São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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ARTIGO

Fé na democracia é a melhor defesa contra o terror

JAVIER SOLANA
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

Os ataques de Madri nos recordaram a força da ameaça terrorista à Europa. Como podemos reagir a ela, na condição de cidadãos e de responsáveis políticos? Há três conjuntos de respostas.
Em primeiro lugar, precisamos aumentar a eficiência do contraterrorismo europeu. Desde o 11 de Setembro, os governos melhoraram sua coordenação. Foram lançadas iniciativas úteis, a cooperação transatlântica foi fortalecida, e foi empreendido um trabalho policial e de inteligência excelente. Precisamos intensificá-lo.
Fora da Europa, precisamos voltar a analisar as maneiras como podemos cooperar com outros países.
Onde pudermos ajudar nossos aliados, fortalecendo suas capacidades de contraterrorismo, devemos fazê-lo. Se eles não se dispuserem a ajudar, isso vai colocar em questão a base da parceria entre eles e nós.
Em segundo lugar, precisamos manter firme nossa determinação de compreender e fazer frente aos fatores que estão por trás do terrorismo. Nenhuma causa justifica o terrorismo, mas nada justifica que se ignorem suas causas.
Está claro que existe uma margem fanática que está fora do alcance dos argumentos políticos. Mas ela é alimentada por uma grande reserva de insatisfação e revolta.
Onde essas queixas são legítimas elas precisam receber tratamento, não apenas porque isso é questão de justiça, mas também porque o trabalho de ""drenar o pântano" depende disso.
O terrorismo não vai -e não deve- fazer avançar as aspirações legítimas da população palestina. Mas um esforço determinado da comunidade internacional para tratar tais aspirações com os palestinos que rejeitam a violência representaria um golpe pesado contra o terrorismo. Ao mesmo tempo, precisamos lutar pela estabilidade regional, a boa governança e o Estado de Direito.
Em terceiro lugar, todos nós, como cidadãos europeus, podemos e devemos defender nossas democracias, exercendo e defendendo os direitos que nos são caros. Um clima de medo e repressão é o que os terroristas buscam criar. A fé na democracia é a melhor arma de nossa defesa.
Aqueles que enxergam na Europa um novo clima de busca de conciliação, de aplacar o terrorismo, estão enganados.
No dia seguinte às explosões em Madri, eu fui às ruas da cidade ao lado de mais de milhões de outras pessoas. O clima dominante não era de medo. Era de determinação tranqüila -a determinação de render homenagem aos mortos, de prevalecer sobre o terrorismo, de defender a democracia.
Na Espanha, assim como em toda a Europa, as pessoas estão unidas na determinação de fazer frente ao terror. Ao mesmo tempo, também ocorre uma discussão política legítima sobre como melhor proceder nessa luta. Suspender essa discussão equivaleria a trair a democracia.


Javier Solana é o chefe da diplomacia da União Européia

Tradução de Clara Allain


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