São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

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Cubano inventa "puxadinho vertical" para sobreviver

Moradores empilham cômodos, aproveitando pé direito alto dos prédios

População se espreme para liberar imóveis que serão alugados para turistas que trazem dólares à ilha caribenha

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA (CUBA)

Um dos símbolos da Revolução Cubana de 1959 foi a divisão dos amplos sobrados ocupados pela burguesia nacional. Viraram habitações coletivas. Onde morava uma família passaram a morar cinco ou seis.
Mas, agora, multiplica-se pela cidade de Havana um outro jeito de dividir as casas. Aproveitando os pés direitos altíssimos das edificações antigas, os cubanos cada vez mais empilham dois cômodos onde havia apenas um.
Em vez dos 3,8 m médios de pé direito, passam a ser dois cômodos: um com 2 m de altura e outro com 1,5 m, por exemplo.
O sobrinho de Angel B., 15 anos e 1,80 m de estatura, não consegue ficar de pé no próprio quarto. Entra e sai encurvado. Usa o cômodo só para dormir.
Angel B. é um professor de física aposentado. Há 23 anos, ele recebeu um confortável apartamento de quarto, cozinha, banheiro (com água quente e fria) e terraço no bairro de Vedado, a dois quarteirões da Universidade de Havana, onde trabalhava.
Hoje, o físico e sua mulher se espremem na casa da irmã dele, no centro velho, onde se dividiu o "espaço aéreo".
O apartamento no Vedado, mobiliado, agora é alugado para turistas a 25 pesos conversíveis por dia -750 por mês (cerca de R$ 1.200). Inclui água, luz e telefone.
A família do físico pretende dessa forma juntar o dinheiro necessário para abrir um pequeno negócio, "uma cafeteria, talvez", ele diz.
A expectativa é aproveitar a deixa dada pelo governo cubano que, no último dia 13, anunciou uma ampla reforma econômica no país.

FAMÍLIA EXTENSA
Pela primeira vez desde 1968, quando o regime nacionalizou toda a economia, até carrinhos de cachorro quente, serão permitidos trabalhos por conta própria em 124 ocupações.
A ideia é que o setor privado recém-renascido absorva 500 mil trabalhadores estatais (10% da força de trabalho), que devem ser demitidos nos próximos seis meses.
O cubano médio trabalha com a cifra mágica de US$ 1.000 (R$ 1.720) de investimento inicial, embora o governo ainda não tenha explicado as regras do jogo.
Além de alugar os apartamentos para turistas, outra grande expectativa para conseguir os recursos está nos exilados cubanos nos EUA.
"A família cubana é extensa -inclui primos, cunhados, netos-, todos muito ligados, que poderão investir suas economias americanas em Cuba", acredita a dentista Minerva S., vestida com camiseta falsificada da grife American Eagle.
Calcula-se em 2 milhões o número de cubanos que vivem fora do país.
Todos esses "estrangeiros" Fidel chamou de vermes, contrarrevolucionários, degenerados, porcos capitalistas etc. quando fugiram do país em balsas para Miami.
Sinal dos tempos, o governo cubano, agora, estende tapete vermelho para os antigos "vermes".
No aeroporto de Havana, até o início do governo Obama, havia apenas o terminal 2 para receber passageiros provenientes dos EUA.
Na esperança de que sejam afrouxadas as restrições americanas às viagens a Cuba, já está em construção o terminal 5, e o 2 passa por uma grande reforma, com o objetivo de melhorar a acolhida de exilados cheios de saudades e dólares.


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