São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zimbábue veta produção em terras de brancos

ANGUS SHAW
DA "ASSOCIATED PRESS", EM HARARE

Cerca de 2.900 fazendeiros brancos no Zimbábue receberam ordem para parar de trabalhar em suas fazendas até a meia-noite de ontem. A ordem integra o programa de desapropriação de terras do governo do presidente Robert Mugabe, cujo objetivo é redistribuir fazendas pertencentes a brancos entre sem-terra negros.
Não estava claro quantos fazendeiros pretendiam desobedecer à ordem. "Há dois anos, tentamos argumentar com o governo. Desafiá-lo agora não faria diferença", disse Lindsay Campbell, que há 12 anos cultiva milho e tabaco em Marondera.
Segundo a lei, os fazendeiros deveriam interromper suas operações até a meia-noite de ontem, quando suas terras se tornariam propriedade do Estado, e desocupar suas casas até 8 de agosto. Os fazendeiros que desobedecerem às ordens serão multados e enfrentarão penas de até dois anos de prisão.
O Zimbábue enfrenta uma crise potencialmente arrasadora de escassez de alimentos. O Programa Mundial de Alimentação estimou que quase 6 milhões de zimbabuanos vão precisar de assistência alimentar neste ano.
A crise alimentar foi provocada pela seca durante a estação de crescimento do milho, neste ano, e pela tomada das fazendas comerciais, frequentemente realizada com violência, por partidários de Mugabe. Segundo o PMA, as fazendas comerciais são cerca de cinco vezes mais produtivas que as pequenas propriedades.
Desde junho de 2000, o governo do Zimbábue já determinou o confisco de 5.872 fazendas, em sua maioria de brancos -cerca de 10,4 milhões de hectares de terras.
Os brancos são menos de 1% da população do Zimbábue. Antes dos confiscos recentes, fazendeiros brancos, em sua maioria descendentes de colonos britânicos e sul-africanos da era colonial, eram proprietários de cerca de um terço das terras agrícolas produtivas do país.
Apesar da promessa de que as fazendas confiscadas seriam entregues a negros pobres, muitas foram dadas a parlamentares e homens de confiança de Mugabe.


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Crise em Angola é a pior em décadas, diz ONG
Próximo Texto: Artigo: A escola pode ser uma arma contra a fome
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.