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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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"Só coalizão detém autoridade", diz general americano; Bagdá e Kut já têm "prefeitos" autoproclamados

EUA fazem ameaças a líderes iraquianos

DA REDAÇÃO

Iniciada a corrida para estabelecer uma nova administração no Iraque pós-Saddam Hussein, os militares americanos já advertiram os líderes locais de que quem manda no país é a coalizão anglo-americana -e somente ela.
A preocupação dos EUA é que o vácuo aberto pela derrubada do regime de Saddam no último dia 9 leve líderes locais a aproveitarem a confusão política no país para tomar o poder. Alguns líderes civis já se proclamaram "administradores" ou "prefeitos" de cidades como Kut e Bagdá.
"A coalizão sozinha detém a autoridade absoluta dentro do Iraque", afirmou ontem o general americano David McKiernan, comandante das forças terrestres no Iraque. Segundo ele, quem desafiar essa autoridade estará sujeito a prisão. Da mesma forma, os EUA rejeitam um governo islâmico no país, como defendem líderes dos xiitas, cerca de 60% dos 23 milhões de habitantes. A ditadura de Saddam, um sunita, era laica.

Prefeitos autoproclamados
O general da reserva Jay Garner, chefe da administração provisória americana, chegou a Bagdá na segunda-feira, mas ainda não assumiu o poder na cidade, onde a presença militar americana é esparsa. Com isso, abriu-se espaço para grupos banidos pelo regime de Saddam -como comunistas ou extremistas xiitas- tomarem o poder em alguns bairros.
Em Kut, Sayed Abbas Fadhil, um clérigo xiita, se proclamou prefeito após ter sido "eleito" por uma comissão de religiosos, professores e lideranças civis não ligadas a Saddam -fatos não confirmados pelos EUA.
O "prefeito" conta com um pequeno exército particular. "Não podemos deixar que os americanos nos tirem do poder", disse.
A ascensão de Fadhil é semelhante à de Mohammed Mohsen Zubaidi, general oposicionista que viveu anos exilado e se proclamou prefeito de Bagdá após o início da guerra, em 20 de março.
Zubaidi -que não despacha na prefeitura da cidade, mas no hotel Palestine- já nomeou um vice-prefeito e um comissário de polícia, ignorando ordens americanas, e chegou a anunciar o envio de uma delegação iraquiana à cúpula da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) nesta semana em Viena.
Os EUA reagiram enviando a ele a declaração de McKiernan e dizendo que não tem autoridade para nomear ninguém.
Já Fadhil centrou sua ação em Kut na infra-estrutura, o que lhe rendeu maior simpatia dos americanos -ainda que o marines não reconheçam seu governo, alegando não terem autoridade para empossar prefeitos.

Chalabi vigiado
Além de Zubaidi e Fadhil, os americanos estão atentos aos movimentos de Ahmed Chalabi -o líder do grupo oposicionista Congresso Nacional Iraquiano que viveu anos exilado nos EUA, tido inicialmente como o preferido pelo Pentágono para governar o país após a saída da coalizão.
Cercado por um exército particular de 700 homens, Chalabi se instalou em um clube de Bagdá e conta com o apoio do Departamento da Defesa americano para obter um papel de maior destaque no governo interino.
Nos últimos dias, as autoridades americanas alegam que ele e Zubaidi têm reivindicado a autoria de melhorias na região de Bagdá para conquistar a opinião pública à custa da coalizão.
"Vamos mandá-los parar de interferir. E, se precisarmos, vamos prendê-los", afirmou o general britânico Albert Whitley.


Com agências internacionais


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