|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / ECONOMIA
Obama não fixa valor de resgate
Presidente eleito confirma Timothy Geithner no Tesouro e delineia plano econômico, mas evita dar prazos e cifras
Democrata diz ainda que governo não pode deixar indústria automobilística desaparecer, mas tampouco dar cheque em branco a ela
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Em meio a um discurso vago
em que pouco evoluiu nos detalhes de suas propostas econômicas de campanha, o presidente eleito dos EUA, Barack
Obama, anunciou formalmente ontem quatro dos futuros
membros de seu governo, confirmando a expectativa criada
sobre nomes que estão hoje no
coração da crise financeira
-inclusive em suas negociações mais controversas.
Os quatro nomes já haviam
vazado para a imprensa nos
dias anteriores e despertaram
reações positivas dos mercados. Timothy Geithner, presidente da unidade de Nova York
do Fed (banco central dos
EUA), será secretário do Tesouro; Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro, é o próximo diretor do Conselho Econômico Nacional; Christina
Romer chefiará o Conselho de
Assessores Econômicos e Melody Barnes assume a diretoria
do Conselho de Política Doméstica (veja texto ao lado).
Paralelamente ao anúncio,
feito em entrevista coletiva em
Chicago, o presidente eleito falou sobre suas propostas para
abordar a crise econômica, mas
não trouxe novidades.
Ele apoiou a decisão do Congresso de exigir um plano de recuperação às três maiores
montadoras do país -GM,
Chrysler e Ford- antes de concordar em liberar um pacote de
resgate para evitar sua falência.
"Não podemos deixar a indústria automobilística simplesmente sumir, (...) mas tampouco podemos lhes dar um cheque em branco", disse Obama.
Ele afirmou que ficou surpreso com a falta de um plano
mais claro de reestruturação
por parte das empresas. E evitou citar valores de um eventual empréstimo.
Obama também se recusou a
discutir o tamanho do pacote
de estímulo econômico que
prepara para a classe média, dizendo apenas que ele "deve ser
significativo o suficiente para
levantar a economia".
A fala vaga contrasta com as
da campanha, quando Obama
sugeriu estímulo fiscal à classe
média de entre entre US$ 150
bilhões e US$ 175 bilhões.
Atualmente, porém, o Congresso democrata menciona propostas de entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão, o que traria peso considerável ao já pesado déficit orçamentário norte-americano.
O presidente eleito também
disse que o plano deve ajudar
não apenas "Wall Street mas
também Main Street" (a rua
principal, em alusão ao cidadão
comum), repetindo um slogan
da corrida presidencial.
Mudança esvaziada
O presidente eleito falou ontem também sobre o plano de
"criar ou preservar 2,5 milhões" de empregos até 2011,
que foi anunciado em comunicado de rádio no último sábado.
Ele não especificou de onde
viriam nem como seriam financiados esses novos empregos
ontem. Mas, a julgar pelas promessas de campanha, o foco será em investimentos em infra-estrutura (como estradas e
pontes) e aumento de serviços
governamentais.
Obama afirmou ainda que
conversou com o presidente
George W. Bush por telefone
ontem e que eles vêem a crise
da mesma forma. "O que é importante é que o povo americano entenda que estamos unidos
para fazer o sistema financeiro
voltar a funcionar."
O democrata reiterou que
manterá os compromissos firmados pelo governo Bush em
relação aos problemas do mercado financeiro, mas disse que
revisará os termos resgate de
US$ 700 bilhões aprovado pelo
Congresso para avaliar como
ele pode ser mais eficaz.
Para David Epstein, diretor
do Centro de Economia Política da Universidade Columbia, a
coordenação de Obama com
Bush não compromete a promessa de mudança. "Toda vez
que Obama adotar alguma política de centro, vão dizer que desistiu de implementar mudanças", disse à Folha.
"Ele já está propondo coisas
bem diferentes de Bush, como
um pacote de estímulo bem
maior do que o do atual governo. Só que ainda é muito cedo
para ter tudo especificado."
Em outra fala vaga, Obama
indicou que não descarta esperar que os cortes de impostos
que Bush concedeu aos mais ricos expirem, o que ocorre no
fim de 2010. Na campanha, ele
havia prometido revertê-los
para financiar a redução de tributos para 95% da população,
ponto de apoio de seu plano.
Texto Anterior: Medida de Quito prejudica região, afirma Amorim Próximo Texto: Ex-secretário de Clinton paira sobre nova equipe econômica Índice
|