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entrevista
"Ancara já não pode retroceder"
DO ENVIADO A DIYARBAKIR
A bola está no campo
dos americanos. A opinião
é do analista político C.
Cem Oguz, do jornal "Turkish Daily News". Para ele,
o governo turco esgotou
suas opções diplomáticas
e agora cabe a Washington
evitar uma ação militar de
grande escala no Iraque
contra o PKK (Partido dos
Trabalhadores do Curdistão). A análise de Oguz reflete uma revolta crescente de uma parcela conservadora e influente na Turquia contra os ataques do
PKK, que vem pressionando o governo de Ancara a
agir. Leia trechos de sua
entrevista à Folha.
(MN)
FOLHA - A diplomacia ainda
pode funcionar?
C. CEM OGUZ - Já não depende da Turquia, mas da
liderança curda no Iraque,
do governo central em
Bagdá e, principalmente,
dos EUA. A Turquia não
tem mais como recuar. Essa crise está afetando a segurança do país, já custou
as vidas de dezenas de soldados e, agora, a bola está
do outro lado.
FOLHA - O que está por trás
dessa crise?
OGUZ - Imagine que um
grupo terrorista fizesse
ataques dentro do Brasil e
depois se escondesse em
um país vizinho, onde recebesse abrigo. O governo
brasileiro certamente teria o direito de retaliar não
só o grupo mas o país que
lhe dá abrigo. O PKK quer
arrastar a Turquia e os
EUA para um confronto.
Se os americanos permitirem, talvez consiga.
FOLHA - O que o sr. acha da
afirmação feita por alguns políticos curdos de que a opressão do governo turco ao povo
curdo dentro do país ajudou a
reviver as ações do PKK?
OGUZ - Há alguns dias, ao
ser entrevistado por um
dos principais canais da
TV turca, um parlamentar
curdo afirmou que os ataques terroristas recentes
não foram cometidos pelo
PKK, mas pelo próprio
Exército. Se há opressão,
como deixariam que ele
fosse à TV dizer algo assim? No passado os curdos
eram oprimidos, é verdade, mas isso mudou muito
nos últimos anos e hoje há
24 deputados no Parlamento turco. Um dos motivos de o PKK ter intensificado suas ações é a perda
de seu apoio popular.
FOLHA - Os interesses econômicos da Turquia no norte do
Iraque poderão influir nos próximos passos de Ancara?
OGUZ - Acho difícil, porque há sangue envolvido e
a pressão popular está forçando o governo a tomar
uma posição dura, tanto
militar como política.
Quando o assunto é segurança, todos os demais interesses vêm em segundo
plano para o governo.
FOLHA - O PKK já vem fazendo ataques há pelo menos três
anos. Por que a crise foi deflagrada neste momento?
OGUZ - A Turquia pode
ser acusada de muita coisa, mas não de não ter tentado evitar essa crise. Todas as promessas, do Iraque e dos EUA, ficaram no
papel. E essa ópera bufa
continua. O presidente
iraquiano [Jalal Talabani],
disse há alguns dias que
"nem um gato curdo" será
entregue à Turquia. Isso é
diplomacia?
FOLHA - Como ficam as relações entre Turquia e EUA?
OGUZ - Elas estão no pior
momento de sua história.
Uma pesquisa recente
mostrou que 91% dos turcos são antiamericanos,
uma deterioração drástica
em relação à era da Guerra
Fria, quando a grande
maioria da população era
simpática aos EUA.
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