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"Sharon sai fortalecido", diz analista israelense
GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO
O premiê Ariel Sharon sabe que
saiu fortalecido da votação de ontem no Knesset (Parlamento) e
não deve ceder às pressões feitas
por opositores ao plano de retirada de Gaza para que ele convoque
um referendo.
A afirmação é do professor de
ciência política da Universidade
Hebraica de Jerusalém David Lazar, feita logo após o plano de
Sharon ser aprovado no Knesset.
Leia a seguir trechos da entrevista,
por telefone, à Folha, de Israel.
Folha - Sharon saiu fortalecido da
votação?
David Lazar - Certamente. O número de votos a favor do plano foi
bem superior ao de opositores à
medida. E Sharon conta ainda
com o apoio de 60% a 70% da população israelense, que quer a retirada das colônias de Gaza.
Folha - Após a aprovação no
Knesset, está descartada a convocação de um referendo?
Lazar - Alguns ministros do Likud ameaçaram deixar o poder se
Sharon não anunciar a convocação de um referendo nos próximos 15 dias. Na política israelense, duas semanas são muito tempo. Mas Sharon não deve ceder.
Ele sabe que isso é uma tática dos
opositores e que demoraria meses
até a votação.
Folha - E se ele não tiver mais
maioria para governar?
Lazar - Se os ministros decidirem sair, Sharon terá duas possibilidades: convocar eleições gerais, nas quais ele deveria sair vencedor de qualquer maneira e que
demoram apenas 90 dias para serem realizadas após a dissolução
do governo, ou então chamar os
trabalhistas para o seu governo.
Folha - Mas o Likud votou contra
os trabalhistas no governo.
Lazar - Sharon dirá até logo aos
membros do Likud que quiserem
ir embora. Basicamente, o partido
ficaria rachado. Quem seguir Sharon fica no governo.
Folha - E Benyamin Netanyahu
(segundo principal líder do Likud)
não tem força para fazer frente a
Sharon?
Lazar - Netanyahu sabe que é o
herdeiro natural de Sharon. E sabe também que romper com o
premiê, que é mais popular, não o
ajudará no futuro.
Folha - Os trabalhistas aceitariam
integrar o governo?
Lazar - Os trabalhistas têm três
pilares na sua ideologia: fim da
ocupação, maior preocupação social e redução do poder dos religiosos. Sharon quer sair de Gaza.
A votação de hoje também deve
mudar a maneira como o premiê
vê os religiosos. Todos eles votaram contra o seu plano, e Sharon
não vai esquecer disso. Portanto,
Sharon e os trabalhistas, da esquerda, concordam em dois pontos. Na questão social, os trabalhistas teriam de ceder um pouco.
Folha - Há risco de guerra civil?
Lazar - Não acredito que vá
ocorrer uma guerra civil. Os colonos receberão uma série de compensações para deixar as suas casas. Claro, alguns radicais partirão para o enfrentamento, e existe
sempre o risco de violência.
Folha - Sharon pretende fortalecer a presença de Israel na Cisjordânia?
Lazar - O plano de Sharon aparentemente é incorporar as principais colônias na Cisjordânia a
Israel e desmantelar as isoladas.
Ele já deixou claro isso. Não existe
projeto prevendo que toda a Cisjordânia passe para as mãos israelenses. Isso seria inviável, e os judeus poderiam se tornar minoria
dentro do próprio país.
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