São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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INTELIGÊNCIA

Crise na agência coincide com plano que aumenta seu orçamento e tira parte de suas atribuições clandestinas

CIA demite mais 2 chefes de espionagem

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os chefes da espionagem da CIA na Europa e Extremo Oriente estão deixando seus cargos, sob a pressão de Porter Goss, diretor desde setembro da agência americana de inteligência.
A informação foi publicada pelo "New York Times" sem, no entanto, identificar nominalmente os dois funcionários, que, por questões de segurança, são conhecidos só por pseudônimos.
O afastamento comprova a existência de divergências entre Goss e seus principais subordinados. Uma dezena de altos responsáveis da CIA foi demitida ou aposentada nas últimas semanas. Goss quer reenquadrar uma instituição que a Casa Branca acredita ter feito o jogo dos democratas na última campanha presidencial.
Mas os problemas dos serviços americanos de inteligência são bem mais agudos e estruturais. Há a derrota que George W. Bush sofreu no Congresso no último fim de semana. Ele procurava aplicar recomendação do Congresso após o 11 de Setembro para criar um coordenador de todos os 15 serviços de inteligência do governo.
Opunham-se à ascensão desse "czar" deputados e senadores próximos do Pentágono, que perderia a autonomia orçamentária de seus próprios serviços. Somados, eles representam 80% dos US$ 40 bilhões que o governo gasta por ano no setor.
O "Financial Times" afirmou ontem que a tentativa de unificação -uma coordenação mais racional de agências muitas vezes empenhadas nas mesmas tarefas- caminhava, sem maior publicidade, para o arquivamento.
A CIA, apesar de ter maior reputação, é apenas uma agência civil que recebe bem menos dinheiro que as militares e que está no olho do furacão pela suposta deslealdade cometida contra Bush.
Bush manteve há quatro anos George Tenet como diretor. Ele havia sido nomeado por Bill Clinton. Tenet permaneceu no cargo até julho último. Agora, com Porter Goss operando o "expurgo", a agência tende a ser novamente confiável à Casa Branca.
Tanto que Bush pediu a Goss que estudasse o aumento de seus gastos em 50%, com a ampliação das equipes de agentes e de analistas de informações. Seria a maior expansão da CIA desde sua criação, em 1947.
Mas há nisso um paradoxo. Bush quer tirar da agência sua capacitação em operações militares clandestinas. Donald Rumsfeld, chefe do Pentágono, esforça-se para que isso aconteça desde que, em 2001, na guerra no Afeganistão, se queixou do atraso com que os agentes praticavam a varredura anterior à ação militar.
A resistência a esse plano, diz o "New York Times", parte das Forças Armadas, cujos estados maiores se opõem a uma ampliação abrupta de suas atribuições.
O tamanho verdadeiro da CIA é desconhecido. O Council on Foreign Relations, centro de pesquisas liberal, diz que ela reúne 20 mil dos 100 mil funcionários americanos de serviços secretos.
O assunto seria secundário se duas questões não colocassem em evidência a incompetência dos serviços de inteligência. O primeiro foi o 11 de Setembro, não devidamente mapeado em seus preparativos. A seguir, o Iraque de Saddam Hussein, que a CIA não acreditava possuir armas de destruição em massa, enquanto os serviços de inteligência militar -o que era interesse de Bush- levavam a hipótese a sério.


Com o "New York Times" e o "Financial Times"


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