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PERFIL
Saiba mais sobre o presidente
venezuelano, Hugo Chávez
da enviada especial à Venezuela
Alberto Fujimori despertou a
ira internacional ao fechar Congresso e Judiciário depois de eleito presidente do Peru. Hugo Chávez desperta apostas, opiniões
conflitantes e principalmente curiosidade ao comandar um processo semelhante na Venezuela. A
diferença é que tudo que Chávez
faz hoje está dentro da lei.
Tenente-coronel reformado do
Exército, professor e mestre em
ciência política, Chávez, 45, tem
perfil, métodos e propósitos peculiares. Diz que está tirando o
país de "uma tumba podre" e
promovendo sua "ressurreição".
Seu objetivo é acabar com a corrupção, abandonar um modelo
que ele chama de "neoliberal selvagem", resgatar as instituições e
reorientar o papel do Estado. O
meio é uma Assembléia Constituinte eleita por voto direto.
Rosto moreno e forte, terno cinza e camisa branca, Chávez governa do mesmo Palácio de Miraflores que tentou tomar à força, durante 12 horas, em 1992. E é ele
mesmo quem aponta: "Ainda há
marcas de balas nas paredes".
As marcas da rebelião não ficaram apenas fora do palácio. Estão
também dentro, onde, além do
próprio presidente, há outros rebeldes de 1992.
Um deles é o assistente pessoal
de Chávez, que ele apresenta com
orgulho, entre um cafezinho e outro: "Este é o comandante Cliver
Alcala. Quando nos rebelamos
juntos, era capitão".
Nesse ambiente, brilha um quadro a óleo, de dois metros, do ídolo maior de Chávez: Simón Bolívar, o libertador de cinco países,
inclusive a Venezuela, que morreu sem ver seu sonho realizado: a
constituição de uma grande nação latino-americana. Um sonho
que Chávez quer retomar, criando um pólo político e econômico
no continente.
Como liderou o golpe fracassado de 92 e ficou dois anos preso,
suas principais preocupações são
jurar que não é golpista nem está
militarizando o poder político na
Venezuela: "Eu sou um político.
A política é apaixonante".
Seu melhor argumento é o de
que foi eleito em dezembro com
cerca de 56% dos votos. Mais de
seis meses depois da posse, continua com cerca de 80% de aprovação popular.
Ele diz que a revolução começou, na verdade, em 1979, com o
"caracazo", em que morreram no
mínimo 270 pessoas. E lembra da
lição de Simón Bolívar: "Maldito
seja o soldado que volta sua arma
contra seu próprio povo".
Falante, sonhador, populista,
nacionalista, Hugo Chávez ora cita Deus, ora o diabo. Apresenta-se
como católico, é casado pela segunda vez, tem quatro filhos.
Na juventude, jogava beisebol.
Na prisão, sofisticou a leitura de
latino-americanos e clássicos,
além do manejo do gravador. Fez
questão de trocar nas três vezes a
fita da entrevista à Folha. Numa
das rodadas do cafezinho, cantarolou. Como não poderia deixar
de ser, uma canção revolucionária. Mas do século passado.
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