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XENOFOBIA
No cenário político pós-atentados, nacionalistas e extremistas ampliam base de apoio
Terror revigora extrema direita européia
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
Partidos políticos de extrema
direita e militantes nacionalistas
da Europa têm enxergado os
eventos pós-11 de setembro como
uma oportunidade para ampliar
seu eleitorado e sua base de apoio.
E o ódio aos muçulmanos do velho continente está no topo da lista da nova plataforma política.
Os atentados em Nova York e
Washington podem ter dado à extrema direita o empurrão com o
qual sonhavam para que suas
propostas de restrição à imigração ganhassem maior aceitação.
A subida ao poder de um bloco
de direita na Dinamarca, vitorioso em eleições na semana passada, é o primeiro exemplo prático
do efeito do 11 de setembro nas
urnas européias. Pela primeira
vez em 80 anos os social-democratas dinamarqueses foram desbancados por uma coalizão conservadora, que, embora não seja
extremista, prega a limitação da
entrada de asilados e refugiados.
Analistas políticos dizem que os
planos que países da União Européia (UE) tinham no início do ano
de abrir suas fronteiras para permitir a entrada de mais trabalhadores estrangeiros serão reconsiderados à luz dos novos acontecimentos. Agora, com a economia
prejudicada e preocupados com a
segurança, seus governantes estariam mais propensos a construir
uma "Europa-fortaleza".
"É provável que os Estados fiquem mais vigilantes, propensos
a defender medidas contra idéias
mais liberais e também a priorizar
a segurança sobre outros direitos", diz Paul Hainsworth, autor
de "The Extreme Right in Europe
and the USA" (a extrema direita
na Europa e nos EUA).
É exatamente o que defendem
os movimentos neonazistas e partidos políticos da extrema direita
em lugares como a Áustria ou a
Alemanha. Na semana seguinte
ao 11 de setembro, o extremista
Partido Nacional Democrático
alemão defendeu a adoção de medidas repressivas contra a população islâmica do país (cerca de 3,2
milhões de pessoas, em grande
parte vindas da Turquia).
O polêmico líder de extrema direita austríaco Jörg Haider, governador da Província da Caríntia,
que já fez declarações elogiosas
sobre o nazismo, também tenta
capitalizar politicamente sobre as
novas perspectivas geopolíticas.
Argumenta que suas propostas
contrárias à entrada de imigrantes e refugiados na Áustria agora
foram provadas corretas. No final
de setembro, Haider disse que
não-europeus deveriam ser proibidos de buscar asilo no seu país.
Na Suécia, onde a política liberal
de asilo político levou à criação de
uma relativamente grande comunidade muçulmana (sobretudo
curdos), grupos extremistas partiram para a provocação racial. Os
Democratas Suecos, partido de
extrema direita, escreveram no
seu jornal "SD-Kurier" que os
"ataques terroristas mostram claramente como o islamismo é uma
religião perigosa".
A Dinamarca talvez seja o país
onde o movimento contra muçulmanos tenha ganhado mais força.
"Dois partidos populistas de direita estão competindo para ver
qual consegue ser mais antimuçulmano após o 11 de setembro",
disse à Folha, por e-mail, Tore
Bjorgo, especialista em extrema
direita do Instituto Norueguês
para Assuntos Internacionais.
De fato, a plataforma política se
provou vitoriosa. O DPP (Partido
Popular Dinamarquês), de extrema direita, elevou a sua votação
de 7,4% do eleitorado para 12%.
O novo premiê, o liberal de centro-direita Anders Fogh Rasmussen, 48, não deve incluir o DPP diretamente em seu gabinete, para
evitar retaliações de seus vizinhos
na Europa. Apesar disso, planeja
contar com os votos da bancada
extremista para aprovar leis draconianas contra a imigração.
Bjorgo acredita haver forte possibilidade de um aumento dos
sentimentos xenófobos na Europa, principalmente contra islâmicos, em consequência dos atentados nos EUA. "Isso se dá em parte
devido ao medo entre grande parte da população de que militantes
muçulmanos e células terroristas
estejam se escondendo entre as
suas minorias muçulmanas", diz.
Reino Unido
A militância da direita radical
contra os quase 2 milhões de habitantes muçulmanos já começa a
preocupar as autoridades do Reino Unido. O British National
Party (BNP, Partido Nacional Britânico), principal partido de extrema direita, é alvo de investigação policial por incitar a violência.
"Tentamos prestar um serviço
aos britânicos brancos nativos
que estão em perigo, em razão do
extremismo islâmico", disse Phil
Edwards, porta-voz do BNP.
"O sucesso do BNP vai depender de sua habilidade em explorar
o assunto", observa o professor
da Universidade do Ulster Paul
Hainsworth, autor de livros sobre
a extrema direita na Europa.
"Uma campanha cruel não funcionaria. Mas uma mostrando o
islamismo como religião ameaçadora, simpática a Bin Laden -seja ou não verdade-, deve conquistar novos recrutas ao BNP."
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