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ISRAEL VOTA
Com críticas ao poder dos partidos religiosos judaicos, o Shinui, de classe média, pode se tornar a segunda força do país
Partido que ataca os ortodoxos é sucesso
DA REDAÇÃO
"Somos o grande sucesso dessa
eleição." O tom otimista da declaração, feita pelo deputado Avraham Poraz, sintetiza o clima de
festa no escritório do Shinui, o
partido da vez em Israel.
Nem mesmo os seus maiores
críticos -que os vêem como uma
agremiação de bandeira única,
capaz de incitar uma divisão perigosa entre judeus seculares e religiosos- se atrevem a ignorar o
êxito de sua campanha.
Das atuais seis cadeiras, o partido pode ampliar sua bancada para 16 ou 17, segundo as pesquisas.
Ameaça até mesmo roubar dos
trabalhistas a condição de segunda maior força política de Israel.
Os ativistas do Shinui -o termo, em hebraico, quer dizer "mudança"- combatem o que vêem
como excessivo poder dos partidos judaicos ultra-ortodoxos sobre os assuntos do Estado.
Criticam o Likud e o Partido
Trabalhista por terem destinado
-em troca de votos que lhes garantiam a maioria parlamentar
em coalizões passadas- generosas fatias do Orçamento para escolas e projetos sociais da comunidade religiosa.
"O crescimento do Shinui mostra que os israelenses já não
aguentam mais os ortodoxos e
gostariam de uma mudança", disse à Folha, por telefone, Poraz, o
número dois do partido.
Liderado pelo ex-apresentador
de TV Tommy Lapid, o Shinui
tem forte apelo entre a classe média secular. Um eleitorado numeroso, desiludido com a economia,
com as mazelas dos políticos tradicionais e com as restrições impostas às suas vidas para atender
aos preceitos judaicos ortodoxos.
Na opinião dos analistas políticos, a impressionante ascensão
do Shinui se deve a pelo menos
dois fatores: a desastrosa desaceleração econômica dos últimos
dois anos e o declínio do Partido
Trabalhista, que mais votos deve
ceder ao partido de Lapid.
"O Shinui está capitalizando sobre a crise econômica", disse Gabriel Ben-Dor, professor da Universidade de Haifa. "Ele escolheu
uma estratégia interessante de se
apresentar como o partido da
classe média, formado por profissionais liberais, cientistas, pessoas
insatisfeitas com os impostos e
com a distribuição de recursos do
Orçamento."
Com uma bancada de peso, o
Shinui teria papel fundamental
nas negociações para a formação
de uma coalizão de governo. Seus
planos são a constituição de um
governo secular de união nacional, ao lado do Likud e dos trabalhistas, deixando de fora os partidos religiosos -sobretudo o seu
maior rival, o Shas.
Como se nega a integrar qualquer coalizão que conte com partidos ortodoxos, porém, um Shinui forte pode complicar o quebra-cabeças das composições políticas no Knesset.
Há quem diga que, passada a
eleição, a realpolitik falaria mais
alto e seus líderes aceitariam compor com partidos religiosos menores, como, por exemplo, o Judaísmo Unido da Torá.
Mas Poraz -e todos os candidatos de sua lista- são enfáticos
ao dizer que a "tribo" da classe
média secular e a "tribo" dos ultra-ortodoxos não vão se misturar no governo.
Esse embate, diz o deputado
candidato à reeleição, faz parte do
jogo democrático e não prejudicará "a união do país". "O povo
judeu foi formado por 12 tribos
nos tempos bíblicos. Temos algumas tribos aqui, mas isso não afeta a união do país", diz Poraz.
"Somos um país de imigrantes,
todos vieram de locais distintos.
Isso é uma diversidade. E esses ortodoxos, que não servem no Exército, são só 10% da população."
Numericamente, seus inimigos
declarados podem ser poucos.
Mas sua influência é incontestável. O Likud e os ortodoxos atuam
juntos no poder há 25 anos, desde
os tempos de Menachem Begin.
Confirmado o sucesso eleitoral, o
grande desafio do Shinui será
convencer Ariel Sharon a romper
essa histórica aliança.
(MARCELO STAROBINAS)
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