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REINO UNIDO
Falta de profissionais provoca recorde em espera por atendimento; associação de médicos propõe racionamento
Erros expõem crise em sistema de saúde britânico
JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES
Um hospital do oeste de Londres acaba de anunciar o "recall"
de 100 mil mamografias. Por causa de erro administrativo, uma
paciente recebeu diagnóstico incorreto e só depois de algum tempo descobriu que possuía um tumor no seio.
O "recall" foi mais um dos desacertos do NHS, o serviço nacional
de saúde britânico, que mereceu
destaque na imprensa local nos
últimos meses. Na lista estão incluídos até mesmo escândalos como o da retirada de órgãos de
crianças sem autorização dos pais
por um médico de Liverpool.
Sistema modelo no passado, o
NHS começa a entrar em colapso
por uma combinação de fatores
que vão desde a falta de médicos e
enfermeiros até o aumento da
procura por parte da população.
As filas para exames mais sofisticados deixam os pacientes aguardando meses pelo atendimento.
A população também está insatisfeita com o atendimento. O
equivalente ao conselho federal
de medicina britânico recebeu
4.470 reclamações em 2000, contra 3.000 em 1999. O governo do
trabalhista Tony Blair admitiu recentemente que errou ao aumentar a expectativa dos britânicos
quanto a uma possível melhora
do serviço em curtíssimo prazo.
Antes de assumir, em 97, Blair
prometeu reduzir as listas de espera nos hospitais, problema que
já vinha sendo enfrentado pelos
conservadores desde os anos 80.
Um ano depois, porém, ele viu o
tempo de espera alcançar novo
recorde. Da oposição, ainda partem críticas como a de que a atual
administração gerencia mal a verba disponível para o setor.
Às vésperas de uma nova eleição, o premiê promete realizar a
maior reforma do NHS desde sua
criação, em 1948. Blair quer reunir
mais 7.500 médicos, 20 mil novos
enfermeiros e 6.500 empregados.
Pelas contas da Associação Britânica de Médicos, o NHS precisa
aumentar em cerca de um terço a
quantidade de médicos e enfermeiros -hoje, o total empregado
já chega a 600 mil e representa
70% dos recursos gastos pelo governo na área da saúde.
A dificuldade em recrutar profissionais ocorre em grande parte
pelo desinteresse dos jovens britânicos em ingressar numa profissão considerada de muita responsabilidade e cujos salários
costumam ser pouco atrativos.
Há pouco tempo, associações
de médicos, enfermeiros e pacientes se reuniram para divulgar
uma proposta conjunta para melhorar o atendimento. A principal
recomendação foi a de que haja
racionamento. Ao invés de uma
bateria com vários exames, médicos deveriam pedir apenas o estritamente necessário. Tratamentos
menos urgentes deveriam ser encaminhados ao setor privado.
A Associação Britânica de Médicos recomendou que pacientes
deveriam pagar mesmo que taxas
pequenas para ajudar a custear o
serviço. "Temos de aceitar que
precisamos excluir alguns tratamentos do NHS se quisermos que
o serviço continue universal",
avalia o presidente da Associação
Britânica de Médicos, Ian Bogle.
Para a entidade, é preciso que
haja um debate nacional com o
qual se discutirá qual serviço os
britânicos querem e quanto estão
dispostos a pagar por ele. "O NHS
não pode fornecer todo o serviço
que nós gostaríamos", concorda
John Appleby, diretor de sistemas
de saúde da associação independente The Kings Fund.
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