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Jovem é morto em protesto anti-Chávez
Operário de estatal tentava passar por bloqueio da oposição; violência abre última semana de campanha para referendo
Presidente afirma que morte faz parte de um "plano desestabilizador"
de "setores da oposição"; pesquisa indica empate
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A última semana de campanha eleitoral da Venezuela começou ontem com violentos
protestos no interior do país,
deixando um saldo de um operário de 19 anos morto e 80 presos, segundo o governo federal.
O jovem foi baleado em meio a
manifestações contra o projeto
de reforma constitucional do
presidente Hugo Chávez, que
irá a referendo neste domingo.
Os distúrbios ocorreram nas
cidades de Maracay (Estado de
Aragua, 110 km a oeste de Caracas), a maior concentração de
unidades militares do país, e de
Valencia, (Carabobo, 160 km a
oeste da capital), a terceira
maior do país.
Imagens e relatos da imprensa local mostraram bloqueios
de ruas com pneus incendiados, paus e pedras. Para dispersar os manifestantes oposicionistas, foram usados gás lacrimogêneo e balas de borracha
por forças policiais e da Guarda
Nacional.
Segundo a versão oficial, o
trabalhador José Aníbal Oliveros foi assassinado por dois disparos na região metropolitana
de Valencia quando tentava furar um bloqueio para chegar ao
seu trabalho, a Petrocasa, uma
fábrica estatal de construção de
casas populares.
Foi a primeira morte registrada nas dezenas de manifestações contra a reforma por todo o país, que já deixaram dezenas de feridos, na maioria das
vezes em episódios envolvendo
estudantes oposicionistas.
Em discurso durante um ato
oficial, Chávez afirmou que o
assassinato faz parte de um
"plano desestabilizador" promovido por "setores da oposição": "Lançaram agressões
contra o povo e assassinaram
um jovem trabalhador apenas
porque disse que o deixassem
passar. E havia um grupo de
enlouquecidos e envenenados
fascistas que lhe meteram dois
tiros e o mataram", afirmou, na
segunda de três aparições televisionadas ontem.
Em mais um ataque ao projeto de reforma constitucional, a
Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) emitiu ontem
um comunicado contra a proposta chavista, acusando-a de
"desnecessária, moralmente
inaceitável e inconveniente para o país".
"Além de restringir muitos
direitos humanos, civis, sociais
e políticos consagrados na
Constituição, cria motivos de
discriminação política e introduz novos campos de enfrentamento e polarização entre os
venezuelanos", diz o texto.
Os bispos também rechaçaram o conjunto de insultos lançados por Chávez nos últimos
dias contra a hierarquia católica. No sábado, o presidente venezuelano os mandou "para o
inferno" e ainda ameaçou prender o cardeal Jorge Urosa Sabino caso ele apóie atos "desestabilizadores".
Pesquisas
A proposta de reforma constituinte de Chávez introduz a
reeleição presidencial indefinida, com um aumento de mandato de seis para sete anos. Outras mudanças incluem mais
atribuições para o Executivo,
como a criação de unidades territoriais e o controle da política
monetária. Há também benefícios sociais, entre os quais a redução da jornada de trabalho.
A oposição acusa Chávez de
tentar concentrar mais poderes e de buscar um modelo político semelhante ao de Cuba. O
presidente venezuelano, por
sua vez, tem chamado a proposta de "revolução dentro da revolução" e diz que é necessário
aprová-la para acelerar a implantação do "socialismo do século 21".
Algumas pesquisas de opinião mostram que Chávez chega ao final da campanha com
menos apoio em comparação a
eleições anteriores -ele venceu todas em seus quase nove
anos de mandato.
Segundo pesquisa divulgada
anteontem à noite pela empresa Hinterlaces, o "sim" chavista
e o "não" aparecem com empate técnico: 45% e 46%, respectivamente. A margem de erro é
de quatro pontos percentuais,
para mais ou para menos.
Esse cenário tem sido negado
pelos chavistas. Com base em
pesquisas próprias, dizem haver clara vantagem do "sim".
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