São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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ARTIGO

EUA não devem repetir os mesmos erros do passado

Para o embaixador do Irã no Brasil, Washington precisa saber avaliar a importância geopolítica do país para resolução dos conflitos no Oriente Médio

JAFAR HASHEMI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Após 27 anos de suspensão das relações políticas entre a República Islâmica do Irã e os Estados Unidos da América, parece que hoje as autoridades americanas, apesar das forças internas contra, que vem dos neoconservadores, consideram necessário estabelecer um diálogo com o Irã, tentando procurar meios para concretizá-lo. Em vista disso, fica a pergunta: o que aconteceu para chegarem a essa decisão? Um dos princípios e lemas da Revolução Islâmica do Irã, que aconteceu há 27 anos, é "soberania e não-dependência do Ocidente ou do Oriente". Essa voz foi levantada pelo povo iraniano num momento em que todos os países estavam divididos fosse no Oriente, fosse no Ocidente. E era difícil imaginar o surgimento de um país com uma política de não-aliança com qualquer dos dois pólos, que pudesse sobreviver e continuar em sua vida política e no seu desenvolvimento sem a ajuda dos poderes de então. Além disso, existia um grande receio por parte dos EUA no sentido de um país soberano como o Irã tornar-se um modelo para outros países com espírito libertador. Esse modelo representava um perigo de colapso à estrutura dos poderes dominadores, as superpotências. Por isso, logo no início da Revolução Islâmica do Irã começaram propagandas constantes, para torcer e desviar a opinião pública mundial, tentando convencer que um país soberano e sem aliados é um país pobre e sem rumo e desenvolvimento. Muitas coisas aconteceram e hoje chegamos a esse ponto no qual o Irã conseguiu sobreviver e sair de todas as intrigas e tornou-se desenvolvido em diversos campos. Hoje os estudantes iranianos são pioneiros em olimpíadas científicas mundiais, e o país atingiu um nível de desenvolvimento tecnológico respeitável, tudo isso é confirmado por quem visita o Irã e que, em seus relatos, certamente enfatizará ter visto um país civilizado, desenvolvido, belo e com uma cultura muito rica, um povo muito motivado. O resultado desses encontros e visitas seria desmentir todas essas propagandas negativas contra o Irã e argumentos utilizados pelos EUA de intrometer nos assuntos dos outros e a sua permanência na nossa região. É nesse sentido que hoje se encontra a diminuição da popularidade do presidente Bush. Mentiras e pretextos não justificados como a existência de armamentos de destruição em massa no Iraque aumentaram a desconfiança no mundo e até entre os aliados dos EUA. Agora estamos perante um novo cenário. Eles querem, através de um diálogo direto com o Irã, resolver os seus problemas... Os EUA não devem repetir os mesmos erros do passado, têm que considerar as realidades do mundo atual. A negação dos pensamentos norte-americanos pelo mundo tem origem no critério "double standard" no tratamento das questões mundiais e dos assuntos internacionais. A democracia é um conceito louvável, mas a opinião pública mundial pergunta por que os americanos, na defesa desse conceito, não querem submeter-se e respeitar os votos de outros povos. A defesa dos direitos humanos tornou-se um dos principais slogans dos Estados Unidos da América nas suas políticas externas, mas por que não há críticas perante atos de violência praticados nos países como o Iraque e nas prisões tenebrosas como Guantánamo ou Abu Ghraib, ou atos bárbaros feitos contra o povo palestino pelo regime israelita? Se são pioneiros na luta contra o terrorismo, por que não condenam o "terrorismo de Estado" praticado por Israel? Há uma expressão que diz: "em qualquer momento, evitar o prejuízo é lucro". Ainda não é tarde. Hoje a região importante e estratégica do Oriente Médio, na qual está concentrada a maior parte das reservas de petróleo mundial, necessita de paz e de tranqüilidade. E, para isso, o melhor caminho é não apoiar atos violentos praticados por Israel que não deixam que, através de uma eleição livre, todos os povos naquela região (muçulmanos, judeus e cristãos) decidam sobre a nomeação de um Estado através de um ato democrático e isso seja respeitado pelos EUA. A República Islâmica do Irã, como um dos importantes elementos na região do Oriente Médio e pela sua influência espiritual pode prestar grandes ajudas para atingir uma paz verdadeira e durável. Obviamente, a ajuda do Irã é a melhor opção para trazer tranqüilidade a essa região estratégica do Oriente Médio.


JAFAR HASHEMI é embaixador do Irã no Brasil


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