São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Sem Fidel, Cuba manterá sistema, diz relator da ONU

Para o suíço Jean Ziegler, EUA cometem "erro terrível" ao prever abertura ao capitalismo após a morte do ditador

Ziegler diz que, em meio à continuidade, há mudanças econômicas em curso que visam maior produtividade no sistema comunista local

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Cuba sem Fidel Castro manterá o mesmo sistema comunista implantado há quase meio século e os Estados Unidos cometem um erro "terrível" ao imaginar que o desaparecimento do ditador abrirá as portas do país ao capitalismo.
A avaliação é do relator especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, que fará hoje na sede da ONU em Genebra um relato preliminar da criticada visita que fez a Cuba, entre o fim de outubro e o começo de novembro.
Ziegler foi atacado principalmente por rejeitar o pedido de diplomatas europeus para que se encontrasse com dissidentes cubanos -segundo ele, o encontro extrapolaria seu mandato e poderia pôr em risco a abertura que, em sua opinião, representou o convite que recebeu dos cubanos.
"O governo Bush comete um terrível erro de percepção ao pensar que a questão em Cuba é simplesmente a de uma ditadura com um ditador prestes a desaparecer. E um erro ainda mais absurdo ao supor que, no momento em que Fidel não estiver mais no poder, os marines serão recebidos de braços abertos em Cuba", disse Ziegler à Folha durante uma pausa nos preparativos para o relato que fará hoje na ONU.
"Os cubanos estão na quarta geração da revolucionários, que são principalmente os estudantes universitários. Eles são 860 mil, em uma população de 11 milhões de pessoas", diz.
Em meio à continuidade, o relator da ONU percebeu que mudanças econômicas significativas estão em curso. Após as enormes dificuldades sofridas durante o chamado "período especial", quando o fim da União Soviética deixou Cuba sem o mercado comunista (que absorvia 89% de seus produtos), o governo agora começa a aplicar reformas que visam o aumento da produtividade.
"Ainda não há uma decisão, mas dá para sentir para onde as coisas estão indo: redução das fazendas do Estado e aumento das Cooperativas de Créditos e Serviços", diz Ziegler. "Nesse novo tipo de cooperativa, as famílias ganham direito ilimitado de uso das terras, mas não podem vendê-las." O objetivo é impedir o surgimento de uma nova classe capitalista no campo, segundo o relator.
Ziegler diz ainda que o embargo americano "tem um efeito terrível", mas não comprometeu a capacidade do governo de alimentar a população.

Leia a íntegra da entrevista no Caderno Mais! do próximo domingo


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