São Paulo, Sábado, 27 de Fevereiro de 1999
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CERCO A DITADORES
Juiz de Paris se declara inapto para apreciar acusações de crimes contra a humanidade e narcotráfico
França rejeita processo a Fidel Castro

MARIANA SGARIONI
de Paris

A Justiça de Paris recusou ontem as três ações que foram apresentadas em janeiro passado contra o ditador cubano, Fidel Castro. Em dois casos, Castro estava sendo acusado de crimes contra a humanidade e, no terceiro, de tráfico de drogas.
As duas ações por crimes contra a humanidade são do fotógrafo francês Pierre Golendorf e do pintor cubano refugiado na França Lazaro Jordana. Os dois afirmam terem sido presos em Havana por motivos políticos entre as décadas de 70 e 80.
O terceiro processo foi aberto por Ileana de la Guardia, filha do general Antonio de la Guardia, antigo funcionário do governo de Castro, que foi condenado à morte e fuzilado, em Cuba, em 1989. Ele e outros três colegas, também mortos por fuzilamento, foram condenados por tráfico de drogas.
Ileana, que vive refugiada na França, afirma que o processo contra o general teria mascarado o envolvimento do regime castrista no tráfico de drogas. Ela diz que seu pai não fez nada mais do que obedecer às ordens de Fidel Castro.
O advogado de Ileana apresentou ao juiz de instrução parisiense Hervé Stephan uma fita de vídeo em que um funcionário da Embaixada de Cuba na Colômbia afirma que o embaixador cubano seria o representante de Castro junto ao Cartel de Medellín.
Stephan não aceitou nenhum dos três processos por entender que a Justiça de Paris não é competente para julgar as ações. Segundo ele, Ileana de la Guardia não está qualificada para o processo, uma vez que ela "não é vítima direta" dentro do caso de tráfico de entorpecentes que pretende denunciar.
As três ações foram apresentadas na Justiça francesa na esteira da prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet, detido desde 16 de outubro em Londres. Se extraditado para a Espanha, como requisita o juiz espanhol Baltasar Garzón, ele será processado por crimes relacionados ao regime militar no Chile (1973-90).

Tráfico e apoio ao Chacal
Uma das testemunhas de acusação contra Fidel foi Juan Antonio Rodriguez, ex-funcionário do Ministério do Interior de Cuba. Ele diz que o líder cubano é o responsável por uma rede de narcotráfico para EUA, França e Holanda.
Castro também teria financiado ações na Europa de Carlos, o Chacal, o terrorista mais famoso do mundo, detido na França.
Segundo Rodriguez, um chefe da espionagem cubano alugou, em 1975, cinco apartamentos em Paris -três teriam sido postos à disposição de Carlos. Exatamente nessa época, ocorreu um atentado terrorista atribuído ao Chacal que deixou três mortos na cidade.
"Os serviços de informação de Cuba organizaram uma rede de narcotráfico para poder mandar ajuda aos movimentos de guerrilha na América Central e para financiar suas operações secretas", afirmou Rodriguez.


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