São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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PERIGO

Instalação militar não estava sendo vigiada pelos EUA, apesar de avisos da ONU sobre o material; Bush sabe do sumiço há 10 dias

350 t de explosivos desaparecem no Iraque

DA REDAÇÃO

Cerca de 350 toneladas de explosivos sumiram de instalações militares próximas de Bagdá que não estavam sendo vigiadas, disse a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU). A agência monitorava os explosivos até o início da guerra liderada pelos EUA contra o Iraque, em março de 2003.
O Ministério de Ciência e Tecnologia iraquiano informou a AIEA há cerca de duas semanas que os explosivos sumiram "depois de 9 de abril de 2003 em roubos e saques das instalações governamentais por causa da falta de segurança", disse a AIEA ao Conselho de Segurança da ONU.
O presidente dos EUA, George W. Bush, foi informado sobre o sumiço há dez dias, segundo seu porta-voz, Scott McClellan.
"Nossa primeira prioridade, sob nosso ponto de vista, foi assegurar que isso não representaria um risco de proliferação nuclear, e não é este o caso", afirmou. "Estamos falando de potentes explosivos convencionais, e o presidente quer se assegurar de que toda a verdade seja conhecida."
Mas, segundo especialistas ouvidos pelo jornal "The New York Times", que publicou a informação ontem, e pela agência de notícias Reuters, os explosivos podem ser usados para fabricar um detonador nuclear, destruir edifícios ou em armas convencionais.
Diplomatas da AIEA afirmaram que o material também poderia ser facilmente transportado para fora do Iraque e vendido a países como o Irã ou a terroristas.
Segundo eles, a agência advertira os EUA sobre o perigo dos explosivos antes do início da guerra e, após a invasão, alertou funcionários do governo americano especificamente a respeito da necessidade de reforçar a segurança nos locais onde eles estavam.
O Pentágono, por sua vez, afirmou desconhecer se os explosivos sumiram antes ou depois de as forças americanas assumirem o controle do depósito.
"É muito possível, realmente provável, que o último controle sobre esses explosivos tenha sido realizado durante o regime de Saddam Hussein", acrescentou.
Para o "Times", os explosivos desaparecidos estavam "em uma das instalações militares mais sensíveis do Iraque", e deveria estar sendo vigiada pelos EUA.

Eleições
O candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, classificou o caso como "o erro mais grave e catastrófico na trágica série de equívocos no Iraque".
O assessor de Kerry Joe Lockhart disse: "Como é que eles não vigiaram quase 380 toneladas [cerca de 350 no sistema métrico] de explosivos, apesar das claras advertências da AEIA? Por que isso foi encoberto por nossos funcionários de segurança nacional?"
Republicanos rechaçaram o ataque. "John Kerry não tem nenhuma visão para combater e vencer a guerra contra o terrorismo, então baseia seus ataques nas manchetes que lê ao acordar todos os dias", disse o porta-voz da campanha de Bush, Scott Stanzel.

Mortos
Três civis iraquianos morreram e seis ficaram feridos na explosão de um carro-bomba contra um comboio de soldados australianos perto de sua embaixada em Bagdá. Também em Bagdá, um soldado da força multinacional liderada pelos EUA morreu e cinco ficaram feridos após a explosão de uma bomba artesanal.
Dois carros-bomba explodiram na região de Mossul, deixando três mortos e quatro feridos.
Conflitos entre rebeldes e marines dos EUA em Ramadi deixaram três mortos e 21 feridos, e um membro da Guarda Nacional iraquiana morreu ao desativar uma bomba em Baaquba.


Com agências internacionais


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