São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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ALEMANHA

Intenção de "adaptar" Estado do Bem-Estar Social à crise é criticada

Atacado, Schröder defende reformas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O chanceler (premiê) alemão, o social-democrata Gerhard Schröder, disse ontem que sua Agenda 2010, um projeto de reformas socioeconômicas que visa "modernizar a Alemanha" -tornando-a mais competitiva-, deu bons resultados e mostrou a seus críticos que seus planos são positivos.
Todavia ele não indicou qual direção o país tomará nos próximos meses, limitando-se a afirmar que as reformas ganharão mais força, o que gerou preocupações com o fôlego de seu projeto de modernização da economia alemã.
De acordo com especialistas consultados pela Folha, Schröder vem sendo bastante pressionado. Os conservadores do maior partido oposicionista, a CDU (União Democrata Cristã), o acusam de não realizar as reformas necessárias para estimular a economia, ficando aquém do desejado.
Os sindicatos, a principal força de apoio ao SPD (o governamental Partido Social-Democrata), afirmam que Schröder mina o Estado do Bem-Estar Social alemão.
"É claro que o chanceler gostaria de não precisar realizar as impopulares reformas que vem fazendo. A base do SPD é contrária a elas. Por conta da globalização e do envelhecimento da população, contudo, ele é obrigado a fazê-las para dar novo alento à economia alemã", analisou Elmar Altvater, reputado politólogo de Berlim.
"Afinal, a primeira faz que as vagas de emprego deixem a Alemanha em direção a países de mão-de-obra barata. E o segundo põe um peso excessivo nos trabalhadores, que são compelidos a bancar os benefícios de um número cada vez maior de aposentados."
Para Schröder, que discursou no Parlamento, o governo mostrou que "sabe reconhecer a verdade e resolver os problemas, mesmo que isso seja complicado e doloroso". Ele disse que seu projeto contribuiu para que a Alemanha apresentasse um pequeno crescimento econômico (0,2% no último trimestre), após três anos de estagnação ou de recessão.
Porém, como ressaltou Altvater, Schröder encontra grande dificuldade em agradar à direita ou à esquerda. A CDU criticou o discurso do chanceler e exigiu que ele abdicasse de seu posto, convocando nova eleição legislativa.
Sindicatos de trabalhadores e patronais protagonizam as discussões. "Precisamos mudar a política monetária européia. O limite de 3% de déficit público não permite que os governos tenham flexibilidade para agir quando há problemas conjunturais. Precisamos de keynesianismo [teoria que defende a necessidade de políticas governamentais de estímulo à demanda] na Europa", disse Wolfgang Schemeret, da Federação dos Sindicatos da Alemanha.
"Se o Pacto de Estabilidade europeu for abrandado, correremos dois sérios riscos: primeiro, o enfraquecimento do euro; segundo, um aumento dos impostos para pagar a dívida pública", avaliou Matthias Schoder, da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Alemanha.
Para Manfred Nitsch, especialista em economia política da Universidade Livre de Berlim, a CDU não consegue tirar benefício da crise porque sua situação não é fácil no que se refere às reformas.
"Se fizesse uma política de oposição séria, a CDU teria de alinhar-se totalmente aos liberais, que exigem reformas mais abrangentes, ou de apoiar parte das políticas de Schröder", disse Nitsch. Dividida, ela pede um corte maior da proteção aos trabalhadores e uma reforma fiscal mais ampla.
A Agenda 2010 de Schröder inclui cortes dos benefícios destinados a aposentados e a desempregados, uma menor proteção aos trabalhadores e uma pequena redução do Imposto de Renda.
Schröder ressaltou, no Bundestag (Parlamento), que não pretende pôr fim ao Estado do Bem-Estar Social alemão, mas "adaptá-lo à situação econômica mundial".


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