|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Juiz não pode condenar, somente um júri, decide a corte
Decisão da Suprema Corte limita a condenação à morte nos EUA
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
A Suprema Corte dos EUA decidiu ontem que somente um júri
pode definir se um acusado será
condenado à pena de morte ou
não, e não mais apenas juízes. A
medida deve afetar centenas de
prisioneiros que estão atualmente
no "corredor da morte" e recorrerão de suas sentenças.
A decisão não-unânime (7 votos a 2) cita como argumento a
Sexta Emenda da Constituição,
que garante que todos os suspeitos têm direito de ser julgados por
seus pares. O caso que deu origem
à decisão é o de Timothy Ring,
condenado por assassinato em
1994 no Estado do Arizona.
Além deste, a medida divulgada
ontem em Washington atinge diretamente outros quatro Estados
americanos (Colorado, Idaho,
Montana e Nebraska), que, somados, contam com 168 pessoas
condenadas à morte por um juiz
ou uma comissão de juízes.
Pode afetar ainda outros quatro
Estados (Alabama, Delaware, Flórida e Indiana), com 529 pessoas
condenadas por um sistema misto, em que um juiz ou uma comissão de juízes aconselha os jurados
sobre sua decisão ou mesmo se
sobrepõe à esta.
No relatório, lido pela juíza
Ruth Bader Ginsburg, não ficou
claro se os 168 condenados já tiveram sua pena mudada para prisão
perpétua ou se cada um deles terá
de recorrer separadamente. O
texto declara, no entanto, que as
cortes estaduais terão de mudar o
quanto antes os "procedimentos
inconsistentes com a opinião" da
Suprema Corte.
Os únicos votos contrários foram dos conservadores Sandra
Day O'Connor e William H.
Rehnquist, que afirmaram que a
medida causaria "o caos no sistema judicial dos Estados". Os dois
foram isolados inclusive por seus
habituais colegas de posição, os
também conservadores Antonin
Scalia e Clarence Thomas.
Volta do movimento
A decisão vem menos de uma
semana depois de a mesma Suprema Corte declarar que deficientes mentais não podem ser
condenados à pena capital. Os
dois duros golpes à prática reavivaram o movimento nacional pelo fim da punição, que havia sido
esvaziado depois da eleição de
George W. Bush e da escolha do
ultraconservador John Ashcroft
para o Departamento da Justiça.
As principais ONGs defensoras
do fim da pena, lideradas pela
Coalizão Nacional Contra a Pena
de Morte, comemoraram a vitória
de ontem. "O fato é que nós ainda
estamos descobrindo que não
existe uma maneira infalível de
decidir quem vive e quem deve
morrer", disse Steven W. Hawkins, diretor da entidade.
Nenhuma das duas decisões da
Suprema Corte, no entanto, contesta a constitucionalidade da pena de morte, que continua sendo
adotada pelo governo federal e
em 38 Estados. Nestes, 3.700 pessoas esperam pela execução.
Ontem ainda, a mesma instância decidiu por 5 votos a 4 que o
porte de arma na realização de
um crime, mesmo que este não
tenha sido cometido com a ajuda
daquela, pode ser usado como argumento para que uma sentença
seja aumentada.
Texto Anterior: Desastre na África: Choque de trens mata 200 na Tanzânia Próximo Texto: Panorâmica - Colômbia: Farc ameaçam prefeitos de Bogotá e Cali Índice
|