São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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EUA

Instituição começa a funcionar no fim de setembro, na Quinta Avenida, retratando a evolução de hábitos e costumes sexuais

NY ganha o seu primeiro museu do sexo

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Procurando bem, Nova York tem museus para todos os gostos. Desde o improvável Newseum (de notícias, uma contradição em termos) ao latino Museu del Barrio, no Harlem hispânico, passando pela filial do britânico de cera Madame Tussaud e por dois da criança. Faltava um do sexo.
Amsterdã tem, Paris tem, até mesmo Praga e Xangai têm. Nova York já quis ter, mas o reinado do pudico Rudolph Giuliani, que comandou a cidade de 1992 a dezembro passado, não inspirava os investidores a abrir os bolsos.
Afinal, apesar de ter governado quase todo o tempo ao lado de sua amante enquanto permanecia casado, foi o republicano que proibiu, tentou proibir ou puniu museus que exibiram mostras polêmicas, como a que trazia uma Virgem Maria feita de fezes.
Foi preciso que o liberal Michael Bloomberg assumisse a prefeitura em janeiro deste ano para que o empresariado voltasse a sorrir para a idéia. Do outro lado do balcão estava Daniel Gluck, que vinha tentando criar a instituição havia pelo menos quatro anos.
"É claro que estávamos preocupados com Giuliani, mas creio que qualquer prefeito iria acabar percebendo que somos um ganho para a cidade mais do que qualquer coisa", disse o fundador e primeiro diretor do Museu do Sexo, em entrevista à Folha.
Aos 34 anos, o ex-proprietário de uma empresa de softwares anuncia a exposição inaugural para o final de setembro, ainda na sede provisória, um prédio no número 233 da Quinta Avenida, esquina com a rua 27 (veja o site www.mosex.com).
O título é "NYC Sex - How New York City Transformed Sex in America" (Sexo de NYC - Como a Cidade de Nova York Transformou o Sexo na América"). E ele já pede que o lugar seja chamado pelo apelido, MoSex, como seu vizinho famoso, o MoMA (Museum of Modern Art).
Gluck prevê que 100 mil pessoas venham a visitar a mostra em seus dez meses em cartaz e que isso derrubará os argumentos dos investidores mais receosos, principalmente os que se preocupam que, após 11 de setembro, a cidade não se sinta especialmente sexy.
"Nova York é irrefreável, as pessoas não pararam de se interessar por sexo por causa do terrorismo", disse. "Não é à toa que somos conhecidos desde o século 19 como "a Sodoma do Hudson"."
Ele afirma ter se inspirado no mesmo conceito do considerado criador do primeiro Museu do Sexo contemporâneo, o sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, no começo do século passado.
"A idéia dele era exibir a obra e os trabalhos dos nomes mais à vanguarda daquela época, gente como Freud e os surrealistas, que fazem parte do establishment hoje, mas que, na época, não eram unanimidade", afirmou.
A exposição de abertura começa com informações sobre o assassinato de Helen Jewett, uma prostituta morta a machadadas em 1830, supostamente a primeira vítima de um escândalo sexual em Nova York. Com textos, fotos e curtas do início do século 20, retratará ainda a evolução dos hábitos e dos costumes sexuais.
Outra tratará da mudança nas leis sobre prostituição e obscenidade. "Pretendemos pensar o sexo, mais do que mostrá-lo", disse. "Minha idéia é fazer um "Smithsonian do sexo'", completou, referindo-se à veneranda instituição.
Smithsonian ou não, Gluck encontrou resistências em todas as esferas. O Conselho de Dirigentes do Estado, que supervisiona instituições culturais sem fins lucrativos, por exemplo, disse que não aceitaria a inscrição do MoSex se a palavra "museu" fosse usada.
Para contornar, a entidade foi registrada como uma empresa normal. Não por acaso, os ingressos iniciais sairão a US$ 17.


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