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EUA sofrem críticas por falta de planejamento para o pós-guerra
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A elogiada performance das tropas norte-americanas na guerra
está sendo seguida nos EUA por
uma forte onda de críticas à falta
de planejamento para a formação
de um novo governo no país.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, depois dos saques e da desorganização geral após a queda
de Bagdá, os EUA ainda não formaram uma "massa crítica" no
país capaz de viabilizar uma nova
administração.
Boa parte das críticas são dirigidas ao fato de os EUA terem "importado" o líder do Congresso
Nacional Iraquiano e ex-exilado
Ahmed Chalabi, há mais de 40
anos fora do país, para ter um papel central no pós-guerra.
Para Rick Barton, especialista
em segurança internacional do
Centro de Estudos Estratégicos de
Washington, o esforço principal
dos EUA neste momento deveria
ser o de conectar os iraquianos locais a um novo governo, não importar lideranças aliadas. "Precisamos encontrar as pessoas certas
no próprio país e envolve-las na
reconstrução. Não devemos entrar fundo na máquina administrativa ou interferir nas escolhas
políticas", afirma.
"Vem sendo um mal começo",
diz Roberta Cohen, consultora da
ONU e ex-secretária-adjunta do
Departamento de Estado no governo Jimmy Carter (1977-81). "A
desorganização acabou comprometendo até o básico, que era a
ajuda humanitária tão esperada",
disse ela.
Eric Schwartz, diretor do Conselho de Relações Internacionais
de Washington, diz que os americanos ainda não conseguiram solucionar a questão básica da segurança pública. "A falta de planejamento está comprometendo a
imagem do plano como um todo", diz. "Vamos acabar pagando
um preço político alto."
"A guerra foi a parte fácil. Os
EUA agora estão perdidos na
montagem de uma nova administração", diz Shibley Telhami da
Universidade de Maryland. Ele
afirma que os únicos grupos unificados que resistiram a Saddam
Hussein são os religiosos, com
quem os EUA, na sua visão, estão
evitando lidar. "É um erro, pois
não existem outras instituições no
país", diz.
Martin Indyk, especialista em
Oriente Médio e ex-embaixador
americano em Israel, acredita que
os EUA também estão deixando
passar a oportunidade de "abraçar" a seu favor outros países da
região, em especial o Egito.
"O sucesso no Iraque deveria
servir de exemplo para os outros,
que estão prestando atenção a tudo que acontece ali", diz. Na sua
opinião, os EUA estão falhando
ao não constituírem rapidamente
novas instituições públicas e um
espaço político maior no país.
"A guerra foi totalmente premeditada, mas faltou planejamento
para o que vinha depois", diz Seymon Brown, autor de vários livros
sobre política externa e professor
da Universidade Harvard. Seymon afirma que a postura "triunfalista" norte-americana contrasta com o que está acontecendo no
país agora. "Ao contrário da Bósnia ou do Afeganistão, a mídia
ainda vai ficar um bom tempo em
cima do Iraque. Pode ser péssimo
para a imagem geral americana
na região se as coisas não se resolverem rapidamente no Iraque."
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