São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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EUA tentam deslegitimar pleito, diz Putin

DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Em mais uma escalada retórica que faria tremer o habitante do mundo da Guerra Fria, o presidente da Rússia acusou ontem os EUA de tentar desacreditar as eleições legislativas no país no próximo domingo. "O objetivo é deslegitimizar as eleições, mas eles não vão conseguir", disse Vladimir Putin.
Como os tempos são outros, a retórica deve ser lida como o que é: retórica, visando reforçar a provável votação esmagadora do partido escolhido por Putin para chamar de seu no pleito, o Rússia Unida. E, conseqüentemente, obter o verniz de legitimidade para o até agora misterioso passo que dará se mantiver a promessa de não mudar a lei na última hora para poder concorrer a um terceiro mandato de quatro anos em 2 de março de 2008.
No centro da acusação do presidente está a disputa pelo monitoramento internacional da eleição. No dia 16, a OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa, que reúne 56 países, inclusive os EUA) afirmou que, por dificuldades de obtenção de vistos, cancelaria o envio de até 400 observadores.
Segundo a Folha apurou com diplomatas russos, havia uma "má vontade" oficial para a concessão dos vistos, mas não exatamente uma política explícita. Após as primeiras queixas, a Chancelaria anunciou que concederia 70 vistos -tarde demais, poucos demais.

Medo
Putin vem apelando ao medo da influência estrangeira, ainda presente na psiquê do cidadão comum -aquele que não é beneficiado pela bonança financeira dos preços altos do petróleo e gás, que faz com que a elite que não desafiou o Kremlin politicamente se alinhe a ele.
Mas o presidente fala para fora também. Como disse à Folha Vladimir Prolov, cientista político em Moscou, "Putin adora aparecer do lado dos colegas ocidentais como um democrata; à maneira russa, mas um democrata". O problema, aponta, é a falta de um modelo de "democracia russa".
Ao mesmo tempo, o Ocidente precisa de gás e petróleo russos, e é melhor ver uma nação com ogivas nucleares com um regime estável. Assim, o que é possível são reações como a do presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, que condenou de forma vaga a repressão policial no fim de semana. "Fiquei muito preocupado com relatos de assédio policial e prisão de políticos. Lamento muito que as autoridades achem necessário agir com a mão pesada", disse.
A "mão pesada" em questão prendeu cerca de 210 manifestantes em Moscou (sábado) e São Petersburgo (domingo). Entre eles, o líder de um bloco de oposição que não é candidato domingo, mas sim em março, o enxadrista Garry Kasparov. (IG)


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