São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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Halliburton é alvo de nova acusação de favorecimento

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Na reta final da campanha eleitoral nos EUA, Bunny Greenhouse, a principal funcionária do Corpo de Engenheiros do Exército no que concerne à concessão de contratos, exigiu uma investigação sobre contratos recebidos pela empresa Halliburton, que foi comandada pelo vice-presidente Dick Cheney de 1995 a 2000.
De acordo com documentos obtidos anteontem pela agência de notícias Reuters, Greenhouse reclamou de "interferência sistemática" na atribuição de contratos de bilhões de dólares que foram concedidos à Kellog Brown & Root, subsidiária da Halliburton, por serviços prestados no Iraque e nos Bálcãs (Kosovo).
"A interferência foi principalmente focalizada em questões contratuais multibilionárias ligadas à subsidiária da Halliburton Kellog Brown & Root [KBR]", disseram os advogados de Greenhouse numa carta enviada ao secretário interino do Exército, Les Brownlee, na última quinta-feira.
Para Daniel Politi, pesquisador do Centro por Integridade Pública, entidade de Washington que monitora ações governamentais, e autor de estudos sobre o tema, a influência da Halliburton na distribuição de contratos militares existe e data da década passada.
"O Exército pediu à KBR que concebesse um plano de contingência para apagar incêndios em campos de petróleo no Iraque caso houvesse uma guerra. Mais tarde, em novembro de 2001, os militares concederam esse contrato à KBR, que tinha feito o estudo para o Exército", contou Politi à Folha.
"Mas, já em 1991, após a Guerra do Golfo, Cheney, então secretário da Defesa, pediu à KBR que conduzisse um estudo sobre os benefícios de terceirizar atividades militares. Em 1992, a empresa recebeu o primeiro contrato do Programa Logístico de Aumento Civil do Exército, algo enorme que permite que os militares usem o trabalho da KBR em todas as suas operações de campo, incluindo combate, manutenção da paz e assistência humanitária."
"Trata-se de um contrato em que os pagamentos são baseados nos custos das operações e num prêmio. Isto é, a KBR recebe, além dos custos do trabalho, um valor adicional, que varia de 2% a 5%, dependendo da qualidade do serviço realizado. A KBR perdeu o contrato para a Dyncorp em 1997, mas voltou a ganhá-lo em dezembro de 2001", acrescentou Politi.
Segundo o Centro por Integridade Pública, a KBR, que presta serviços para a indústria petrolífera, é de longe a empresa que mais ganhou contratos de reconstrução no Iraque e no Afeganistão entre o início de 2002 e 1º de julho deste ano. Ela recebeu US$ 11,4 bilhões, enquanto a segunda colocada, a Parsons Corporation, obteve US$ 5,3 bilhões no período.
Ademais, a entidade mostrou que os contratos ligados à defesa atribuídos à Halliburton em 2003 foram bem mais elevados que os que ela recebera entre 1998 e 2002. No ano passado, a KBR recebeu contratos no valor de US$ 4,3 bilhões, incluindo um de US$ 2,5 bilhões sem licitação. Nos cinco anos precedentes, os contratos de defesa concedidos à empresa não chegaram a US$ 2,5 bilhões, de acordo com pesquisa do Centro por Integridade Pública.
"A Guerra do Iraque explica os números. Em outros lugares, como Kosovo, contudo, a Halliburton não recebeu tantos contratos quanto no Iraque", disse Politi.
O Pentágono, que nega veementemente ter favorecido a empresa texana, afirma que ela obteve contratos sem concorrência pública porque só a KBR tinha know-how para executar alguns trabalhos de reconstrução.
Os militares disseram anteontem que não podiam confirmar a existência da carta enviada a Brownlee ou uma investigação sobre o tema. A KBR vem sendo investigada em razão de um suposto superfaturamento de certos serviços prestados no Iraque.
A Halliburton publicou ontem seus resultados financeiros para o terceiro trimestre de 2004. O faturamento da empresa no Iraque chegou a US$ 1,4 bilhão no período, porém seu lucro operacional foi de apenas US$ 4 milhões.
Quanto ao suposto favorecimento à empresa por conta da influência de Cheney, Politi foi taxativo: "Não temos prova disso".


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