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IRAQUE SOB TUTELA
Parecer do governo diz que Convenções de Genebra não se aplicam a não-iraquianos detidos; ONGs discordam
EUA "flexibilizam" lei de guerra no Iraque
DOUGLAS JEHL
DO "NEW YORK TIMES"
Um novo parecer legal do governo Bush concluiu que alguns
prisioneiros não-iraquianos capturados por forças americanas no
Iraque não têm direito às garantias das Convenções de Genebra,
afirmaram ontem funcionários
do governo dos EUA.
O parecer, elaborado nos últimos meses, estabelece uma exceção importante a declarações públicas pelo governo Bush desde
março de 2003 de que as Convenções de Genebra se aplicavam a
prisioneiros do conflito no Iraque, disseram os funcionários.
Eles afirmaram que o parecer
essencialmente permite que militares e a CIA tratem ao menos um
pequeno número de prisioneiros
não-iraquianos capturados no
Iraque da mesma forma que
membros da Al Qaeda capturados no Afeganistão, no Paquistão
ou em outros locais. Para os EUA,
as Convenções de Genebra não se
aplicam a terroristas da Al Qaeda
pois eles não são prisioneiros de
guerra, ligados a um Exército oficial, mas "combatentes ilegais".
Os funcionários do governo dos
EUA resumiram o parecer ontem
em resposta a uma reportagem
publicada no diário "The Washington Post" no fim de semana.
O texto afirmava que a CIA havia
transferido secretamente 12 prisioneiros não-iraquianos para fora do Iraque nos últimos 18 meses, apesar de as Convenções de
Genebra proibirem a deportação
de civis de territórios ocupados.
Desde o início de 2002, os EUA
transferiram centenas de prisioneiros da Al Qaeda e do Taleban à
base americana de Guantánamo,
em Cuba. Os funcionários do governo disseram que os prisioneiros capturados no Iraque não seriam levados a Guantánamo, mas
não quiseram dizer para onde eles
estavam sendo enviados.
Eles afirmaram ainda que o novo parecer representava um consenso entre advogados dos departamentos de Estado, da Justiça e
da Defesa, do Conselho de Segurança Nacional e de outras agências, envolvidos em discussões
desde março deste ano, quando o
Departamento da Justiça fez circular um memorando inicial a
respeito do assunto. Um dos funcionários do governo ouvidos ontem afirmou que o parecer foi pedido pela CIA para estabelecer a
legalidade de suas transferências
secretas de prisioneiros não-iraquianos, a partir de abril de 2003,
para interrogá-los fora do Iraque.
"Vazio legal"
O conselheiro jurídico da Human Rights Watch, Reed Brody,
disse à Folha que as Convenções
de Genebra se aplicam aos prisioneiros não-iraquianos, já que são
aplicáveis a qualquer pessoa capturada no campo de batalha em
um país ocupado. Para ele, o parecer usa "um argumento jurídico
muito torcido", mas o mais importante é assegurar que alguma
legislação seja aplicada aos prisioneiros, evitando um "vazio legal".
A principal preocupação da
HRW, afirmou, é com o que está
sendo feito na prática com os detidos. "Há cada vez mais evidências
de que detidos estão "desaparecendo" nas mãos da CIA", disse.
"Suspeitos no Iraque são enviados a lugares secretos, sem acesso
nem mesmo à Cruz Vermelha."
A porta-voz da Cruz Vermelha
Antonella Notari emitiu opinião
semelhante à agência Reuters. Para ela, independentemente de as
Convenções serem ou não aplicáveis, todos os prisioneiros precisam estar cobertos por alguma legislação, seja ela internacional,
americana ou iraquiana.
"O importante é não deter pessoas fora de qualquer estrutura legal. É o que sempre dissemos sobre Guantánamo", afirmou.
Em junho, a Suprema Corte dos
EUA decidiu que detentos em
Guantánamo tinham o direito de
recorrer a tribunais americanos
para desafiar sua detenção.
Colaborou Maria Brant, free-lance para
a Folha
Com agências internacionais
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