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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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ISRAEL VOTA

Com críticas ao poder dos partidos religiosos judaicos, o Shinui, de classe média, pode se tornar a segunda força do país

Partido que ataca os ortodoxos é sucesso

DA REDAÇÃO

"Somos o grande sucesso dessa eleição." O tom otimista da declaração, feita pelo deputado Avraham Poraz, sintetiza o clima de festa no escritório do Shinui, o partido da vez em Israel.
Nem mesmo os seus maiores críticos -que os vêem como uma agremiação de bandeira única, capaz de incitar uma divisão perigosa entre judeus seculares e religiosos- se atrevem a ignorar o êxito de sua campanha.
Das atuais seis cadeiras, o partido pode ampliar sua bancada para 16 ou 17, segundo as pesquisas. Ameaça até mesmo roubar dos trabalhistas a condição de segunda maior força política de Israel.
Os ativistas do Shinui -o termo, em hebraico, quer dizer "mudança"- combatem o que vêem como excessivo poder dos partidos judaicos ultra-ortodoxos sobre os assuntos do Estado.
Criticam o Likud e o Partido Trabalhista por terem destinado -em troca de votos que lhes garantiam a maioria parlamentar em coalizões passadas- generosas fatias do Orçamento para escolas e projetos sociais da comunidade religiosa.
"O crescimento do Shinui mostra que os israelenses já não aguentam mais os ortodoxos e gostariam de uma mudança", disse à Folha, por telefone, Poraz, o número dois do partido.
Liderado pelo ex-apresentador de TV Tommy Lapid, o Shinui tem forte apelo entre a classe média secular. Um eleitorado numeroso, desiludido com a economia, com as mazelas dos políticos tradicionais e com as restrições impostas às suas vidas para atender aos preceitos judaicos ortodoxos.
Na opinião dos analistas políticos, a impressionante ascensão do Shinui se deve a pelo menos dois fatores: a desastrosa desaceleração econômica dos últimos dois anos e o declínio do Partido Trabalhista, que mais votos deve ceder ao partido de Lapid.
"O Shinui está capitalizando sobre a crise econômica", disse Gabriel Ben-Dor, professor da Universidade de Haifa. "Ele escolheu uma estratégia interessante de se apresentar como o partido da classe média, formado por profissionais liberais, cientistas, pessoas insatisfeitas com os impostos e com a distribuição de recursos do Orçamento."
Com uma bancada de peso, o Shinui teria papel fundamental nas negociações para a formação de uma coalizão de governo. Seus planos são a constituição de um governo secular de união nacional, ao lado do Likud e dos trabalhistas, deixando de fora os partidos religiosos -sobretudo o seu maior rival, o Shas.
Como se nega a integrar qualquer coalizão que conte com partidos ortodoxos, porém, um Shinui forte pode complicar o quebra-cabeças das composições políticas no Knesset.
Há quem diga que, passada a eleição, a realpolitik falaria mais alto e seus líderes aceitariam compor com partidos religiosos menores, como, por exemplo, o Judaísmo Unido da Torá.
Mas Poraz -e todos os candidatos de sua lista- são enfáticos ao dizer que a "tribo" da classe média secular e a "tribo" dos ultra-ortodoxos não vão se misturar no governo.
Esse embate, diz o deputado candidato à reeleição, faz parte do jogo democrático e não prejudicará "a união do país". "O povo judeu foi formado por 12 tribos nos tempos bíblicos. Temos algumas tribos aqui, mas isso não afeta a união do país", diz Poraz.
"Somos um país de imigrantes, todos vieram de locais distintos. Isso é uma diversidade. E esses ortodoxos, que não servem no Exército, são só 10% da população."
Numericamente, seus inimigos declarados podem ser poucos. Mas sua influência é incontestável. O Likud e os ortodoxos atuam juntos no poder há 25 anos, desde os tempos de Menachem Begin. Confirmado o sucesso eleitoral, o grande desafio do Shinui será convencer Ariel Sharon a romper essa histórica aliança.
(MARCELO STAROBINAS)


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