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São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2003

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Doação é desperdício, diz ativista americana

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

A precária situação de segurança no Iraque e a concentração de contratos por empresas dos EUA devem fazer com que boa parte dos US$ 15 bilhões obtidos pelos EUA para a reconstrução seja desperdiçada, diz a economista e ativista americana Medea Benjamin.
Ex-funcionária da ONU, fundadora da organização de direitos humanos Global Exchange e da Occupation Watch, ONG que "monitora" a ocupação do Iraque, Benjamin, 51, esteve no Iraque três vezes neste ano.
Seguem trechos da entrevista que ela deu à Folha por telefone de sua casa, em São Francisco.
 

Folha - Como a sra. vê a conferência de doadores para arrecadar dinheiro para o Iraque?
Medea Benjamin -
A comunidade internacional não deveria dar dinheiro enquanto os EUA continuassem no comando [do Iraque]. Faria muito mais sentido pressionar os EUA para acelerar a transição para um governo iraquiano e aí sim doar dinheiro.

Folha - A sra. crê que o governo dos EUA mudaria sua posição diante desse tipo de pressão?
Benjamin -
Infelizmente, não. Os EUA têm muita habilidade em pressionar outros países para dar dinheiro. Muito do dinheiro doado é porque os EUA estão negociando outros tipos de acordos ou prometendo favores.

Folha - Mas o Banco Mundial diz que a reconstrução deve reparar 20 anos de negligência...
Benjamin -
Sim, certamente [o ex-ditador] Saddam Hussein negligenciou muito a infra-estrutura básica, e houve 13 anos de sanções. Mas, neste momento, o dinheiro dado ao Iraque não será bem usado, pois cada obra maior de infra-estrutura estará sujeita à sabotagem por gente insatisfeita com a presença americana. Também há um enorme desperdício se olharmos para quantos contratos estão sendo dados a empresas americanas, que gastam dez vezes mais dinheiro do que uma empresa iraquiana gastaria.

Folha - Os EUA estão tentando implantar a economia de mercado no Iraque de uma hora para a outra?
Benjamin -
Sim, é o que o ministro do Comércio iraquiano chamou de "terapia de choque". Só que os iraquianos já tiveram muitos choques em seu sistema. A situação hoje é de crise de emprego, mercado disfuncional e segurança caótica. Dizer, sob essas circunstâncias, que serão dadas vantagens para empresas estrangeiras -e nenhuma prioridade para as empresas iraquianas- será devastador, já está sendo devastador, para a economia iraquiana.


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