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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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"EIXO DO MAL"

Programa nuclear do país é o tema de reunião entre EUA, China, Coréias, Japão e Rússia, a partir de hoje

Cúpula discute ameaça norte-coreana

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Um clima de desconfiança cordial marcou a véspera do início da cúpula sobre o programa nuclear norte-coreano ontem, em Pequim, onde os norte-coreanos passaram uma mensagem dúbia, misturando sorrisos com ameaças, e a China exortou os outros participantes (as duas Coréias, o Japão, os EUA e a Rússia) a ter paciência durante as negociações.
Já os EUA, o principal antagonista da Coréia do Norte na questão nuclear, o Japão e a Coréia do Sul se reuniram para tentar harmonizar suas posições, visando falar com uma só voz durante a cúpula, que começa hoje e deverá terminar na próxima sexta-feira.
Contudo o clima pré-encontro foi frio, apesar da primeira reunião informal entre as seis delegações durante um banquete, de acordo com a agência de notícias russa Itar-Tass. Para analistas ouvidos pela Folha, a falta de esperança de assinatura de um acordo provoca essa situação.
"A Rússia, a China, o Japão, a Coréia do Sul e os EUA têm prioridades distintas, o que torna as perspectivas da cúpula sombrias. E nenhum país, incluindo a Coréia do Norte, aposta na confiabilidade nem nas preferências políticas de Washington", analisou Davis Bobrow, especialista em segurança e geoestratégia do Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA).
"Ademais, nenhuma das partes crê que a Coréia do Norte venha a cumprir suas promessas, visto que se trata de uma atitude que Pyongyang já teve no passado. Em suma, ninguém quer a deflagração de uma crise, mas, além da Coréia do Sul, ninguém parece disposto a fazer as concessões necessárias para chegar a um verdadeiro acordo", acrescentou.
Os fatos parecem corroborar essa tese. Ainda segundo a Itar-Tass, o único ponto de acordo ontem, em Pequim, dizia respeito à provável realização de uma nova reunião antes do final deste ano.
"A cúpula é positiva, pois ajuda a atenuar a tensão na região. Todavia há um problema central: Washington exige o desmantelamento do programa nuclear norte-coreano antes de fazer concessões, e Pyongyang quer garantias de segurança antes de desativar seu programa. Ora, alguém terá de mudar de idéia ou não haverá acordo", avaliou Charles Tilly, da Universidade Columbia (EUA).
A China, que busca evitar uma crise na península da Coréia, pediu moderação, e o chefe de sua delegação, o vice-chanceler Wang Yi, visitou seus colegas dos outros países. "A China espera que todas as partes sejam sinceras na busca de um acordo", afirmou Wang.
"A China é o único país capaz de influenciar a Coréia do Norte, porém seu peso é limitado pelo nacionalismo norte-coreano, por seu próprio desejo de evitar um afluxo de refugiados da Coréia do Norte e por sua aversão ao aumento da influência dos EUA na região, o que poderia ocorrer se Pyongyang aceitasse um novo acordo", apontou Bobrow.
As relações entre Pyongyang e Tóquio continuam instáveis. Anteontem, o Japão deteve uma balsa norte-coreana suspeita de contrabandear componentes de mísseis. Parlamentares japoneses da situação já estudam a possibilidade de reformar a Constituição pacifista do país por conta da ameaça nuclear norte-coreana.
"Tóquio tem uma posição muito mais dura que Seul sobre a Coréia do Norte e sobre suas supostas armas de destruição em massa. O Japão não fará concessões se não obtiver garantias claras dos norte-coreanos", disse Jaeho Yeom, especialista em Japão da Universidade da Coréia (Seul).
Para pressionar ainda mais Pyongyang, os EUA afirmaram que o consórcio internacional que ajuda os norte-coreanos a construir um reator nuclear (como parte de um acordo firmado em 1994) poderá suspender seus trabalhos em setembro. Em outubro passado, um alto funcionário do governo americano anunciou que a Coréia do Norte tinha admitido ter um programa nuclear secreto, o que gerou a crise atual.


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