São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO

Obama agora é "psiquiatra-em-chefe"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

SE A INTENÇÃO oficial era o faz-de-conta em que o presidente finge que traça um plano para os próximos 12 meses do país e os políticos fingem que acreditam, a ida de Barack Obama ontem ao Congresso serviu a outro propósito, mais real: acalmar um país que acorda pensando se seu banco vai continuar existindo no final do dia.
Todo o ruído de nacionalização e as metáforas ("curadoria temporária" é uma delas) para a intervenção maior no sistema financeiro que a cada hora se torna a única e última alternativa da Casa Branca tem agitado o país. Obama serviu ontem como psiquiatra-em-chefe um Rivotril coletivo dado em gotas e com a autoridade que sua popularidade ainda confere.
Assim, sobrou para os banqueiros, na crítica pública mais contundente e de plateia mais qualificada já feita pelo democrata. "Desta vez, os CEOs não conseguirão usar o dinheiro do contribuinte para aumentar seus contracheques ou sumir em jatinhos privados", disse Obama. "Esses dias acabaram."
Não só. "Eu sei o quão impopular parece a ideia de ajudar os bancos agora, especialmente quando todo o mundo está sofrendo por suas decisões erradas", disse, mais adiante. "Eu prometo a vocês -eu entendi. Não vou gastar um só centavo com o objetivo de ajudar um só executivo de Wall Street."
Sim, Barack Obama pode ter entendido, mas não, ele sabe que esses dias não acabaram. Executivos de Wall Street e de outras ruas vão continuar sendo pagos nababescamente -estamos nos EUA, e Obama falava não ao Kremlin, mas a um Congresso em que cada membro recebeu em média US$ 833 mil dos bancos em 2008, segundo levantamento da ONG Center for Responsive Politics.
Mas alguém precisa ser pendurado em praça pública, até para que a hipótese de nacionalização soe menos assustadora quando o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, o economista-chefe da Casa Branca, Lawrence Summers, e companhia tenham de colocar o plano em ação. Esse alguém é o CEO, o "gato gordo" de Wall Street.
De resto, o presidente foi tratado como o popstar que ainda é, sendo aplaudido de pé em sua primeira entrada oficial como presidente na Casa que frequentou por só quatro anos.
E não é menos histórico o fato de ele estar sendo assistido por Nancy Pelosi, a primeira presidente mulher do Congresso, e de ser seguido na réplica republicana por Bobby Jindal, o primeiro governador de origem indiana do partido. E de, em vez de Dick Cheney, ser observado por Joe Biden.


Texto Anterior: Plano soterrará país em dívidas, diz oposição
Próximo Texto: Premiê visita a Casa Branca, e Japão bancará policiais afegãos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.