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Cubano inventa "puxadinho vertical" para sobreviver
Moradores empilham cômodos, aproveitando pé direito alto dos prédios
População se espreme para liberar imóveis que serão alugados para turistas que trazem dólares à ilha caribenha
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA (CUBA)
Um dos símbolos da Revolução Cubana de 1959 foi a divisão dos amplos sobrados
ocupados pela burguesia nacional. Viraram habitações
coletivas. Onde morava uma
família passaram a morar
cinco ou seis.
Mas, agora, multiplica-se
pela cidade de Havana um
outro jeito de dividir as casas.
Aproveitando os pés direitos
altíssimos das edificações
antigas, os cubanos cada vez
mais empilham dois cômodos onde havia apenas um.
Em vez dos 3,8 m médios
de pé direito, passam a ser
dois cômodos: um com 2 m
de altura e outro com 1,5 m,
por exemplo.
O sobrinho de Angel B., 15
anos e 1,80 m de estatura,
não consegue ficar de pé no
próprio quarto. Entra e sai
encurvado. Usa o cômodo só
para dormir.
Angel B. é um professor de
física aposentado. Há 23
anos, ele recebeu um confortável apartamento de quarto,
cozinha, banheiro (com água
quente e fria) e terraço no
bairro de Vedado, a dois
quarteirões da Universidade
de Havana, onde trabalhava.
Hoje, o físico e sua mulher
se espremem na casa da irmã
dele, no centro velho, onde
se dividiu o "espaço aéreo".
O apartamento no Vedado, mobiliado, agora é alugado para turistas a 25 pesos
conversíveis por dia -750
por mês (cerca de R$ 1.200).
Inclui água, luz e telefone.
A família do físico pretende dessa forma juntar o dinheiro necessário para abrir
um pequeno negócio, "uma
cafeteria, talvez", ele diz.
A expectativa é aproveitar
a deixa dada pelo governo
cubano que, no último dia 13,
anunciou uma ampla reforma econômica no país.
FAMÍLIA EXTENSA
Pela primeira vez desde
1968, quando o regime nacionalizou toda a economia, até
carrinhos de cachorro quente, serão permitidos trabalhos por conta própria em 124
ocupações.
A ideia é que o setor privado recém-renascido absorva
500 mil trabalhadores estatais (10% da força de trabalho), que devem ser demitidos nos próximos seis meses.
O cubano médio trabalha
com a cifra mágica de US$
1.000 (R$ 1.720) de investimento inicial, embora o governo ainda não tenha explicado as regras do jogo.
Além de alugar os apartamentos para turistas, outra
grande expectativa para conseguir os recursos está nos
exilados cubanos nos EUA.
"A família cubana é extensa -inclui primos, cunhados, netos-, todos muito ligados, que poderão investir
suas economias americanas
em Cuba", acredita a dentista Minerva S., vestida com
camiseta falsificada da grife
American Eagle.
Calcula-se em 2 milhões o
número de cubanos que vivem fora do país.
Todos esses "estrangeiros" Fidel chamou de vermes, contrarrevolucionários,
degenerados, porcos capitalistas etc. quando fugiram do
país em balsas para Miami.
Sinal dos tempos, o governo cubano, agora, estende
tapete vermelho para os antigos "vermes".
No aeroporto de Havana,
até o início do governo Obama, havia apenas o terminal
2 para receber passageiros
provenientes dos EUA.
Na esperança de que sejam afrouxadas as restrições
americanas às viagens a Cuba, já está em construção o
terminal 5, e o 2 passa por
uma grande reforma, com o
objetivo de melhorar a acolhida de exilados cheios de
saudades e dólares.
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