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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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Perto da morte, brasileiro falou da família e perguntou de colegas

DA ASSOCIATED PRESS

Em seus últimos momentos de vida, preso nos escombros da sede da ONU em Bagdá, o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, chefe da missão no Iraque, contou sobre sua família e sua casa no Brasil ao militar americano que tentava resgatá-lo e perguntou como estavam os funcionários que trabalhavam com ele.
"Como está todo mundo? Quantas pessoas se feriram? Você pode me contar o que ocorreu?", lembra o primeiro sargento William von Zehle, 52, de ouvir o diplomata perguntar. "Eu pensava: ele está numa condição de ferido e ainda pensa nas outras pessoas."
Vieira de Mello também fez um pedido ao militar da reserva, que acha que poderia tê-lo salvado se estivesse com os equipamentos adequados. "Não deixe que acabem com a representação da ONU."
Essas revelações fazem parte de uma carta que Von Zehle encaminhou à ONU em Bagdá com o relato do que ouviu do diplomata nos últimos momentos de vida.
Ao saber, depois, quem ele havia tentado resgatar, o sargento achou que tinha a "obrigação moral" de contar ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e à família de Viera de Mello quais haviam sido suas últimas palavras. "Achei que gostariam de saber o cavalheiro que havia sido até o final."
Von Zehle escreveu uma carta de uma página, mas não quis revelar mais detalhes do que contou. Ele disse que, se fizesse isso, trairia a confiança do diplomata.
Num ato no aeroporto de Bagdá na sexta-feira, o diretor do programa da ONU Petróleo por Comida, Benon Sevan, se referiu à carta, especificamente ao trecho em que Vieira de Mello pede que a ONU siga seu trabalho no Iraque.
No velório no Rio, Annan fez o mesmo, dizendo que havia sido um dos últimos pedidos do diplomata: "Vamos respeitar isso".


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