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EUA tentam deslegitimar pleito, diz Putin
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Em mais uma escalada retórica que faria tremer o habitante do mundo da Guerra
Fria, o presidente da Rússia
acusou ontem os EUA de
tentar desacreditar as eleições legislativas no país no
próximo domingo. "O objetivo é deslegitimizar as eleições, mas eles não vão conseguir", disse Vladimir Putin.
Como os tempos são outros, a retórica deve ser lida
como o que é: retórica, visando reforçar a provável votação esmagadora do partido
escolhido por Putin para
chamar de seu no pleito, o
Rússia Unida. E, conseqüentemente, obter o verniz de legitimidade para o até agora
misterioso passo que dará se
mantiver a promessa de não
mudar a lei na última hora
para poder concorrer a um
terceiro mandato de quatro
anos em 2 de março de 2008.
No centro da acusação do
presidente está a disputa pelo monitoramento internacional da eleição. No dia 16, a
OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa, que reúne 56 países, inclusive os EUA) afirmou que,
por dificuldades de obtenção
de vistos, cancelaria o envio
de até 400 observadores.
Segundo a Folha apurou
com diplomatas russos, havia uma "má vontade" oficial
para a concessão dos vistos,
mas não exatamente uma
política explícita. Após as
primeiras queixas, a Chancelaria anunciou que concederia 70 vistos -tarde demais,
poucos demais.
Medo
Putin vem apelando ao
medo da influência estrangeira, ainda presente na psiquê do cidadão comum
-aquele que não é beneficiado pela bonança financeira
dos preços altos do petróleo
e gás, que faz com que a elite
que não desafiou o Kremlin
politicamente se alinhe a ele.
Mas o presidente fala para
fora também. Como disse à
Folha Vladimir Prolov, cientista político em Moscou,
"Putin adora aparecer do lado dos colegas ocidentais como um democrata; à maneira russa, mas um democrata". O problema, aponta, é a
falta de um modelo de "democracia russa".
Ao mesmo tempo, o Ocidente precisa de gás e petróleo russos, e é melhor ver
uma nação com ogivas nucleares com um regime estável. Assim, o que é possível
são reações como a do presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão
Barroso, que condenou de
forma vaga a repressão policial no fim de semana. "Fiquei muito preocupado com
relatos de assédio policial e
prisão de políticos. Lamento
muito que as autoridades
achem necessário agir com a
mão pesada", disse.
A "mão pesada" em questão prendeu cerca de 210 manifestantes em Moscou (sábado) e São Petersburgo (domingo). Entre eles, o líder de
um bloco de oposição que
não é candidato domingo,
mas sim em março, o enxadrista Garry Kasparov.
(IG)
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