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Doação é desperdício, diz ativista americana
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
A precária situação de segurança no Iraque e a concentração de
contratos por empresas dos EUA
devem fazer com que boa parte
dos US$ 15 bilhões obtidos pelos
EUA para a reconstrução seja desperdiçada, diz a economista e ativista americana Medea Benjamin.
Ex-funcionária da ONU, fundadora da organização de direitos
humanos Global Exchange e da
Occupation Watch, ONG que
"monitora" a ocupação do Iraque, Benjamin, 51, esteve no Iraque três vezes neste ano.
Seguem trechos da entrevista
que ela deu à Folha por telefone
de sua casa, em São Francisco.
Folha - Como a sra. vê a conferência de doadores para arrecadar dinheiro para o Iraque?
Medea Benjamin -A comunidade internacional não deveria dar
dinheiro enquanto os EUA continuassem no comando [do Iraque]. Faria muito mais sentido
pressionar os EUA para acelerar a
transição para um governo iraquiano e aí sim doar dinheiro.
Folha - A sra. crê que o governo
dos EUA mudaria sua posição diante desse tipo de pressão?
Benjamin - Infelizmente, não. Os
EUA têm muita habilidade em
pressionar outros países para dar
dinheiro. Muito do dinheiro doado é porque os EUA estão negociando outros tipos de acordos ou
prometendo favores.
Folha - Mas o Banco Mundial diz
que a reconstrução deve reparar 20
anos de negligência...
Benjamin - Sim, certamente [o
ex-ditador] Saddam Hussein negligenciou muito a infra-estrutura
básica, e houve 13 anos de sanções. Mas, neste momento, o dinheiro dado ao Iraque não será
bem usado, pois cada obra maior
de infra-estrutura estará sujeita à
sabotagem por gente insatisfeita
com a presença americana. Também há um enorme desperdício
se olharmos para quantos contratos estão sendo dados a empresas
americanas, que gastam dez vezes
mais dinheiro do que uma empresa iraquiana gastaria.
Folha - Os EUA estão tentando implantar a economia de mercado no
Iraque de uma hora para a outra?
Benjamin - Sim, é o que o ministro do Comércio iraquiano chamou de "terapia de choque". Só
que os iraquianos já tiveram muitos choques em seu sistema. A situação hoje é de crise de emprego,
mercado disfuncional e segurança caótica. Dizer, sob essas circunstâncias, que serão dadas vantagens para empresas estrangeiras -e nenhuma prioridade para
as empresas iraquianas- será
devastador, já está sendo devastador, para a economia iraquiana.
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