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ARTIGO
Armênios foram vítimas de política de extermínio
ANTONIO KANDIR
especial para a Folha
Meus avós foram assassinados
durante o genocídio do povo armênio. Meu pai, Said Kandir, com
2 anos de idade, levou uma facada
em cada mão. Depois foi jogado
numa vala junto a dezenas de
mortos. Salvou-se por milagre,
graças a um grupo de camponeses.
Quando o encontraram só dizia e
repetia uma palavra: "Sangue!
Sangue! Sangue!"
Quase todos os armênios assassinados não puderam simplesmente morrer. Foram judiados e
açoitados de maneira cruel: as
unhas eram arrancadas, os olhos
furados, entre outras perversidades.
Foi assim que, quando criança,
tive o meu primeiro contato com a
capacidade inacreditável de alguns
comandarem selvagerias em massa. Um genocídio de 1,5 milhão de
armênios, assassinados pelo governo totalitário da Turquia. Um
genocídio muito pouco conhecido
até recentemente.
No dia 24 de abril o povo armênio relembra a expulsão e o massacre irracional que ocorreram
durante o Império Otomano entre
1915 e 1923.
Esse massacre foi uma política
de extermínio planejada e implacavelmente executada.
Ainda que tendo mantido seu
pequeno território, o povo armênio sofreu uma dispersão pelo
mundo.
Os pontos de união dos armênios do mundo todo são a língua,
a religião cristã-ortodoxa e a memória de uma perseguição que reforçou o sentimento de identidade
e união de um povo.
Até hoje a indignação dos descendentes de armênios é imensa.
Hoje estamos tendo mais chance
de divulgar esse episódio de terror.
Não para odiar. Estimular o ódio é
o pior dos caminhos, e isso o povo
armênio sabe. Mas para não esquecer e para alertar. Não esquecer os nossos parentes. E alertar a
todos, armênios e não-armênios,
sobre os perigos do totalitarismo e
do fanatismo que, infelizmente,
ainda estão bem presentes. Mais
do que nunca é preciso lembrar e
alertar a todos.
Antonio Kandir é economista e deputado federal (PSDB-SP). Foi ministro do Planejamento do
governo FHC
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