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ALEMANHA
Intenção de "adaptar" Estado do Bem-Estar Social à crise é criticada
Atacado, Schröder defende reformas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O chanceler (premiê) alemão, o
social-democrata Gerhard Schröder, disse ontem que sua Agenda
2010, um projeto de reformas socioeconômicas que visa "modernizar a Alemanha" -tornando-a
mais competitiva-, deu bons resultados e mostrou a seus críticos
que seus planos são positivos.
Todavia ele não indicou qual direção o país tomará nos próximos
meses, limitando-se a afirmar que
as reformas ganharão mais força,
o que gerou preocupações com o
fôlego de seu projeto de modernização da economia alemã.
De acordo com especialistas
consultados pela Folha, Schröder
vem sendo bastante pressionado.
Os conservadores do maior partido oposicionista, a CDU (União
Democrata Cristã), o acusam de
não realizar as reformas necessárias para estimular a economia, ficando aquém do desejado.
Os sindicatos, a principal força
de apoio ao SPD (o governamental Partido Social-Democrata),
afirmam que Schröder mina o Estado do Bem-Estar Social alemão.
"É claro que o chanceler gostaria de não precisar realizar as impopulares reformas que vem fazendo. A base do SPD é contrária
a elas. Por conta da globalização e
do envelhecimento da população,
contudo, ele é obrigado a fazê-las
para dar novo alento à economia
alemã", analisou Elmar Altvater,
reputado politólogo de Berlim.
"Afinal, a primeira faz que as vagas de emprego deixem a Alemanha em direção a países de mão-de-obra barata. E o segundo põe
um peso excessivo nos trabalhadores, que são compelidos a bancar os benefícios de um número
cada vez maior de aposentados."
Para Schröder, que discursou
no Parlamento, o governo mostrou que "sabe reconhecer a verdade e resolver os problemas,
mesmo que isso seja complicado
e doloroso". Ele disse que seu projeto contribuiu para que a Alemanha apresentasse um pequeno
crescimento econômico (0,2% no
último trimestre), após três anos
de estagnação ou de recessão.
Porém, como ressaltou Altvater,
Schröder encontra grande dificuldade em agradar à direita ou à esquerda. A CDU criticou o discurso do chanceler e exigiu que ele
abdicasse de seu posto, convocando nova eleição legislativa.
Sindicatos de trabalhadores e
patronais protagonizam as discussões. "Precisamos mudar a
política monetária européia. O limite de 3% de déficit público não
permite que os governos tenham
flexibilidade para agir quando há
problemas conjunturais. Precisamos de keynesianismo [teoria
que defende a necessidade de políticas governamentais de estímulo à demanda] na Europa", disse
Wolfgang Schemeret, da Federação dos Sindicatos da Alemanha.
"Se o Pacto de Estabilidade europeu for abrandado, correremos
dois sérios riscos: primeiro, o enfraquecimento do euro; segundo,
um aumento dos impostos para
pagar a dívida pública", avaliou
Matthias Schoder, da Federação
das Câmaras de Comércio e Indústria da Alemanha.
Para Manfred Nitsch, especialista em economia política da
Universidade Livre de Berlim, a
CDU não consegue tirar benefício
da crise porque sua situação não é
fácil no que se refere às reformas.
"Se fizesse uma política de oposição séria, a CDU teria de alinhar-se totalmente aos liberais,
que exigem reformas mais abrangentes, ou de apoiar parte das políticas de Schröder", disse Nitsch.
Dividida, ela pede um corte maior
da proteção aos trabalhadores e
uma reforma fiscal mais ampla.
A Agenda 2010 de Schröder inclui cortes dos benefícios destinados a aposentados e a desempregados, uma menor proteção aos
trabalhadores e uma pequena redução do Imposto de Renda.
Schröder ressaltou, no Bundestag (Parlamento), que não pretende pôr fim ao Estado do Bem-Estar Social alemão, mas "adaptá-lo
à situação econômica mundial".
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