São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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ARTIGO
Armênios foram vítimas de política de extermínio

ANTONIO KANDIR
especial para a Folha

Meus avós foram assassinados durante o genocídio do povo armênio. Meu pai, Said Kandir, com 2 anos de idade, levou uma facada em cada mão. Depois foi jogado numa vala junto a dezenas de mortos. Salvou-se por milagre, graças a um grupo de camponeses. Quando o encontraram só dizia e repetia uma palavra: "Sangue! Sangue! Sangue!"
Quase todos os armênios assassinados não puderam simplesmente morrer. Foram judiados e açoitados de maneira cruel: as unhas eram arrancadas, os olhos furados, entre outras perversidades.
Foi assim que, quando criança, tive o meu primeiro contato com a capacidade inacreditável de alguns comandarem selvagerias em massa. Um genocídio de 1,5 milhão de armênios, assassinados pelo governo totalitário da Turquia. Um genocídio muito pouco conhecido até recentemente.
No dia 24 de abril o povo armênio relembra a expulsão e o massacre irracional que ocorreram durante o Império Otomano entre 1915 e 1923.
Esse massacre foi uma política de extermínio planejada e implacavelmente executada.
Ainda que tendo mantido seu pequeno território, o povo armênio sofreu uma dispersão pelo mundo.
Os pontos de união dos armênios do mundo todo são a língua, a religião cristã-ortodoxa e a memória de uma perseguição que reforçou o sentimento de identidade e união de um povo.
Até hoje a indignação dos descendentes de armênios é imensa.
Hoje estamos tendo mais chance de divulgar esse episódio de terror. Não para odiar. Estimular o ódio é o pior dos caminhos, e isso o povo armênio sabe. Mas para não esquecer e para alertar. Não esquecer os nossos parentes. E alertar a todos, armênios e não-armênios, sobre os perigos do totalitarismo e do fanatismo que, infelizmente, ainda estão bem presentes. Mais do que nunca é preciso lembrar e alertar a todos.


Antonio Kandir é economista e deputado federal (PSDB-SP). Foi ministro do Planejamento do governo FHC


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