São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Hizbollah mata 9 em emboscada

Número de baixas é o maior do Exército de Israel desde o início do conflito; crescem críticas à estratégia

Ação, que deixou outros 19 militares feridos, ocorreu na aldeia xiita de Bint Jbeil, principal centro de comando do grupo no sul do Líbano


Carlos Barria/Reuters
Soldado israelense protege a audição em disparo da artilharia em Fassuta, sul do Líbano; em outro local nove militares de Israel foram mortos em emboscada


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE HAIFA

Milicianos do Hizbollah mataram ontem nove militares de Israel numa emboscada na aldeia xiita de Bint Jbeil, principal centro de comando do grupo no sul do Líbano. Outros 19 militares ficaram feridos, dos quais três em estado grave, no dia com maior número de baixas do Exército israelense. Redes de TV israelenses chegaram a falar em 14 mortos, mas não houve confirmação oficial.
Anteontem, militares israelenses chegaram a anunciar que haviam tomado o controle da aldeia, mostraram corpos e armas de membros do Hizbollah, mas foram surpreendidos pelo grupo. Na aldeia de Marou al Ras, que está sob ocupação israelense há três dias, outro oficial foi morto ontem e dois ficaram feridos com gravidade pelo disparo de um míssil do Hizbollah.
Com as baixas, cresceram as crítica internas em Israel ao planejamento da operação. Vozes de dentro do Exército pedem ampliação da operação e alegam que o comando falhou na avaliação das informações de inteligência.
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, recebeu as notícias das baixas durante reunião com deputados do Knesset, o Parlamento israelense. Depois, em visita a cidades do norte de Israel atingidas por foguetes Katyushas, disse: "Não pretendo dizer quando a missão termina. Eles [o Hizbollah] perceberão sozinhos, e pelo caminho mais duro".
À noite, Olmert convocou seu gabinete de segurança para debater os próximo passos do conflito. Segundo fontes militares, milicianos do Hizbollah atacaram uma força avançada de Israel que se aproximava de casas em uma das entradas da aldeia de Birt Jbeil, de 20 mil habitantes, a cerca de cinco quilômetros da fronteira.
A ofensiva em Bint Jbeil é parte do plano israelense de atacar o Hizbollah no sul do Líbano para ocupar uma zona de segurança na região, até a chegada de tropas internacionais. Soldados de Israel começaram incursões ao leste.
O Exército diz ter matado ontem "dezenas" de guerrilheiros, destruído centros de comando e encontrado depósitos de armas e munição em túneis e em mesquitas. O Hizbollah admite oito mortos.

"Nova fase"
"Nós lutamos uma guerra de guerrilhas. O importante são as baixas que infligimos a Israel", disse o líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, em entrevista ontem à TV Al Arabiya.
Em pronunciamento de madrugada, Nasrallah dissera que o confronto entraria numa "nova fase" e ameaçou lançar foguetes para atingir Tel Aviv, a maior cidade israelense. Ele disse estar aberto a negociações de cessar-fogo, mas sem "condições humilhantes".
O discurso do dirigente do Hizbollah, o quarto pela TV desde que Israel começou a ofensiva, pode ter colocado Tel Aviv na mira do grupo xiita, mas também instalou nos libaneses uma sensação de que o pior ainda está por vir. A impressão é de que, se realmente atingirem localidades israelenses além de Haifa, a 30 km da fronteira libanesa, a reação do Estado judeu será devastadora.
"Quando parecia surgir uma pequena janela de oportunidade para o fim da violência, o conflito ganhou um ritmo ainda mais acelerado. A impressão agora é de que ainda estamos caminhando para o clímax do confronto", disse o analista político Ahmad Moussali. "A diplomacia falhou e os dois lados não recuam. É uma tragédia."
A perspectiva de que Tel Aviv seja atingida assusta os moradores da capital. "Nasrallah não quer ficar atrás de Saddam Hussein", diz o engenheiro Raymond, que prefere não dizer o sobrenome, enquanto toma um café em Hamra, centro antigo de Beirute. Ele lembra: em 1991, na Guerra do Golfo, dezenas de mísseis lançados pelo regime do ex-ditador iraquiano atingiram os subúrbios de Tel Aviv.
"Desta vez é diferente. Israel está travando essa guerra sozinho e não vai tolerar um ataque a sua maior cidade. Quem sofrerá, mais uma vez, são os civis libaneses." O Hizbollah disparou ontem mais de 120 foguetes Katyusha contra o norte de Israel, que feriram quatro civis -um deles com gravidade. As barragens de Katyusha atingiram pelo menos seis cidades da Galiléia, além dos subúrbios de Haifa. Israel bombardeou um prédio na cidade de Tiro, na costa libanesa, onde ficava o escritório de Nabil Kaouk, um dos líderes do Hizbollah. Ele não estava no local.
Na madrugada de hoje (noite de ontem no Brasil), rádios locais diziam que Israel havia atingido uma base do Exército libanês e uma estação de retransmissão da rádio estatal libanesa em Aamchit, 50 km ao norte de Beirute.

Colaborou MARCELO NINIO, enviado especial a Beirute

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