São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

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Pesquisador do Zimbábue espera mudança

DE SÃO PAULO

Jabulani Moyo é um pseudônimo. Aos 41 anos, esse professor de ciência política do Zimbábue ocupa atualmente uma posição temporária de pesquisador na Universidade de Cape Town, na África do Sul.
Esse intervalo produtivo, fruto da articulação e das negociações da ONG Scholars at Risk (Pesquisadores em perigo), funciona como um refúgio enquanto aguarda sua transferência, em novembro, para a Universidade de Tilburg, na Holanda.
Moyo aceitou participar desta reportagem, mas prefere não dar seu nome verdadeiro à Folha.
"O restante de minha família ainda está em nosso país, não posso fazê-los correr este risco", afirma.
"Uma legislação restritiva do trabalho dos pesquisadores tem sido implementada nos últimos 15 anos", conta Moyo por e-mail.
Segundo o pesquisador, uma lei chamada Public Order and Security Act (Ato de Ordem Pública e Segurança, na tradução do inglês) praticamente proíbe o trabalho de coleta de dados.
Sob essa lei, mais de três pessoas reunidas num mesmo local caracterizam um "agrupamento", ou seja, uma "reunião ilegal".
Automaticamente, fica quase impossível organizar seminários, conferências, ou qualquer tipo de workshop acadêmico.
"Quer dizer, é possível conseguir uma autorização especial da polícia, mas depois de dois meses de espera pela resposta, mesmo para o caso de um workshop dentro da faculdade com duração prevista de uma hora, essa resposta ainda pode ser negativa", conta.
Moyo afirma ainda que uma segunda lei impede definitivamente seu trabalho como cientista político: o Access to Information and Privacy Protection Act (Ato de Acesso à Informação e Proteção da Privacidade, na tradução do inglês).
Essa legislação torna ilegal qualquer crítica ao presidente Robert Mugabe e a seu governo.
"Como um cientista social, como é o meu caso, pode escrever um artigo sobre a crise política que vivemos sem ser crítico ao regime atual?", questiona Moyo.
No Zimbábue, o presidente Mugabe também se autodesignou presidente de todas as universidades estatais do país (as instituições públicas são as maiores, com mais recursos e mais prestigiosas).
"Mugabe indica todos os reitores, diretores de universidades e de departamentos, ficando assim com o controle completo do fluxo de pesquisa e informação", explica o zimbabuano.

ASSUNTO PERIGOSO
Moyo ocupava uma cadeira de ciência política na Universidade do Zimbábue.
"Provavelmente, o assunto mais perigoso para se ensinar hoje em dia no meu país", sentencia. "Pedi ajuda quando comecei a identificar "estranhos" em minhas aulas, a receber telefonemas ameaçadores, a ser seguido nas ruas. Fui preso e torturado inúmeras vezes."
Moyo espera desde maio, ao lado de sua mulher e dois filhos, de 1 e 3 anos, a mudança para a Europa, para cumprir seu período de bolsa de, inicialmente, um ano.
"O curso que vou dar é sobre justiça social e direitos humanos na África", diz. Ele terá o que contar.


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