São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Resistência será maior que a do Iraque

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

As forças da Iugoslávia prometem ser alvo mais difícil para os americanos e seus aliados do que foram os iraquianos na Guerra do Golfo (91). O motivo não é a quantidade dos efetivos ou a qualidade do equipamento, mas circunstâncias que limitam a eficácia dos ataques e seu potencial político.
A Otan pretende minimizar baixas. Por isso os primeiros alvos são a defesa antiaérea inimiga. E por isso se utilizam primeiro os mísseis Tomahawk -cada um custando perto de US$ 1 milhão.
O problema é que os mísseis não são tão poderosos como as bombas dos aviões, além de terem uma precisão variável. Acertar as bases aéreas iugoslavas é relativamente fácil. Mais difícil é colocá-las fora de ação permanentemente. Como se viu na guerra com o Iraque, seu reparo pode ser rápido.
E mais difícil ainda é acertar mísseis antiaéreos móveis, como o velho SA-6 de fabricação russa. E ao contrário dos mísseis iraquianos, os iugoslavos não estão em um deserto. Suas tropas têm boa cobertura para se esconderem, o que limita a eficácia dos ataques.
Em compensação, em combate aéreo, prevê-se fácil vitória da Otan, graças a aviões-radar e de comando/controle como os Awacs, melhor equipamento e treinamento.
Os americanos e seus aliados já têm vasta experiência em lidar com material bélico ex-soviético. Mas, mesmo assim, perdas acontecem. Em 1991, os iraquianos abateram 38 aviões da coalizão liderada pelos EUA, e danificaram 48.
De 17 de janeiro a 28 de fevereiro de 91 foram feitas 118.661 "surtidas" (saídas de aviões) pelos americanos e seus aliados. Na Força Aérea dos EUA, as baixas foram irrisórias: uma perda de 0,4 avião para cada mil surtidas de ataque.
Os mísseis e seus radares podem ser desviados e destruídos por contramedidas eletrônicas e mísseis anti-radar. Os milhares de canhões são mais perigosos. Apesar de não terem a mesma precisão, podem criar "muros" de granadas no caminho dos atacantes.
As perdas foram mínimas em 1991 graças à decisão de concentrar bombardeios em altitudes médias. Isso diminuiu muito os danos causados por mísseis de curto alcance e canhões de tiro rápido.
Uma das lições reaprendidas então foi o grande risco que correm aviões ao atacar em baixa altitude alvos bem defendidos, como bases aéreas. Os Tornado britânicos mudaram seu modo de ataque depois de perdas em ataques rasantes, corajosos, mas relativamente inúteis.
A primeira fase dos ataques, portanto, deve repetir o que foi feito com o Iraque: "ataque integrado projetado para demolir na totalidade o sistema de defesa aéreo iraquiano a nível nacional", afirmou um relatório oficial americano.


Texto Anterior: Iugoslávia diz que ataque matou civis
Próximo Texto: Otan ataca sem a autorização da ONU
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.