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Le Pen diz que atentados provam
a "justeza" de seu ponto de vista
DE PARIS
A crise mundial tem sido um
alento para o líder francês de extrema direita Jean-Marie Le Pen,
presidente da Frente Nacional.
Nos últimos dias, ele está festejando os 11% que atingiu em pesquisa de intenção de voto do instituto Sofres para a eleição presidencial de 2002. É um número expressivo, que o coloca em terceiro
lugar, atrás apenas do atual presidente, Jacques Chirac (centro-direita), e do primeiro-ministro
Lionel Jospin (centro-esquerda).
Pode ser um índice passageiro,
mas Le Pen, 73, saiu do fundo do
poço depois dos atentados aos
EUA. "Quando os eventos vêm e
provam a justeza do meu ponto
de vista, as pessoas pensam: "Le
Pen tem razão'", diz ele. Leia a seguir trechos da entrevista.
(ALCINO LEITE NETO)
Folha - Como a crise mundial beneficia o sr. politicamente?
Jean-Marie Le Pen - O que houve
foi a adequação dos eventos com
minhas análises precedentes, pois
há vários anos eu sublinho a degradação da situação no domínio
da segurança, da imigração, do
desemprego, da corrupção. Então, quando os eventos vêm e provam a justeza do meu ponto de
vista, as pessoas pensam: "Le Pen
tem razão". No que me concerne,
acho que o governo francês deixou entrar muitos estrangeiros
nos últimos anos, e o seu grande
número, em comparação com os
nacionais, permite a formação de
grupos específicos e impede a assimilação. Quando essa imigração parte de uma civilização dinâmica, como é o islã hoje, sob os
efeitos da pressão demográfica, o
fenômeno parece mais uma invasão do que uma integração.
Folha - Está ocorrendo uma invasão da Europa pelos muçulmanos?
Le Pen - Não apenas por eles. E,
embora não seja uma invasão voluntária, é uma invasão de fato. A
imigração na França é praticamente livre. Dadas as diferenças
sociais entre a Europa e o resto do
mundo, é evidente que todos querem viver aqui.
Folha - O sr. mudou sua plataforma política após os atentados?
Le Pen - Não particularmente. O
que eu previ [risos", depois de décadas se produziu. Eu não estou
surpreso que a chuva seja úmida.
Folha - O sr. prevê também uma
guerra de religiões?
Le Pen - Não digo que ela não seja possível, mas eu não creio numa guerra de religiões. Eu digo
que os americanos mantêm com
o islã uma política ambígua depois de anos. São eles que encorajam a entrada da Turquia na Europa, que são os amigos dos países mais muçulmanos do mundo,
a saber, a Arábia Saudita e o Paquistão. Foram eles também que
destruíram o único país árabe laico que era o Iraque. Sem falar que
Bin Laden foi um de seus agentes.
Em resumo, depois de tudo, eles
colhem os frutos de sua política.
Folha - A Frente Nacional é mais
antiamericana ou antimuçulmana?
Le Pen - Nós não somos nem um
nem outro. Não temos razão para
sermos antimuçulmanos. A França foi uma potência islâmica, se é
que se pode dizer isso, pois teve
um grande papel no Oriente Próximo e Médio. Nós somos contra
o que nos ameaça. Ora, quanto
aos EUA, trata-se de um país amigo, mas com o qual nós não devemos dividir a responsabilidade de
sua conduta internacional.
Folha - O sr. acha que o terrorismo deve ser condenado?
Le Pen - Qual é a definição de
terrorismo? Formulei uma noutro dia: o terrorismo é a ação violenta exercida sobre populações
civis com o objetivo de chegar ao
poder ou conservá-lo. Pode-se dizer que, no caso do WTC, houve
um ato evidente de terrorismo,
mas a morte de 1 milhão de crianças no Iraque pelo bloqueio econômico é um ato terrorista.
Folha - O sr. está defendendo o
ato terrorista cometido contra os
EUA em 11 de setembro?
Le Pen - Não, eu apenas tento ser
objetivo. Eu não me julgo obrigado a estar num outro terreno que
não seja o do meu país.
Folha - É fato que membros da
Frente Nacional comemoraram a
destruição do WTC?
Le Pen -Não. Foram três rapazes
que tomaram champanhe em
nossos escritórios, mas que não
representam o movimento. Foi
uma ação ridícula e mesmo odiosa, pela qual a Frente Nacional
não é responsável. Dito isso, no
entanto, não me surpreende que
os palestinos ou os iraquianos não
tenham sucumbido à tristeza
quando viram os americanos sofrerem uma derrota. Nesse campo, não é preciso ser egocêntrico.
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