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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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Candidaturas de Menem, Kirchner e Rodríguez Saá põem em xeque espólio político do general Juan Perón

Disputa desfigura movimento peronista

DO ENVIADO A BUENOS AIRES

As caixas de som multiplicam uma voz que parece saída de um gramofone ao cantar a "Marcha Peronista", hino oficial do peronismo ou, mais que isso, uma ode ao general Juan Domingo Perón, criador do movimento que dominou a política argentina no último meio século.
"Por ese gran argentino/que se supo conquistar/a la gran masa del pueblo/combatiendo el capital", diz a estrofe.
Combatendo o capital? Só mesmo num hipotético gramofone. O fragmentado peronismo de hoje tem pouco parentesco com o que foi o movimento populista mais forte da América Latina.
O que mais se aproxima do modelo "combatendo o capital" é Néstor Kirchner, que governou a remota Província de Santa Cruz durante 12 anos consecutivos.
Costuma dizer que não será "um gerente do establishment" e que subordinará "o poder econômico ao poder político".
Além disso, sua proposta para a renegociação da dívida externa, que o governo parou de pagar há um ano e meio, prevê um desconto grande e um prazo muito longo, 50 anos, para o pagamento.
Não é exatamente o candidato preferido dos mercados, mas tampouco é tido como revolucionário.
No outro extremo fica Carlos Saúl Menem, que se elegeu, em 1989, prometendo um "salariazo" e entregou uma revolução liberal que nada tinha a ver com as tradições peronistas.
Mesmo os meios de comunicação que o apóiam dizem que é o candidato dos mercados (ao lado de López Murphy).
No meio de ambos, o também ex-governador (e ex-presidente por uma semana) Adolfo Rodríguez Saá, que tem em comum com Menem as suspeitas de corrupção, no longo reinado de 20 anos na Província de San Luis.
"Rodríguez Saá parece saído de um manual do peronista típico", brinca o analista Oscar Raúl Cardoso, pelo discurso populista.
Foi ele quem decretou a moratória da dívida externa argentina, o maior calote da história. Combatendo então o capital? Não, apenas não havia um centavo para pagar a dívida.
É possível que a fragmentação do peronismo em três candidaturas que criticam umas às outras tanto ou mais do que criticam os demais adversários possa ser remendada depois da eleição, se um deles ganhar.
Mas é também possível que o movimento que ganhou seis das oito eleições realizadas desde sua criação (quando, obviamente, não estava proscrito) sofra o mesmo penoso destino de sua mais tradicional adversária, a UCR (União Cívica Radical).
(CLÓVIS ROSSI)


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