São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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MINORIA

Defesa de emenda altera campanha do presidente

Kerry diz que Bush usa casamento gay para desviar debate eleitoral

DA REDAÇÃO

O pré-candidato democrata à Presidência dos EUA John Kerry acusou ontem o republicano George W. Bush de estar usando o tema do casamento gay como um recurso para mudar o foco da campanha eleitoral deste ano. "Acredito que ele é um presidente que está em dificuldades e apenas está tentando uma mudança de assunto político. Ele não quer falar sobre as questões reais", disse Kerry à rede de TV ABC.
Anteontem, Bush declarou seu apoio a uma emenda à Constituição que defina o casamento como uma instituição entre um homem e uma mulher.
Em editorial publicado ontem, o jornal "The Washington Post" afirma que Bush "abandonou a Constituição [em prol] da política de ano eleitoral". O "New York Times" fez crítica semelhante.
Para os republicanos não é uma tarefa fácil sustentar que a decisão de Bush não tem vinculação com o calendário político, já que as chances de o Congresso emendar a Constituição são pequenas. Além disso, durante a campanha de 2000, Bush afirmou ser contra uma intervenção federal a respeito de casamentos gays.
A maior parte dos analistas políticos interpreta o apoio de Bush à emenda contra o casamento gay como uma manobra destinada a fortalecer sua base entre os conservadores. É também uma ruptura com a linha da campanha de 2000, quando afirmava ser candidato "para unir, e não dividir".
De acordo com estrategistas republicanos ouvidos pelo "Washington Post", Bush não teve outra alternativa. Os conservadores estavam ficando apreensivos com o déficit orçamentário, os gastos elevados do governo e o plano de Bush de facilitar a imigração.
A transferência dos debates da campanha de temas econômicos para questões sociais é do interesse de Bush, já que o país continua sem criar empregos e a discussão de assuntos como aborto, religião, patriotismo e homossexualismo costuma ser favorável aos republicanos. O posicionamento do presidente contra o casamento gay é uma maneira de estabelecer uma diferença marcante em relação aos democratas e agradar ao eleitor conservador, estimulando-o a sair de casa para votar no dia da eleição.

27 emendas aprovadas
Desde 1789 foram feitas apenas 27 emendas à Constituição. A última emenda foi aprovada em 1992, 203 anos após ter sido proposta. Para ser incorporada à Constituição, uma emenda precisa do voto de dois terços do Senado e da Câmara. Em seguida, ela tem um prazo de sete anos para ser ratificada por pelo menos 38 dos 50 Estados.
Os críticos da proibição do casamento gay observam ainda que emendas constitucionais ampliam e garantem direitos. A única exceção foi em 1919, com a Lei Seca, que proibiu o consumo de bebidas alcoólicas e acabou mais tarde anulada por outra emenda.


Com agências internacionais


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