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ARTIGO
Obama agora é "psiquiatra-em-chefe"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
SE A INTENÇÃO oficial
era o faz-de-conta em
que o presidente finge
que traça um plano para os próximos 12 meses do país e os políticos fingem que acreditam, a
ida de Barack Obama ontem ao
Congresso serviu a outro propósito, mais real: acalmar um
país que acorda pensando se
seu banco vai continuar existindo no final do dia.
Todo o ruído de nacionalização e as metáforas ("curadoria
temporária" é uma delas) para
a intervenção maior no sistema
financeiro que a cada hora se
torna a única e última alternativa da Casa Branca tem agitado o país. Obama serviu ontem
como psiquiatra-em-chefe um
Rivotril coletivo dado em gotas
e com a autoridade que sua popularidade ainda confere.
Assim, sobrou para os banqueiros, na crítica pública mais
contundente e de plateia mais
qualificada já feita pelo democrata. "Desta vez, os CEOs não
conseguirão usar o dinheiro do
contribuinte para aumentar
seus contracheques ou sumir
em jatinhos privados", disse
Obama. "Esses dias acabaram."
Não só. "Eu sei o quão impopular parece a ideia de ajudar
os bancos agora, especialmente
quando todo o mundo está sofrendo por suas decisões erradas", disse, mais adiante. "Eu
prometo a vocês -eu entendi.
Não vou gastar um só centavo
com o objetivo de ajudar um só
executivo de Wall Street."
Sim, Barack Obama pode ter
entendido, mas não, ele sabe
que esses dias não acabaram.
Executivos de Wall Street e de
outras ruas vão continuar sendo pagos nababescamente -estamos nos EUA, e Obama falava
não ao Kremlin, mas a um Congresso em que cada membro recebeu em média US$ 833 mil
dos bancos em 2008, segundo
levantamento da ONG Center
for Responsive Politics.
Mas alguém precisa ser pendurado em praça pública, até
para que a hipótese de nacionalização soe menos assustadora
quando o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, o economista-chefe da Casa Branca,
Lawrence Summers, e companhia tenham de colocar o plano
em ação. Esse alguém é o CEO,
o "gato gordo" de Wall Street.
De resto, o presidente foi tratado como o popstar que ainda
é, sendo aplaudido de pé em sua
primeira entrada oficial como
presidente na Casa que frequentou por só quatro anos.
E não é menos histórico o fato de ele estar sendo assistido
por Nancy Pelosi, a primeira
presidente mulher do Congresso, e de ser seguido na réplica
republicana por Bobby Jindal,
o primeiro governador de origem indiana do partido. E de,
em vez de Dick Cheney, ser observado por Joe Biden.
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