São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2001

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Le Pen diz que atentados provam a "justeza" de seu ponto de vista

DE PARIS

A crise mundial tem sido um alento para o líder francês de extrema direita Jean-Marie Le Pen, presidente da Frente Nacional.
Nos últimos dias, ele está festejando os 11% que atingiu em pesquisa de intenção de voto do instituto Sofres para a eleição presidencial de 2002. É um número expressivo, que o coloca em terceiro lugar, atrás apenas do atual presidente, Jacques Chirac (centro-direita), e do primeiro-ministro Lionel Jospin (centro-esquerda).
Pode ser um índice passageiro, mas Le Pen, 73, saiu do fundo do poço depois dos atentados aos EUA. "Quando os eventos vêm e provam a justeza do meu ponto de vista, as pessoas pensam: "Le Pen tem razão'", diz ele. Leia a seguir trechos da entrevista. (ALCINO LEITE NETO)

Folha - Como a crise mundial beneficia o sr. politicamente?
Jean-Marie Le Pen -
O que houve foi a adequação dos eventos com minhas análises precedentes, pois há vários anos eu sublinho a degradação da situação no domínio da segurança, da imigração, do desemprego, da corrupção. Então, quando os eventos vêm e provam a justeza do meu ponto de vista, as pessoas pensam: "Le Pen tem razão". No que me concerne, acho que o governo francês deixou entrar muitos estrangeiros nos últimos anos, e o seu grande número, em comparação com os nacionais, permite a formação de grupos específicos e impede a assimilação. Quando essa imigração parte de uma civilização dinâmica, como é o islã hoje, sob os efeitos da pressão demográfica, o fenômeno parece mais uma invasão do que uma integração.

Folha - Está ocorrendo uma invasão da Europa pelos muçulmanos?
Le Pen -
Não apenas por eles. E, embora não seja uma invasão voluntária, é uma invasão de fato. A imigração na França é praticamente livre. Dadas as diferenças sociais entre a Europa e o resto do mundo, é evidente que todos querem viver aqui.

Folha - O sr. mudou sua plataforma política após os atentados?
Le Pen -
Não particularmente. O que eu previ [risos", depois de décadas se produziu. Eu não estou surpreso que a chuva seja úmida.

Folha - O sr. prevê também uma guerra de religiões?
Le Pen -
Não digo que ela não seja possível, mas eu não creio numa guerra de religiões. Eu digo que os americanos mantêm com o islã uma política ambígua depois de anos. São eles que encorajam a entrada da Turquia na Europa, que são os amigos dos países mais muçulmanos do mundo, a saber, a Arábia Saudita e o Paquistão. Foram eles também que destruíram o único país árabe laico que era o Iraque. Sem falar que Bin Laden foi um de seus agentes. Em resumo, depois de tudo, eles colhem os frutos de sua política.

Folha - A Frente Nacional é mais antiamericana ou antimuçulmana?
Le Pen -
Nós não somos nem um nem outro. Não temos razão para sermos antimuçulmanos. A França foi uma potência islâmica, se é que se pode dizer isso, pois teve um grande papel no Oriente Próximo e Médio. Nós somos contra o que nos ameaça. Ora, quanto aos EUA, trata-se de um país amigo, mas com o qual nós não devemos dividir a responsabilidade de sua conduta internacional.

Folha - O sr. acha que o terrorismo deve ser condenado?
Le Pen -
Qual é a definição de terrorismo? Formulei uma noutro dia: o terrorismo é a ação violenta exercida sobre populações civis com o objetivo de chegar ao poder ou conservá-lo. Pode-se dizer que, no caso do WTC, houve um ato evidente de terrorismo, mas a morte de 1 milhão de crianças no Iraque pelo bloqueio econômico é um ato terrorista.

Folha - O sr. está defendendo o ato terrorista cometido contra os EUA em 11 de setembro?
Le Pen -
Não, eu apenas tento ser objetivo. Eu não me julgo obrigado a estar num outro terreno que não seja o do meu país.

Folha - É fato que membros da Frente Nacional comemoraram a destruição do WTC?
Le Pen -
Não. Foram três rapazes que tomaram champanhe em nossos escritórios, mas que não representam o movimento. Foi uma ação ridícula e mesmo odiosa, pela qual a Frente Nacional não é responsável. Dito isso, no entanto, não me surpreende que os palestinos ou os iraquianos não tenham sucumbido à tristeza quando viram os americanos sofrerem uma derrota. Nesse campo, não é preciso ser egocêntrico.


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