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EUA
Diário contradiz versão do chefe-de-gabinete do vice-presidente e informante da mídia sobre identidade de agente da CIA
"Times" liga Cheney a caso de vazamento
DA REDAÇÃO
O escândalo criado pela identificação de uma agente secreta da
CIA e pelo possível envolvimento
de dois importantes assessores da
Casa Branca chegou ontem ao vice-presidente Dick Cheney, embora não haja provas de sua cumplicidade na operação.
O "New York Times" revelou
ontem que um dos advogados de
Lewis "Scooter" Libby, chefe-de-gabinete de Cheney, disse que seu
cliente ficou sabendo pelo próprio vice-presidente -e não pelos jornais, conforme afirmara em
depoimento anterior- que Valerie Plame trabalhava para os serviços de inteligência americanos.
Revelar a identidade de uma
agente pode ser crime. Há um inquérito aberto sobre a questão. O
promotor responsável, Patrick
Fitzgerald, anunciará até sexta-feira a conclusão de suas investigações. Poderá indiciar Libby e
também Karl Rove, o principal assessor político do presidente
George W. Bush.
Valerie Plame, a agente da CIA
cuja carreira foi arruinada ao ser
identificada, é mulher do ex-diplomata Joseph Wilson.
Em 2002, Wilson foi encarregado de verificar se o governo do Níger havia vendido urânio para o
Iraque de Saddam Hussein. De
volta do país africano, ele relatou
em privado que a informação não
tinha nenhum fundamento.
Eis que suas conclusões vazaram para o "Washington Post" e,
em seguida, para "New York Times". O que deixou Bush furioso,
pois a Guerra do Iraque, com preparativos já desencadeados naquela época, tomava como base a
hipótese de Saddam ter armas de
destruição em massa.
O que se insinua veladamente é
que a Casa Branca procurou se
vingar de Wilson. E, para fazê-lo,
"queimou" profissionalmente a
mulher dele, a agente da CIA.
A identidade de Valerie Plame
foi pela primeira vez revelada pelo
colunista Robert Novak, em julho
de 2003. Novak tem sua coluna
publicada por dezenas de jornais.
Outro jornalista, Matthew Cooper, então na revista "Time", também identificou a agente. Uma
terceira jornalista envolvida foi
Judith Miller, do "New York Times", que se recusou a revelar sua
fonte e permaneceu presa 80 dias.
Seu informante havia sido Libby,
o chefe-de-gabinete de Cheney,
conforme ele próprio o anunciou.
O problema estava em saber se
Libby deu à repórter uma informação que já era pública ou se, ao
contrário, ele -e, por extensão,
Cheney- participava da operação para se vingar de Wilson.
Segundo a versão do advogado
de Libby, quem disse a seu cliente
que Plame trabalhava para a CIA
foi o próprio vice-presidente. Este, por sua vez, recebeu a informação do então diretor da CIA,
George Tenet. Detalhe importante: até aquele momento o nome
de Valerie Plame não tinha sido
revelado em público.
Bush reuniu anteontem Libby e
Rove e disse que não poderia
manter em sua equipe assessores
indiciados. A possibilidade de Rove deixar o governo -ele é o
principal assessor de Bush há dez
anos, desde a candidatura dele a
governador do Texas- criaria
uma imensa dificuldade para o
presidente, que perderia seu
maior articulador político.
Em termos práticos, Libby pode
ser indiciado não apenas por ter
aberto a identidade de uma agente da CIA mas também por falso
testemunho, já que ele disse, ao
depor, que revelara um nome que
já estava na mídia. Se ele mentiu,
foi para proteger Cheney, cuja situação também agora se complica, embora anotações de Libby
em poder do promotor não ponham em primeiro plano o papel
do vice-presidente americano.
Em seu briefing de ontem, o
porta-voz da Casa Branca, Scott
McClellan, negou-se a comentar
as informações do "New York Times". Disse aos repórteres que o
indagaram que não responderia
"a perguntas baseadas em especulações e a prejulgamentos".
Com agências internacionais
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