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AFEGANISTÃO
Presidente Karzai admite que instabilidade segue sendo maior problema do país e promete regime islâmico democrático
Afeganistão pede mais tropas estrangeiras
JORGE MARIRRODRIGA
DO "EL PAÍS", EM CABUL
A estabilidade continua a ser o
que mais falta no Afeganistão, como reconhece o próprio presidente interino Hamid Karzai, entrevistado em seu palácio presidencial, em Cabul, rodeado de
uma guarda formada por ex-militares ocidentais, em sua maioria
americanos.
Durante a entrevista que concedeu nesta semana a vários órgãos
de imprensa europeus, entre eles
o "El País", Karzai aparentava
tranquilidade e fez brincadeiras,
apesar de um tiroteio intenso que
ocorrera minutos antes à porta do
complexo presidencial, deixando
três mortos e provocando estado
de alarme no palácio e em suas redondezas.
O maior objetivo atual do presidente afegão é fazer com que a
Grande Assembléia afegã, conhecida como Loya Jirga, que se reunirá em 13 de dezembro, aprove
uma nova Constituição que permita a realização de eleições em
junho de 2004.
Pergunta - A nova Constituição
define o Afeganistão como um "Estado islâmico". Qual será o papel
da religião islâmica em seu país?
Hamid Karzai - Já somos um Estado islâmico -somos crentes
fervorosos no islã, e nada que possa haver na nova Constituição poderá ir contra isso. Ao mesmo
tempo, porém, o islã não é algo
que contraria os direitos humanos, as liberdades de maneira geral e a liberdade política. A nova
Constituição dedica atenção especial à defesa dos direitos humanos
e a outras práticas de transparência democrática. Por exemplo, o
presidente não pode ser eleito para mais de dois mandatos, e o Parlamento terá mandato de cinco
anos. Existe um Poder Judiciário
independente, e o reconhecimento do papel da mulher na sociedade é explícito. De fato, nas eleições
realizadas para escolher representantes junto à Loya Jirga de dezembro, houve mulheres eleitas,
mesmo em regiões em que o Taleban [grupo extremista deposto
em 2001 por coalizão liderada pelos EUA por apoiar e abrigar a liderança da Al Qaeda] tinha grande apoio popular.
Pergunta - O governo afegão controla todo o território do país?
Karzai - Devo dizer que o governo se encontra presente até mesmo nas regiões mais distantes, como entidade política, mas não
presta nenhum tipo de serviço.
Faltam recursos humanos e pessoal preparado. Quando eu estava
na universidade, o país mergulhou na guerra. Alguns de nós
conseguimos concluir nossos estudos, mas, desde então, tivemos
um vazio de 30 anos durante os
quais não se formou nenhum pessoal especializado. Embora a situação venha melhorando nos últimos 12 meses, nos faltam meios
para controlar todo o território
afegão, e é por isso que estamos
pedindo mais armamentos.
Pergunta - Isso significa que o senhor quer mais tropas internacionais em seu país?
Karzai - Desde o primeiro momento em que tomei posse como
presidente, há dois anos, venho
recebendo pessoas pertencentes a
todos os setores da população afegã. E todas me pedem a mesma
coisa: a ampliação da Isaf [a sigla
em inglês para Força Internacional para Assistência na Segurança] como garantia de que o Afeganistão não volte a ficar só. Para a
população, as tropas internacionais constituem uma garantia de
continuidade, e o próprio secretário-geral da Otan, lorde Robertson, quer que as atividades das
forças internacionais se estendam
às Províncias [no momento, as
tropas estão presentes apenas em
Cabul e Konduz].
Neste momento, o Afeganistão
tem três problemas importantes:
o terrorismo ao longo da fronteira
paquistanesa, que o governo não
pode controlar, o cultivo da papoula para a produção de drogas,
que tampouco pode ser enfrentada, e a existência dos senhores de
guerra. Esses três fatores nos obrigam a precisar de mais tropas internacionais, mas também de
uma polícia cada vez maior.
Pergunta - Está previsto que o
Afeganistão tenha um Exército de
70 mil homens e uma polícia de 50
mil. Não serão suficientes?
Karzai - As eleições gerais devem
acontecer em junho de 2004, e até
então haverá apenas 9.000 militares que nem sequer estão adequadamente treinados. É evidente
que esse número é insuficiente. A
realização das eleições é uma
obrigação inescapável que a população aguarda ansiosamente.
Ela quer participar e se sentir representada.
Tradução de Clara Allain
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