São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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"Sharon sai fortalecido", diz analista israelense

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

O premiê Ariel Sharon sabe que saiu fortalecido da votação de ontem no Knesset (Parlamento) e não deve ceder às pressões feitas por opositores ao plano de retirada de Gaza para que ele convoque um referendo.
A afirmação é do professor de ciência política da Universidade Hebraica de Jerusalém David Lazar, feita logo após o plano de Sharon ser aprovado no Knesset. Leia a seguir trechos da entrevista, por telefone, à Folha, de Israel.
 

Folha - Sharon saiu fortalecido da votação?
David Lazar -
Certamente. O número de votos a favor do plano foi bem superior ao de opositores à medida. E Sharon conta ainda com o apoio de 60% a 70% da população israelense, que quer a retirada das colônias de Gaza.

Folha - Após a aprovação no Knesset, está descartada a convocação de um referendo?
Lazar -
Alguns ministros do Likud ameaçaram deixar o poder se Sharon não anunciar a convocação de um referendo nos próximos 15 dias. Na política israelense, duas semanas são muito tempo. Mas Sharon não deve ceder. Ele sabe que isso é uma tática dos opositores e que demoraria meses até a votação.

Folha - E se ele não tiver mais maioria para governar?
Lazar -
Se os ministros decidirem sair, Sharon terá duas possibilidades: convocar eleições gerais, nas quais ele deveria sair vencedor de qualquer maneira e que demoram apenas 90 dias para serem realizadas após a dissolução do governo, ou então chamar os trabalhistas para o seu governo.

Folha - Mas o Likud votou contra os trabalhistas no governo.
Lazar -
Sharon dirá até logo aos membros do Likud que quiserem ir embora. Basicamente, o partido ficaria rachado. Quem seguir Sharon fica no governo.

Folha - E Benyamin Netanyahu (segundo principal líder do Likud) não tem força para fazer frente a Sharon?
Lazar -
Netanyahu sabe que é o herdeiro natural de Sharon. E sabe também que romper com o premiê, que é mais popular, não o ajudará no futuro.

Folha - Os trabalhistas aceitariam integrar o governo?
Lazar -
Os trabalhistas têm três pilares na sua ideologia: fim da ocupação, maior preocupação social e redução do poder dos religiosos. Sharon quer sair de Gaza. A votação de hoje também deve mudar a maneira como o premiê vê os religiosos. Todos eles votaram contra o seu plano, e Sharon não vai esquecer disso. Portanto, Sharon e os trabalhistas, da esquerda, concordam em dois pontos. Na questão social, os trabalhistas teriam de ceder um pouco.

Folha - Há risco de guerra civil?
Lazar -
Não acredito que vá ocorrer uma guerra civil. Os colonos receberão uma série de compensações para deixar as suas casas. Claro, alguns radicais partirão para o enfrentamento, e existe sempre o risco de violência.

Folha - Sharon pretende fortalecer a presença de Israel na Cisjordânia?
Lazar -
O plano de Sharon aparentemente é incorporar as principais colônias na Cisjordânia a Israel e desmantelar as isoladas. Ele já deixou claro isso. Não existe projeto prevendo que toda a Cisjordânia passe para as mãos israelenses. Isso seria inviável, e os judeus poderiam se tornar minoria dentro do próprio país.


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