São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ECONOMIA

Obama não fixa valor de resgate

Presidente eleito confirma Timothy Geithner no Tesouro e delineia plano econômico, mas evita dar prazos e cifras

Democrata diz ainda que governo não pode deixar indústria automobilística desaparecer, mas tampouco dar cheque em branco a ela

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Em meio a um discurso vago em que pouco evoluiu nos detalhes de suas propostas econômicas de campanha, o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, anunciou formalmente ontem quatro dos futuros membros de seu governo, confirmando a expectativa criada sobre nomes que estão hoje no coração da crise financeira -inclusive em suas negociações mais controversas.
Os quatro nomes já haviam vazado para a imprensa nos dias anteriores e despertaram reações positivas dos mercados. Timothy Geithner, presidente da unidade de Nova York do Fed (banco central dos EUA), será secretário do Tesouro; Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro, é o próximo diretor do Conselho Econômico Nacional; Christina Romer chefiará o Conselho de Assessores Econômicos e Melody Barnes assume a diretoria do Conselho de Política Doméstica (veja texto ao lado).
Paralelamente ao anúncio, feito em entrevista coletiva em Chicago, o presidente eleito falou sobre suas propostas para abordar a crise econômica, mas não trouxe novidades.
Ele apoiou a decisão do Congresso de exigir um plano de recuperação às três maiores montadoras do país -GM, Chrysler e Ford- antes de concordar em liberar um pacote de resgate para evitar sua falência. "Não podemos deixar a indústria automobilística simplesmente sumir, (...) mas tampouco podemos lhes dar um cheque em branco", disse Obama.
Ele afirmou que ficou surpreso com a falta de um plano mais claro de reestruturação por parte das empresas. E evitou citar valores de um eventual empréstimo.
Obama também se recusou a discutir o tamanho do pacote de estímulo econômico que prepara para a classe média, dizendo apenas que ele "deve ser significativo o suficiente para levantar a economia".
A fala vaga contrasta com as da campanha, quando Obama sugeriu estímulo fiscal à classe média de entre entre US$ 150 bilhões e US$ 175 bilhões. Atualmente, porém, o Congresso democrata menciona propostas de entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão, o que traria peso considerável ao já pesado déficit orçamentário norte-americano.
O presidente eleito também disse que o plano deve ajudar não apenas "Wall Street mas também Main Street" (a rua principal, em alusão ao cidadão comum), repetindo um slogan da corrida presidencial.

Mudança esvaziada
O presidente eleito falou ontem também sobre o plano de "criar ou preservar 2,5 milhões" de empregos até 2011, que foi anunciado em comunicado de rádio no último sábado.
Ele não especificou de onde viriam nem como seriam financiados esses novos empregos ontem. Mas, a julgar pelas promessas de campanha, o foco será em investimentos em infra-estrutura (como estradas e pontes) e aumento de serviços governamentais.
Obama afirmou ainda que conversou com o presidente George W. Bush por telefone ontem e que eles vêem a crise da mesma forma. "O que é importante é que o povo americano entenda que estamos unidos para fazer o sistema financeiro voltar a funcionar."
O democrata reiterou que manterá os compromissos firmados pelo governo Bush em relação aos problemas do mercado financeiro, mas disse que revisará os termos resgate de US$ 700 bilhões aprovado pelo Congresso para avaliar como ele pode ser mais eficaz.
Para David Epstein, diretor do Centro de Economia Política da Universidade Columbia, a coordenação de Obama com Bush não compromete a promessa de mudança. "Toda vez que Obama adotar alguma política de centro, vão dizer que desistiu de implementar mudanças", disse à Folha.
"Ele já está propondo coisas bem diferentes de Bush, como um pacote de estímulo bem maior do que o do atual governo. Só que ainda é muito cedo para ter tudo especificado."
Em outra fala vaga, Obama indicou que não descarta esperar que os cortes de impostos que Bush concedeu aos mais ricos expirem, o que ocorre no fim de 2010. Na campanha, ele havia prometido revertê-los para financiar a redução de tributos para 95% da população, ponto de apoio de seu plano.


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