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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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ONU reúne 5.000 em atos por Vieira de Mello

FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM GENEBRA

Cerca de 3.000 funcionários da ONU realizaram, ao meio-dia de ontem, em Genebra, uma marcha silenciosa em homenagem às vítimas do atentado contra o prédio da entidade em Bagdá na semana passada, que provocou a morte do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Em Nova York, também ao meio-dia, um ato similar, liderado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reuniu em torno de 2.000 pessoas.
"Estamos todos vivendo um sentimento de tristeza, choque e raiva, pois pensamos que nossos colegas não deveriam ter sido expostos a uma situação de tal risco", disse Naveed Hussain, presidente do sindicato dos funcionários do Alto Comissariado de Refugiados da ONU, presente ao ato de Genebra.
"Somos conscientes de que trabalhamos em locais que representam um certo perigo, mas, ao mesmo tempo, não somos mártires. Os funcionários trabalham para salvar vidas, não para dar suas vidas, e esperam ser protegidos pela comunidade internacional. Será preciso melhorar as condições de segurança, senão será cada vez mais difícil achar voluntários para essas missões", disse.
Bertrand Ramcharan, alto comissário-adjunto da ONU para os Direitos Humanos, substituto interino de Vieira de Mello no comando da organização, defendeu uma reavaliação das questões de segurança envolvendo a entidade e procurou desmentir que esteja ocorrendo uma redução do quadro de funcionários em áreas de risco. "Estamos realizando um reagrupamento temporário, não se trata de redução", explicou.
Esquivando-se de falar sobre os eventuais culpados pela situação que culminou na tragédia, ele disse ter, hoje, apenas uma certeza: "Não posso prever o que vai ocorrer a longo prazo, mas não podemos nunca retroceder".
Entre os participantes da procissão, a grande maioria levando uma rosa amarela na mão, o clima foi bastante emotivo, com cenas de choro, mas também de revolta.
"Pessoalmente, sinto-me desencorajada. A ONU não pode mais aceitar certas situações. A comunidade internacional precisa agir no Iraque, mas em outras condições, com uma definição mais clara e sólida de suas funções", afirmou, chorando, a libanesa Nahla Haiban, 52, que trabalhou com Viera de Mello na ONU em 1998.
A brasileira Jordana Nunes, 23, de Belo Horizonte, funcionária da Organização de Assuntos Humanitários, afirmou que o ambiente na ONU está pesado: "Há uma insegurança crescente, todo mundo se pergunta quem será o próximo", disse.
Vieira de Mello será sepultado na tarde de amanhã, em Genebra. Ontem, a viúva, Anne Marie, e os filhos, Laurent e Adrien, visitaram o cemitério de Plainpalais para escolher o local exato do sepultamento, restrito a convidados da família. Antes, será celebrada uma missa na igreja Saint-Paul, seguida de uma outra, à noite, organizada pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos.


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