adequada à América Latina. Isso quer dizer que acredito na economia de mercado com rosto humano.

Pergunta - O sr. se sente mais próximo da visão da América Latina dos presidentes Lula ou Bush?
Toledo -
Sou muito amigo do presidente Lula e do presidente Bush. A questão não é o presidente Bush ou o presidente Lula. Temos uma aliança estratégica histórica com o Brasil e, não obstante, estamos negociando um tratado de livre comércio com os EUA.


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