São Paulo, Sábado, 27 de Fevereiro de 1999
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DEMOCRACIA NA ÁFRICA
O mais populoso país africano elege hoje o presidente após 15 anos de regime militar; Obasanjo é favorito
Nigéria faz eleição para encerrar ditadura

France Presse
Nigerianos superlotam estação de ônibus de Oshodi, em Lagos, na véspera das eleições presidenciais


das agências internacionais

A Nigéria, país mais populoso da África (mais de 110 milhões de habitantes), realiza hoje eleições presidenciais que devem encerrar 15 anos de ditadura militar.
Cerca de 40 milhões de eleitores estão registrados para votar. Os candidatos favoritos são o ex-general e ex-presidente Olusegun Obasanjo e o ex-ministro das Finanças Olu Falae.
A comissão eleitoral anunciou ontem estar tomando duras medidas para evitar fraudes. As cerca de 60 milhões de cédulas foram impressas no exterior e distribuídas de helicóptero em todo o país.
Obasanjo governou a Nigéria entre 1976 e 1979. Foi preso em 1995, acusado de tramar um golpe contra o então ditador, Sani Abacha. Com a morte de Abacha, no ano passado, acabou sendo libertado.
Seu Partido Democrático Popular ganhou maioria folgada nas duas casas do Parlamento nas eleições legislativas realizadas no sábado passado.
Falae também esteve preso, por 18 meses, durante o governo Abacha. Encabeça uma coalizão de dois partidos enfraquecida pela perda de políticos importantes para o lado adversário.
Os dois favoritos pertencem à tribo dos iorubas, do sudoeste do país. Pela primeira vez numa eleição presidencial não há candidatos da maioria muçulmana de língua haussa, do norte, que dominou a política do país desde a independência do Reino Unido, em 1960.
A redemocratização da Nigéria ganhou força após a morte do ditador Abacha, em junho de 98. Seu sucessor, o general Abdulsalam Abubakar, confirmou a realização das eleições e a transição do poder para os civis no dia 29 de maio.
A cúpula do Exército, que continua a ser o setor mais influente no país, se comprometeu a respeitar o novo governo, independentemente de quem vencer as eleições.
Durante a campanha, nenhum dos candidatos abordou o tema da corrupção no país -os governantes militares enriqueceram negociando contratos de exploração com multinacionais petrolíferas, enquanto a pobreza toma conta da maior parte da população.

Abiola
A transição democrática foi marcada pela morte de Moshood Abiola, presidente eleito em 1993 e detido após o golpe de Abacha.
Em julho passado, após a morte do ditador, Abiola, que personificava a luta contra a ditadura e era favorito para o pleito presidencial de hoje, deveria ser solto.
Mas ele morreu pouco antes, na prisão. Legistas dos EUA e do Canadá que o examinaram disseram que a morte foi causada por parada cardíaca. Seus simpatizantes acusaram o governo de tê-lo envenenado e promoveram violentos protestos, que resultaram na mortes de mais de 60 pessoas.


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