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INTELIGÊNCIA
Crise na agência coincide com plano que aumenta seu orçamento e tira parte de suas atribuições clandestinas
CIA demite mais 2 chefes de espionagem
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os chefes da espionagem da
CIA na Europa e Extremo Oriente
estão deixando seus cargos, sob a
pressão de Porter Goss, diretor
desde setembro da agência americana de inteligência.
A informação foi publicada pelo
"New York Times" sem, no entanto, identificar nominalmente
os dois funcionários, que, por
questões de segurança, são conhecidos só por pseudônimos.
O afastamento comprova a existência de divergências entre Goss
e seus principais subordinados.
Uma dezena de altos responsáveis
da CIA foi demitida ou aposentada nas últimas semanas. Goss
quer reenquadrar uma instituição
que a Casa Branca acredita ter feito o jogo dos democratas na última campanha presidencial.
Mas os problemas dos serviços
americanos de inteligência são
bem mais agudos e estruturais.
Há a derrota que George W. Bush
sofreu no Congresso no último
fim de semana. Ele procurava
aplicar recomendação do Congresso após o 11 de Setembro para
criar um coordenador de todos os
15 serviços de inteligência do governo.
Opunham-se à ascensão desse
"czar" deputados e senadores
próximos do Pentágono, que perderia a autonomia orçamentária
de seus próprios serviços. Somados, eles representam 80% dos
US$ 40 bilhões que o governo gasta por ano no setor.
O "Financial Times" afirmou
ontem que a tentativa de unificação -uma coordenação mais racional de agências muitas vezes
empenhadas nas mesmas tarefas- caminhava, sem maior publicidade, para o arquivamento.
A CIA, apesar de ter maior reputação, é apenas uma agência civil que recebe bem menos dinheiro que as militares e que está no
olho do furacão pela suposta deslealdade cometida contra Bush.
Bush manteve há quatro anos
George Tenet como diretor. Ele
havia sido nomeado por Bill Clinton. Tenet permaneceu no cargo
até julho último. Agora, com Porter Goss operando o "expurgo", a
agência tende a ser novamente
confiável à Casa Branca.
Tanto que Bush pediu a Goss
que estudasse o aumento de seus
gastos em 50%, com a ampliação
das equipes de agentes e de analistas de informações. Seria a maior
expansão da CIA desde sua criação, em 1947.
Mas há nisso um paradoxo.
Bush quer tirar da agência sua capacitação em operações militares
clandestinas. Donald Rumsfeld,
chefe do Pentágono, esforça-se
para que isso aconteça desde que,
em 2001, na guerra no Afeganistão, se queixou do atraso com que
os agentes praticavam a varredura anterior à ação militar.
A resistência a esse plano, diz o
"New York Times", parte das Forças Armadas, cujos estados maiores se opõem a uma ampliação
abrupta de suas atribuições.
O tamanho verdadeiro da CIA é
desconhecido. O Council on Foreign Relations, centro de pesquisas liberal, diz que ela reúne 20 mil
dos 100 mil funcionários americanos de serviços secretos.
O assunto seria secundário se
duas questões não colocassem em
evidência a incompetência dos
serviços de inteligência. O primeiro foi o 11 de Setembro, não devidamente mapeado em seus preparativos. A seguir, o Iraque de
Saddam Hussein, que a CIA não
acreditava possuir armas de destruição em massa, enquanto os
serviços de inteligência militar
-o que era interesse de Bush-
levavam a hipótese a sério.
Com o "New York Times" e o "Financial
Times"
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