São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
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PODER ARMADO
Presidente distribui altos cargos a integrantes das Forças Armadas e é criticado por opositores
Chávez "militariza" governo da Venezuela

STEVEN GUTKIN
da "Associated Press", em Caracas

O presidente Hugo Chávez cumpriu sua promessa de conferir um papel mais relevante e político às Forças Armadas venezuelanas. Alguns setores temem que, com isso, possa estar prejudicando o futuro de uma longa tradição de governos civis.
Desde que assumiu a Presidência, em fevereiro, além de manter altas taxas de aprovação (acima de 70%), Chávez colocou dezenas de milhares de soldados para trabalhar em obras públicas. Promoveu 34 chefes militares sem a aprovação do Congresso e nomeou vários oficiais para altos cargos no governo, entre eles o de ministro da Presidência e diretor da polícia secreta.
O presidente povoou de militares desde a estatal monopolista Petróleos de Venezuela até o órgão responsável pelo recolhimento dos impostos.
Para seus críticos, aqueles entre os 120 mil integrantes das Forças Armadas que querem avançar na carreira hoje precisam apoiar o partido esquerdista de Chávez, apesar de os militares ainda não serem autorizados a votar nem a pertencer a partidos.
"Existe uma simbiose entre as Forças Armadas e um partido, e é a primeira vez que isso acontece na Venezuela", disse o general da reserva Fernando Ochoa Antich, que era ministro da Defesa quando Chávez liderou golpe de Estado fracassado, em 92.
Pelo menos seis generais que manifestaram rejeição a Chávez na campanha presidencial de 98 foram passados para a reserva.
Chávez, que goza de alto índice de popularidade também nas Forças Armadas, tem aparecido em público usando o uniforme de trabalho e o traje de gala do Exército.
No início de setembro, o presidente vai enviar soldados às escolas para ensinar a doutrina militar às crianças.
Seus opositores perguntam: será que a democracia pode coexistir com a militarização das instituições civis? A América Latina levou várias décadas para superar seu longo histórico de regimes militares -com a exceção de Cuba, todos os países latino-americanos adotaram a democracia-, e muitos se perguntam se a Venezuela, que se gaba de ter uma das democracias mais antigas da região, não estará prestes a retroceder para um passado sombrio.
Muitos esperam que os 40 anos de tradição profissional das Forças Armadas prevaleçam sobre os esforços do presidente para politizá-las. Um sinal promissor é a posição do ministro da Defesa, general Raúl Salazar, que jurou velar para que as Forças Armadas respeitem a autoridade civil. "Tragam a mim qualquer oficial que se filie a um partido político, e eu o expulsarei pessoalmente".


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