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ANÁLISE
Modelo econômico "chavista"
permanece uma incógnita
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O presidente Hugo Chávez pode até ter alguma razão ao dizer que a América Latina, do México à Argentina, está buscando um novo modelo.
Mas precisa, antes de mais nada, definir qual é, na economia, o modelo "chavista".
O tenente-coronel preferiu iniciar sua gestão enfrentando a linha de menor resistência, qual seja, a reformulação político-institucional. Com partidos, Congresso e Judiciário desmoralizados, foi fácil promover uma "razzia" institucional ontem completada com a Suprema Corte declarando-se subordinada, antes de ser desmanchada pela Assembléia Constituinte.
Mas, na área econômica, a única coisa que Chávez fez, até agora, foi anunciar um plano de investimentos em obras públicas, no valor aproximado de US$ 1 bilhão.
Pode-se até dizer que é um programa keynesiano, em alusão ao economista britânico John Maynard Keynes, propulsor de um papel ativo para o Estado em especial como meio de escapar de momentos de letargia econômica.
Mas é pouco para definir a coloração ideológica que tomará o "chavismo" nesse capítulo que, afinal de contas, é o fundamental, na medida em que determina maior ou menor grau de bem-estar da sociedade. Tudo o que se tem, até agora, é uma coleção completa do lugar-comum.
Veja-se, por exemplo, a epígrafe sobre "o novo modelo de desenvolvimento" que compõe o caudaloso "Programa Econômico de Transição 1999-2000", que acaba de ser divulgado pela Cordiplan, a Coordenação de Planejamento do governo venezuelano.
Diz: "Fazer convergir a mão invisível do mercado com a mão visível do Estado, em um espaço em que exista tanto mercado quanto seja possível e tanto Estado quanto seja necessário".
É uma das pérolas retóricas da social-democracia européia, mas não passa de retórica, se não se definir quanto de mercado é possível na Venezuela de hoje e quanto de Estado é necessário.
Ainda no mesmo capítulo, o texto da Cordiplan traz uma platitude que seria assinada em baixo por qualquer político:
"O sistema econômico terá o homem como seu centro e razão de ser, de tal forma que a atividade produtiva, em última instância, permita condições dignas de vida como resultado de uma apropriada satisfação das necessidades da população".
É sintomático que o programa econômico se limite a 99 e 2000, embora o mandato de Chávez seja de cinco anos e, com quase toda a certeza, será ampliado pela Constituinte.
Sinal claro de que o presidente ganha tempo até formular -se conseguir fazê-lo- um modelo de duração mais longa.
Com tais lacunas, Chávez bem poderia incluir a Venezuela entre os países que, do México à Argentina, buscam um novo modelo.
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