São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Jovem é morto em protesto anti-Chávez

Operário de estatal tentava passar por bloqueio da oposição; violência abre última semana de campanha para referendo

Presidente afirma que morte faz parte de um "plano desestabilizador" de "setores da oposição"; pesquisa indica empate

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A última semana de campanha eleitoral da Venezuela começou ontem com violentos protestos no interior do país, deixando um saldo de um operário de 19 anos morto e 80 presos, segundo o governo federal. O jovem foi baleado em meio a manifestações contra o projeto de reforma constitucional do presidente Hugo Chávez, que irá a referendo neste domingo.
Os distúrbios ocorreram nas cidades de Maracay (Estado de Aragua, 110 km a oeste de Caracas), a maior concentração de unidades militares do país, e de Valencia, (Carabobo, 160 km a oeste da capital), a terceira maior do país.
Imagens e relatos da imprensa local mostraram bloqueios de ruas com pneus incendiados, paus e pedras. Para dispersar os manifestantes oposicionistas, foram usados gás lacrimogêneo e balas de borracha por forças policiais e da Guarda Nacional.
Segundo a versão oficial, o trabalhador José Aníbal Oliveros foi assassinado por dois disparos na região metropolitana de Valencia quando tentava furar um bloqueio para chegar ao seu trabalho, a Petrocasa, uma fábrica estatal de construção de casas populares.
Foi a primeira morte registrada nas dezenas de manifestações contra a reforma por todo o país, que já deixaram dezenas de feridos, na maioria das vezes em episódios envolvendo estudantes oposicionistas.
Em discurso durante um ato oficial, Chávez afirmou que o assassinato faz parte de um "plano desestabilizador" promovido por "setores da oposição": "Lançaram agressões contra o povo e assassinaram um jovem trabalhador apenas porque disse que o deixassem passar. E havia um grupo de enlouquecidos e envenenados fascistas que lhe meteram dois tiros e o mataram", afirmou, na segunda de três aparições televisionadas ontem.
Em mais um ataque ao projeto de reforma constitucional, a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) emitiu ontem um comunicado contra a proposta chavista, acusando-a de "desnecessária, moralmente inaceitável e inconveniente para o país".
"Além de restringir muitos direitos humanos, civis, sociais e políticos consagrados na Constituição, cria motivos de discriminação política e introduz novos campos de enfrentamento e polarização entre os venezuelanos", diz o texto.
Os bispos também rechaçaram o conjunto de insultos lançados por Chávez nos últimos dias contra a hierarquia católica. No sábado, o presidente venezuelano os mandou "para o inferno" e ainda ameaçou prender o cardeal Jorge Urosa Sabino caso ele apóie atos "desestabilizadores".

Pesquisas
A proposta de reforma constituinte de Chávez introduz a reeleição presidencial indefinida, com um aumento de mandato de seis para sete anos. Outras mudanças incluem mais atribuições para o Executivo, como a criação de unidades territoriais e o controle da política monetária. Há também benefícios sociais, entre os quais a redução da jornada de trabalho.
A oposição acusa Chávez de tentar concentrar mais poderes e de buscar um modelo político semelhante ao de Cuba. O presidente venezuelano, por sua vez, tem chamado a proposta de "revolução dentro da revolução" e diz que é necessário aprová-la para acelerar a implantação do "socialismo do século 21".
Algumas pesquisas de opinião mostram que Chávez chega ao final da campanha com menos apoio em comparação a eleições anteriores -ele venceu todas em seus quase nove anos de mandato.
Segundo pesquisa divulgada anteontem à noite pela empresa Hinterlaces, o "sim" chavista e o "não" aparecem com empate técnico: 45% e 46%, respectivamente. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.
Esse cenário tem sido negado pelos chavistas. Com base em pesquisas próprias, dizem haver clara vantagem do "sim".


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