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"EIXO DO MAL"
Programa nuclear do país é o tema de reunião entre EUA, China, Coréias, Japão e Rússia, a partir de hoje
Cúpula discute ameaça norte-coreana
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Um clima de desconfiança cordial marcou a véspera do início da
cúpula sobre o programa nuclear
norte-coreano ontem, em Pequim, onde os norte-coreanos
passaram uma mensagem dúbia,
misturando sorrisos com ameaças, e a China exortou os outros
participantes (as duas Coréias, o
Japão, os EUA e a Rússia) a ter paciência durante as negociações.
Já os EUA, o principal antagonista da Coréia do Norte na questão nuclear, o Japão e a Coréia do
Sul se reuniram para tentar harmonizar suas posições, visando
falar com uma só voz durante a
cúpula, que começa hoje e deverá
terminar na próxima sexta-feira.
Contudo o clima pré-encontro
foi frio, apesar da primeira reunião informal entre as seis delegações durante um banquete, de
acordo com a agência de notícias
russa Itar-Tass. Para analistas ouvidos pela Folha, a falta de esperança de assinatura de um acordo
provoca essa situação.
"A Rússia, a China, o Japão, a
Coréia do Sul e os EUA têm prioridades distintas, o que torna as
perspectivas da cúpula sombrias.
E nenhum país, incluindo a Coréia do Norte, aposta na confiabilidade nem nas preferências políticas de Washington", analisou
Davis Bobrow, especialista em segurança e geoestratégia do Centro
Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA).
"Ademais, nenhuma das partes
crê que a Coréia do Norte venha a
cumprir suas promessas, visto
que se trata de uma atitude que
Pyongyang já teve no passado.
Em suma, ninguém quer a deflagração de uma crise, mas, além da
Coréia do Sul, ninguém parece
disposto a fazer as concessões necessárias para chegar a um verdadeiro acordo", acrescentou.
Os fatos parecem corroborar essa tese. Ainda segundo a Itar-Tass, o único ponto de acordo ontem, em Pequim, dizia respeito à
provável realização de uma nova
reunião antes do final deste ano.
"A cúpula é positiva, pois ajuda
a atenuar a tensão na região. Todavia há um problema central:
Washington exige o desmantelamento do programa nuclear norte-coreano antes de fazer concessões, e Pyongyang quer garantias
de segurança antes de desativar
seu programa. Ora, alguém terá
de mudar de idéia ou não haverá
acordo", avaliou Charles Tilly, da
Universidade Columbia (EUA).
A China, que busca evitar uma
crise na península da Coréia, pediu moderação, e o chefe de sua
delegação, o vice-chanceler Wang
Yi, visitou seus colegas dos outros
países. "A China espera que todas
as partes sejam sinceras na busca
de um acordo", afirmou Wang.
"A China é o único país capaz de
influenciar a Coréia do Norte, porém seu peso é limitado pelo nacionalismo norte-coreano, por
seu próprio desejo de evitar um
afluxo de refugiados da Coréia do
Norte e por sua aversão ao aumento da influência dos EUA na
região, o que poderia ocorrer se
Pyongyang aceitasse um novo
acordo", apontou Bobrow.
As relações entre Pyongyang e
Tóquio continuam instáveis. Anteontem, o Japão deteve uma balsa norte-coreana suspeita de contrabandear componentes de mísseis. Parlamentares japoneses da
situação já estudam a possibilidade de reformar a Constituição pacifista do país por conta da ameaça nuclear norte-coreana.
"Tóquio tem uma posição muito mais dura que Seul sobre a Coréia do Norte e sobre suas supostas armas de destruição em massa. O Japão não fará concessões se
não obtiver garantias claras dos
norte-coreanos", disse Jaeho
Yeom, especialista em Japão da
Universidade da Coréia (Seul).
Para pressionar ainda mais
Pyongyang, os EUA afirmaram
que o consórcio internacional que
ajuda os norte-coreanos a construir um reator nuclear (como
parte de um acordo firmado em
1994) poderá suspender seus trabalhos em setembro. Em outubro
passado, um alto funcionário do
governo americano anunciou que
a Coréia do Norte tinha admitido
ter um programa nuclear secreto,
o que gerou a crise atual.
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