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Pesquisador do Zimbábue espera mudança
DE SÃO PAULO
Jabulani Moyo é um pseudônimo. Aos 41 anos, esse
professor de ciência política
do Zimbábue ocupa atualmente uma posição temporária de pesquisador na Universidade de Cape Town, na
África do Sul.
Esse intervalo produtivo,
fruto da articulação e das negociações da ONG Scholars
at Risk (Pesquisadores em
perigo), funciona como um
refúgio enquanto aguarda
sua transferência, em novembro, para a Universidade
de Tilburg, na Holanda.
Moyo aceitou participar
desta reportagem, mas prefere não dar seu nome verdadeiro à Folha.
"O restante de minha família ainda está em nosso país,
não posso fazê-los correr este
risco", afirma.
"Uma legislação restritiva
do trabalho dos pesquisadores tem sido implementada
nos últimos 15 anos", conta
Moyo por e-mail.
Segundo o pesquisador,
uma lei chamada Public Order and Security Act (Ato de
Ordem Pública e Segurança,
na tradução do inglês) praticamente proíbe o trabalho de
coleta de dados.
Sob essa lei, mais de três
pessoas reunidas num mesmo local caracterizam um
"agrupamento", ou seja,
uma "reunião ilegal".
Automaticamente, fica
quase impossível organizar
seminários, conferências, ou
qualquer tipo de workshop
acadêmico.
"Quer dizer, é possível
conseguir uma autorização
especial da polícia, mas depois de dois meses de espera
pela resposta, mesmo para o
caso de um workshop dentro
da faculdade com duração
prevista de uma hora, essa
resposta ainda pode ser negativa", conta.
Moyo afirma ainda que
uma segunda lei impede definitivamente seu trabalho
como cientista político: o Access to Information and Privacy Protection Act (Ato de
Acesso à Informação e Proteção da Privacidade, na tradução do inglês).
Essa legislação torna ilegal qualquer crítica ao presidente Robert Mugabe e a seu
governo.
"Como um cientista social,
como é o meu caso, pode escrever um artigo sobre a crise
política que vivemos sem ser
crítico ao regime atual?",
questiona Moyo.
No Zimbábue, o presidente Mugabe também se autodesignou presidente de todas
as universidades estatais do
país (as instituições públicas
são as maiores, com mais recursos e mais prestigiosas).
"Mugabe indica todos os
reitores, diretores de universidades e de departamentos,
ficando assim com o controle
completo do fluxo de pesquisa e informação", explica o
zimbabuano.
ASSUNTO PERIGOSO
Moyo ocupava uma cadeira de ciência política na Universidade do Zimbábue.
"Provavelmente, o assunto mais perigoso para se ensinar hoje em dia no meu
país", sentencia. "Pedi ajuda
quando comecei a identificar
"estranhos" em minhas aulas,
a receber telefonemas ameaçadores, a ser seguido nas
ruas. Fui preso e torturado
inúmeras vezes."
Moyo espera desde maio,
ao lado de sua mulher e dois
filhos, de 1 e 3 anos, a mudança para a Europa, para
cumprir seu período de bolsa
de, inicialmente, um ano.
"O curso que vou dar é sobre justiça social e direitos
humanos na África", diz. Ele
terá o que contar.
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