São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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PERFIL
Saiba mais sobre o presidente venezuelano, Hugo Chávez

da enviada especial à Venezuela

Alberto Fujimori despertou a ira internacional ao fechar Congresso e Judiciário depois de eleito presidente do Peru. Hugo Chávez desperta apostas, opiniões conflitantes e principalmente curiosidade ao comandar um processo semelhante na Venezuela. A diferença é que tudo que Chávez faz hoje está dentro da lei.
Tenente-coronel reformado do Exército, professor e mestre em ciência política, Chávez, 45, tem perfil, métodos e propósitos peculiares. Diz que está tirando o país de "uma tumba podre" e promovendo sua "ressurreição".
Seu objetivo é acabar com a corrupção, abandonar um modelo que ele chama de "neoliberal selvagem", resgatar as instituições e reorientar o papel do Estado. O meio é uma Assembléia Constituinte eleita por voto direto.
Rosto moreno e forte, terno cinza e camisa branca, Chávez governa do mesmo Palácio de Miraflores que tentou tomar à força, durante 12 horas, em 1992. E é ele mesmo quem aponta: "Ainda há marcas de balas nas paredes".
As marcas da rebelião não ficaram apenas fora do palácio. Estão também dentro, onde, além do próprio presidente, há outros rebeldes de 1992.
Um deles é o assistente pessoal de Chávez, que ele apresenta com orgulho, entre um cafezinho e outro: "Este é o comandante Cliver Alcala. Quando nos rebelamos juntos, era capitão".
Nesse ambiente, brilha um quadro a óleo, de dois metros, do ídolo maior de Chávez: Simón Bolívar, o libertador de cinco países, inclusive a Venezuela, que morreu sem ver seu sonho realizado: a constituição de uma grande nação latino-americana. Um sonho que Chávez quer retomar, criando um pólo político e econômico no continente.
Como liderou o golpe fracassado de 92 e ficou dois anos preso, suas principais preocupações são jurar que não é golpista nem está militarizando o poder político na Venezuela: "Eu sou um político. A política é apaixonante".
Seu melhor argumento é o de que foi eleito em dezembro com cerca de 56% dos votos. Mais de seis meses depois da posse, continua com cerca de 80% de aprovação popular.
Ele diz que a revolução começou, na verdade, em 1979, com o "caracazo", em que morreram no mínimo 270 pessoas. E lembra da lição de Simón Bolívar: "Maldito seja o soldado que volta sua arma contra seu próprio povo".
Falante, sonhador, populista, nacionalista, Hugo Chávez ora cita Deus, ora o diabo. Apresenta-se como católico, é casado pela segunda vez, tem quatro filhos.
Na juventude, jogava beisebol. Na prisão, sofisticou a leitura de latino-americanos e clássicos, além do manejo do gravador. Fez questão de trocar nas três vezes a fita da entrevista à Folha. Numa das rodadas do cafezinho, cantarolou. Como não poderia deixar de ser, uma canção revolucionária. Mas do século passado.


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