São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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Eleito sul-coreano defende diálogo

DO "LE MONDE"

Eleito presidente sul-coreano na semana passada, o governista Roh Moo-hyun, 56, defende a continuidade da política de aproximação com a Coréia do Norte, a chamada Política da Luz Solar, concebida pelo atual presidente, Kim Dae-jung e criticada pela oposição. Com uma campanha marcada pelo antiamericanismo, em alta no país, Roh nega que colocará em risco a aliança com os EUA. Ele assume em fevereiro.
 

Pergunta - Em que direção o senhor espera que evoluam as relações com Washington?
Roh Moo-hyun -
No curso de minha campanha, destaquei muitas vezes a importância da aliança com os Estados Unidos. As especulações segundo as quais colocarei em risco essa aliança são completamente infundadas. Isto posto, minha posição sobre a questão norte-coreana pode ser diferente da adotada pela linha dura de Washington. E essa diferença se deve simplesmente ao fato de que sou coreano e coloco o interesse do meu país à frente do norte-americano, e não porque desejo solapar as fundações da aliança entre os Estados Unidos e a Coréia do Sul. Se viermos a encontrar uma solução pacífica para o problema das duas Coréias, creio que a aliança com os Estados Unidos evoluirá para uma parceria mais equilibrada, que contribua para a segurança comum de todo o nordeste da Ásia.

Pergunta - Para os seus adversários, a política de abertura e cooperação com o Norte, a chamada Política da Luz Solar, do presidente Kim Dae-jung, foi um fracasso. A escalada atual na questão nuclear seria a prova disso. Como o senhor pretende torná-la mais eficaz e, em especial, obter mais concessões de Pyongyang?
Roh -
Para começar, não há alternativa à Política da Luz Solar. Além disso, ela não fracassou. Mudanças significativas, mas subestimadas, aconteceram na Coréia do Norte, como resultado dessa política. Ela contribuiu, por exemplo, para remover em parte a capa doutrinária comunista que pesava sobre o país. Por outro lado, o objetivo que ela não atingiu foi o de convencer o campo conservador no Sul das vantagens, para o nosso país, de um envolvimento com o Norte. Pretendo dedicar meus esforços para convencer meus compatriotas de que não existe alternativa à busca de cooperação com a Coréia do Norte e de que é preciso adotar essa política de maneira firme, mas paciente.

Pergunta - No momento, o diálogo entre a Coréia do Norte e os Estados Unidos está bloqueado. O senhor supõe que a intervenção de terceiros, de fora da região, como a União Européia, possa funcionar como mediação e ajudar a obter um compromisso que restabeleça o diálogo?
Roh -
Com certeza. Será vital que tenhamos um novo e forte sinal sobre essa questão por parte da União Européia, como o foi a visita dos dirigentes europeus a Pyongyang, dois anos atrás. A Coréia do Norte já manifestou muitas vezes que confia mais nos países europeus do que nos Estados Unidos ou no Japão. A União Européia vem sendo um parceiro importante para a Coréia do Sul em diversos domínios, como a assistência humanitária, os direitos humanos e a questão nuclear. Creio que a União Européia ocupe hoje uma posição única para exercer influência positiva com o objetivo de criar uma solução pacífica para a crise atual e estimular a Coréia do Norte a evoluir daqui por diante.


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