|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ONU reúne 5.000 em atos por Vieira de Mello
FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM GENEBRA
Cerca de 3.000 funcionários da
ONU realizaram, ao meio-dia de
ontem, em Genebra, uma marcha
silenciosa em homenagem às vítimas do atentado contra o prédio
da entidade em Bagdá na semana
passada, que provocou a morte
do diplomata brasileiro Sérgio
Vieira de Mello. Em Nova York,
também ao meio-dia, um ato similar, liderado pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reuniu
em torno de 2.000 pessoas.
"Estamos todos vivendo um
sentimento de tristeza, choque e
raiva, pois pensamos que nossos
colegas não deveriam ter sido expostos a uma situação de tal risco", disse Naveed Hussain, presidente do sindicato dos funcionários do Alto Comissariado de Refugiados da ONU, presente ao ato
de Genebra.
"Somos conscientes de que trabalhamos em locais que representam um certo perigo, mas, ao
mesmo tempo, não somos mártires. Os funcionários trabalham
para salvar vidas, não para dar
suas vidas, e esperam ser protegidos pela comunidade internacional. Será preciso melhorar as condições de segurança, senão será
cada vez mais difícil achar voluntários para essas missões", disse.
Bertrand Ramcharan, alto comissário-adjunto da ONU para os
Direitos Humanos, substituto interino de Vieira de Mello no comando da organização, defendeu
uma reavaliação das questões de
segurança envolvendo a entidade
e procurou desmentir que esteja
ocorrendo uma redução do quadro de funcionários em áreas de
risco. "Estamos realizando um
reagrupamento temporário, não
se trata de redução", explicou.
Esquivando-se de falar sobre os
eventuais culpados pela situação
que culminou na tragédia, ele disse ter, hoje, apenas uma certeza:
"Não posso prever o que vai ocorrer a longo prazo, mas não podemos nunca retroceder".
Entre os participantes da procissão, a grande maioria levando
uma rosa amarela na mão, o clima
foi bastante emotivo, com cenas
de choro, mas também de revolta.
"Pessoalmente, sinto-me desencorajada. A ONU não pode
mais aceitar certas situações. A
comunidade internacional precisa agir no Iraque, mas em outras
condições, com uma definição
mais clara e sólida de suas funções", afirmou, chorando, a libanesa Nahla Haiban, 52, que trabalhou com Viera de Mello na ONU
em 1998.
A brasileira Jordana Nunes, 23,
de Belo Horizonte, funcionária da
Organização de Assuntos Humanitários, afirmou que o ambiente
na ONU está pesado: "Há uma insegurança crescente, todo mundo
se pergunta quem será o próximo", disse.
Vieira de Mello será sepultado
na tarde de amanhã, em Genebra.
Ontem, a viúva, Anne Marie, e os
filhos, Laurent e Adrien, visitaram
o cemitério de Plainpalais para escolher o local exato do sepultamento, restrito a convidados da
família. Antes, será celebrada
uma missa na igreja Saint-Paul,
seguida de uma outra, à noite, organizada pelo Alto Comissariado
para os Direitos Humanos.
Texto Anterior: Mídia faz crítica por efeitos externos negativos Próximo Texto: Diplomata não queria ir para o Iraque, diz mãe Índice
|