São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2001

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XENOFOBIA

No cenário político pós-atentados, nacionalistas e extremistas ampliam base de apoio

Terror revigora extrema direita européia

MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES

Partidos políticos de extrema direita e militantes nacionalistas da Europa têm enxergado os eventos pós-11 de setembro como uma oportunidade para ampliar seu eleitorado e sua base de apoio. E o ódio aos muçulmanos do velho continente está no topo da lista da nova plataforma política.
Os atentados em Nova York e Washington podem ter dado à extrema direita o empurrão com o qual sonhavam para que suas propostas de restrição à imigração ganhassem maior aceitação.
A subida ao poder de um bloco de direita na Dinamarca, vitorioso em eleições na semana passada, é o primeiro exemplo prático do efeito do 11 de setembro nas urnas européias. Pela primeira vez em 80 anos os social-democratas dinamarqueses foram desbancados por uma coalizão conservadora, que, embora não seja extremista, prega a limitação da entrada de asilados e refugiados.
Analistas políticos dizem que os planos que países da União Européia (UE) tinham no início do ano de abrir suas fronteiras para permitir a entrada de mais trabalhadores estrangeiros serão reconsiderados à luz dos novos acontecimentos. Agora, com a economia prejudicada e preocupados com a segurança, seus governantes estariam mais propensos a construir uma "Europa-fortaleza".
"É provável que os Estados fiquem mais vigilantes, propensos a defender medidas contra idéias mais liberais e também a priorizar a segurança sobre outros direitos", diz Paul Hainsworth, autor de "The Extreme Right in Europe and the USA" (a extrema direita na Europa e nos EUA).
É exatamente o que defendem os movimentos neonazistas e partidos políticos da extrema direita em lugares como a Áustria ou a Alemanha. Na semana seguinte ao 11 de setembro, o extremista Partido Nacional Democrático alemão defendeu a adoção de medidas repressivas contra a população islâmica do país (cerca de 3,2 milhões de pessoas, em grande parte vindas da Turquia).
O polêmico líder de extrema direita austríaco Jörg Haider, governador da Província da Caríntia, que já fez declarações elogiosas sobre o nazismo, também tenta capitalizar politicamente sobre as novas perspectivas geopolíticas.
Argumenta que suas propostas contrárias à entrada de imigrantes e refugiados na Áustria agora foram provadas corretas. No final de setembro, Haider disse que não-europeus deveriam ser proibidos de buscar asilo no seu país.
Na Suécia, onde a política liberal de asilo político levou à criação de uma relativamente grande comunidade muçulmana (sobretudo curdos), grupos extremistas partiram para a provocação racial. Os Democratas Suecos, partido de extrema direita, escreveram no seu jornal "SD-Kurier" que os "ataques terroristas mostram claramente como o islamismo é uma religião perigosa".
A Dinamarca talvez seja o país onde o movimento contra muçulmanos tenha ganhado mais força. "Dois partidos populistas de direita estão competindo para ver qual consegue ser mais antimuçulmano após o 11 de setembro", disse à Folha, por e-mail, Tore Bjorgo, especialista em extrema direita do Instituto Norueguês para Assuntos Internacionais.
De fato, a plataforma política se provou vitoriosa. O DPP (Partido Popular Dinamarquês), de extrema direita, elevou a sua votação de 7,4% do eleitorado para 12%.
O novo premiê, o liberal de centro-direita Anders Fogh Rasmussen, 48, não deve incluir o DPP diretamente em seu gabinete, para evitar retaliações de seus vizinhos na Europa. Apesar disso, planeja contar com os votos da bancada extremista para aprovar leis draconianas contra a imigração.
Bjorgo acredita haver forte possibilidade de um aumento dos sentimentos xenófobos na Europa, principalmente contra islâmicos, em consequência dos atentados nos EUA. "Isso se dá em parte devido ao medo entre grande parte da população de que militantes muçulmanos e células terroristas estejam se escondendo entre as suas minorias muçulmanas", diz.

Reino Unido
A militância da direita radical contra os quase 2 milhões de habitantes muçulmanos já começa a preocupar as autoridades do Reino Unido. O British National Party (BNP, Partido Nacional Britânico), principal partido de extrema direita, é alvo de investigação policial por incitar a violência.
"Tentamos prestar um serviço aos britânicos brancos nativos que estão em perigo, em razão do extremismo islâmico", disse Phil Edwards, porta-voz do BNP.
"O sucesso do BNP vai depender de sua habilidade em explorar o assunto", observa o professor da Universidade do Ulster Paul Hainsworth, autor de livros sobre a extrema direita na Europa.
"Uma campanha cruel não funcionaria. Mas uma mostrando o islamismo como religião ameaçadora, simpática a Bin Laden -seja ou não verdade-, deve conquistar novos recrutas ao BNP."


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