São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Protestos egípcios tiveram um novo tipo de organização


TÚNIS E CAIRO DIFEREM APENAS NO TAMANHO, OS RANCORES SÃO OS MESMOS. SE O EGITO EXPLODIR, O EFEITO SERÁ MAIOR


SIMON TISDAL
DO "GUARDIAN"

O Egito não é a Tunísia. É muito maior. Oitenta milhões de pessoas, comparados com 10 milhões. Geográfica, politica e estrategicamente, está em outro patamar. É o líder natural do mundo árabe e sua nação, a mais populosa. Mas muitos dos rancores das ruas são os mesmos.
Túnis e Cairo diferem apenas no tamanho. Se o Egito explodir, a explosão será muito maior.
Os egípcios já deram as caras antes. Mas, os protestos de larga escala de ontem foram diferentes, ao enviarem sinais perturbadores a um regime que fez da complacência um modo de ser.
O "dia de fúria" não teve apenas protestos e gritos em pequena escala, como antes. Os manifestantes não ficaram em um só lugar. Em alguns casos, a polícia não pôde, ou não quis, pará-los.
Isso tirou o ditador Hosni Mubarak e seus ministros de sua zona de conforto. A organização dos protestos também foi algo novo, ecoando a Tunísia e o Irã de 2009.
O maior grupo oposição, a Irmandade Muçulmana, que por muito tempo fez o papel de idiota fundamentalista islâmico para reforçar o apoio do Ocidente ao regime secular de Mubarak, desta vez recusou-se a participar.
O rebelde do establishment egípcio, o ex-líder da agência nuclear da ONU Mohamed El Baradei, também ficou de fora.
Em vez disso, uma ampla coalizão de estudantes, jovens desempregados, operários da indústria, intelectuais, torcedores de futebol e mulheres, conectados por mídias sociais como Twitter e Facebook, lançou uma série de protestos ágeis. A polícia recorreu à violência.
Mas o Egito não é a Tunísia. O Egito tem uma polícia muito mais eficiente. Seu líder é tão linha dura e astuto como uma velha raposa. Sua elite militar e política está vinculada aos EUA, e a república americana não gosta de revoluções.
Ainda não há revolução no Egito. Mas, hipoteticamente, se Mubarak cair, as consequências seriam incalculáveis -para Israel e o processo de paz, para o aumento da influência do Irã, para a influência dos EUA no Oriente Médio, para o crescimento e propagação de um islã militante e anti-Ocidente e para 80 milhões de egípcios.


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