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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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ONDE ESTÃO AS ARMAS?

Segundo fonte do jornal "The Independent", "eles passam o tempo cochilando e lavando roupa"

Equipe de busca vira alvo de ironias

Anja Niedringhaus - 15.abr.2003/Associated Press
Americanos exibem supostas instruções para fabricar armas químicas e biológicas, achadas em prédio do governo em Bagdá


RAYMOND WHITAKER
GLEN RANGWALA
DO "INDEPENDENT"

Eles são chamados de "buscadores" pelos colegas. Mas o que exatamente eles estão buscando? O premiê britânico, Tony Blair, espera que os "buscadores", integrantes do Grupo de Pesquisa do Iraque (GPI), encontrem armas de destruição em massa. Mas aparentemente eles não têm muito o que fazer e ainda menos o que reportar.
Cerca de 1.400 especialistas britânicos e americanos deveriam revirar o Iraque para comprovar as afirmações de Blair e do presidente dos EUA, George W. Bush, feitas antes da guerra, de que o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa.
Porém a maior parte do GPI sequer está no Iraque no momento. No país, estão 200 membros do grupo. O número inclui pessoal de apoio, tradutores e motoristas. E, mesmo assim, os investigadores que estão no Iraque realizam pouco trabalho ao visitar os locais suspeitos.
"Isso foi o que a 75ª Força Expedicionária estava fazendo e eles não pretendem refazer a tarefa", disse uma fonte em Bagdá. Outra ironizou: "Eles passam a maior parte do tempo lavando roupas e cochilando."
O GPI, ao desembarcar no Iraque no final de junho, deu início a uma tumultuada operação, conduzindo uma série de entrevistas com iraquianos que estiveram envolvidos com os programas de armamentos de Saddam. Mas os inspetores falharam ao não manter contato com muitos deles, que não foram detidos na ocasião. Um cientista nuclear entrevistado na época desapareceu desde então.
Em Washington, autoridades americanas estudam oferecer imunidade a cientistas que trabalhavam para o regime deposto e decidam falar. Eles esperam que os cientistas que afirmam que Saddam destruiu as armas de destruição em massa há mais de uma década mudem de discurso caso fiquem imunes.

Desdém
Porém, na semana passada, as declarações dos cientistas receberam um importante suporte de Hans Blix, ex-chefe dos inspetores de armas da ONU.
Blix, que se tornou mais falante após a sua aposentadoria, disse acreditar que o Iraque se desfez de suas armas ilegais após a Guerra do Golfo (1991).
Ele condenou as afirmações americanas e britânicas em relação às armas de destruição em massa. Para Blix, os governos dos dois países interpretaram além da conta esse tema.
Sobre o grupo que substituiu os seus inspetores, Blix disse com desdém: "No início, eles falavam sobre as armas. Depois, sobre os programas de armamentos. Talvez encontrem alguns documentos de interesse."
Confrontado pelo desdém do ex-chefe dos inspetores da ONU, Londres pediu que as pessoas em dúvida esperem que o GPI complete o seu trabalho. Blair acredita que o trabalho do grupo se encerrará em semanas e oferecerá provas concretas de que Saddam possuía armas de destruição em massa, disse um membro do governo. Ele acrescentou que "importantes descobertas eliminarão as dúvidas".
Porém a equipe do GPI parece não saber em que resultará o seu trabalho. Os resultados das primeiras buscas e entrevistas foram entregues ao "centro de análise" no Qatar. Desde então, o retorno tem diminuído. A equipe no Iraque tem recebido pouca orientação do centro no Qatar.
Quando o relatório estiver pronto, quem vai divulgá-lo será o Pentágono. O governo americano decidirá ainda quais partes serão divulgadas e quando. Rumores dizem que há tão pouco para mostrar do trabalho do GPI que talvez o relatório nunca seja tornado público.
Certamente o principal foco do trabalho do GPI não aponta para novas grandes revelações. Está se concentrando em programas de armamentos antigos, com a maior parte dos documentos sendo de uma época anterior à Guerra do Golfo. A outra importante ênfase está em como instalações específicas foram desviadas de fins civis para a produção de armas proibidas.
Tudo isso, no entanto, é especulação e nada do que pregava a retórica do período anterior à guerra deve ser esperada pelos públicos americano e britânico. Um exemplo disso são os aviões não-tripulados que os iraquianos utilizariam para lançar armas químicas e biológicas contra os americanos.
"O Iraque possui aviões não-tripulados que podem dispersar armas químicas e biológicas", disse Bush em outubro do ano passado. "Estamos preocupados que o Iraque explore maneiras de utilizar esses aviões em missões contra os EUA", acrescentou. Seu vice, Dick Cheney, repetiu a ameaça a congressistas.
Em fevereiro, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse ao Conselho de Segurança da ONU: "O Iraque desenvolveu aparatos que podem ser usados nos aviões não-tripulados."
Porém reportagem do diário americano "The Wall Street Journal" revelou na semana passada que a Força Aérea dos EUA, após estudar os aviões não-tripulados do Iraque, concluiu que eles eram muito pequenos e mal equipados para realizar as ações mencionadas pelas autoridades americanas.


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