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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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EUA sofrem críticas por falta de planejamento para o pós-guerra

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A elogiada performance das tropas norte-americanas na guerra está sendo seguida nos EUA por uma forte onda de críticas à falta de planejamento para a formação de um novo governo no país.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, depois dos saques e da desorganização geral após a queda de Bagdá, os EUA ainda não formaram uma "massa crítica" no país capaz de viabilizar uma nova administração.
Boa parte das críticas são dirigidas ao fato de os EUA terem "importado" o líder do Congresso Nacional Iraquiano e ex-exilado Ahmed Chalabi, há mais de 40 anos fora do país, para ter um papel central no pós-guerra.
Para Rick Barton, especialista em segurança internacional do Centro de Estudos Estratégicos de Washington, o esforço principal dos EUA neste momento deveria ser o de conectar os iraquianos locais a um novo governo, não importar lideranças aliadas. "Precisamos encontrar as pessoas certas no próprio país e envolve-las na reconstrução. Não devemos entrar fundo na máquina administrativa ou interferir nas escolhas políticas", afirma.
"Vem sendo um mal começo", diz Roberta Cohen, consultora da ONU e ex-secretária-adjunta do Departamento de Estado no governo Jimmy Carter (1977-81). "A desorganização acabou comprometendo até o básico, que era a ajuda humanitária tão esperada", disse ela.
Eric Schwartz, diretor do Conselho de Relações Internacionais de Washington, diz que os americanos ainda não conseguiram solucionar a questão básica da segurança pública. "A falta de planejamento está comprometendo a imagem do plano como um todo", diz. "Vamos acabar pagando um preço político alto."
"A guerra foi a parte fácil. Os EUA agora estão perdidos na montagem de uma nova administração", diz Shibley Telhami da Universidade de Maryland. Ele afirma que os únicos grupos unificados que resistiram a Saddam Hussein são os religiosos, com quem os EUA, na sua visão, estão evitando lidar. "É um erro, pois não existem outras instituições no país", diz.
Martin Indyk, especialista em Oriente Médio e ex-embaixador americano em Israel, acredita que os EUA também estão deixando passar a oportunidade de "abraçar" a seu favor outros países da região, em especial o Egito.
"O sucesso no Iraque deveria servir de exemplo para os outros, que estão prestando atenção a tudo que acontece ali", diz. Na sua opinião, os EUA estão falhando ao não constituírem rapidamente novas instituições públicas e um espaço político maior no país.
"A guerra foi totalmente premeditada, mas faltou planejamento para o que vinha depois", diz Seymon Brown, autor de vários livros sobre política externa e professor da Universidade Harvard. Seymon afirma que a postura "triunfalista" norte-americana contrasta com o que está acontecendo no país agora. "Ao contrário da Bósnia ou do Afeganistão, a mídia ainda vai ficar um bom tempo em cima do Iraque. Pode ser péssimo para a imagem geral americana na região se as coisas não se resolverem rapidamente no Iraque."


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