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Sem Fidel, Cuba manterá sistema, diz relator da ONU
Para o suíço Jean Ziegler, EUA cometem "erro terrível" ao prever abertura ao capitalismo após a morte do ditador
Ziegler diz que, em meio à continuidade, há mudanças econômicas em curso que visam maior produtividade no sistema comunista local
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Cuba sem Fidel Castro manterá o mesmo sistema comunista implantado há quase
meio século e os Estados Unidos cometem um erro "terrível" ao imaginar que o desaparecimento do ditador abrirá as
portas do país ao capitalismo.
A avaliação é do relator especial das Nações Unidas para o
Direito à Alimentação, o suíço
Jean Ziegler, que fará hoje na
sede da ONU em Genebra um
relato preliminar da criticada
visita que fez a Cuba, entre o
fim de outubro e o começo de
novembro.
Ziegler foi atacado principalmente por rejeitar o pedido de
diplomatas europeus para que
se encontrasse com dissidentes
cubanos -segundo ele, o encontro extrapolaria seu mandato e poderia pôr em risco a
abertura que, em sua opinião,
representou o convite que recebeu dos cubanos.
"O governo Bush comete um
terrível erro de percepção ao
pensar que a questão em Cuba
é simplesmente a de uma ditadura com um ditador prestes a
desaparecer. E um erro ainda
mais absurdo ao supor que, no
momento em que Fidel não estiver mais no poder, os marines
serão recebidos de braços abertos em Cuba", disse Ziegler à
Folha durante uma pausa nos
preparativos para o relato que
fará hoje na ONU.
"Os cubanos estão na quarta
geração da revolucionários, que
são principalmente os estudantes universitários. Eles são 860
mil, em uma população de 11
milhões de pessoas", diz.
Em meio à continuidade, o
relator da ONU percebeu que
mudanças econômicas significativas estão em curso. Após as
enormes dificuldades sofridas
durante o chamado "período
especial", quando o fim da
União Soviética deixou Cuba
sem o mercado comunista (que
absorvia 89% de seus produtos), o governo agora começa a
aplicar reformas que visam o
aumento da produtividade.
"Ainda não há uma decisão,
mas dá para sentir para onde as
coisas estão indo: redução das
fazendas do Estado e aumento
das Cooperativas de Créditos e
Serviços", diz Ziegler. "Nesse
novo tipo de cooperativa, as famílias ganham direito ilimitado de uso das terras, mas não
podem vendê-las." O objetivo é
impedir o surgimento de uma
nova classe capitalista no campo, segundo o relator.
Ziegler diz ainda que o embargo americano "tem um efeito terrível", mas não comprometeu a capacidade do governo
de alimentar a população.
Leia a íntegra da entrevista
no Caderno Mais! do próximo
domingo
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