São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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ARTIGO

A visão israelense da cúpula

TZIPORA RIMON

Israel há muito tempo defende o diálogo com os líderes pragmáticos do lado palestino. Apesar da complexidade e de todas as dificuldades, o governo israelense acredita que a situação atual representa uma oportunidade que deve ser aproveitada. Para Israel, o encontro de Annapolis é uma oportunidade de se chegar a um entendimento comum a fim de permitir progressos nas negociações em direção a uma visão de dois Estados, para dois povos.
O evento representa um ponto de partida para o lançamento das negociações e contará com a presença de dezenas de Estados, inclusive do Brasil e de países do Oriente Médio, os quais irão criar uma rede de proteção internacional a este processo. A participação de Estados árabes moderados pode ajudar a liderança palestina a proporcionar as medidas necessárias. Por outro lado, indicará aos israelenses a aceitação de Israel e uma predisposição a normalizar as relações com o país. Após Annapolis, espera-se que Israel e os palestinos entrem em negociações intensas ao lidar com questões fundamentais que são condições para a concretização da perspectiva de dois Estados.
A solução gera divisão entre israelenses e palestinos moderados que vislumbram dois lares para dois povos, convivendo em paz e segurança. Deve-se assegurar que o futuro Estado palestino não seja de terror. Nesse sentido, os compromissos do Mapa de Caminho que os palestinos assumiram -especialmente a luta contra o terrorismo- devem ser cumpridos. Israel está comprometido, com dedicação, à sua parte do Mapa, apesar das dificuldades políticas envolvidas.
Enquanto Israel luta por um futuro melhor, com a liderança palestina moderada de Mahmoud Abbas, a realidade -como o terrorismo do Hamas em Gaza- não pode ser esquecida. O bombardeio incessante de terroristas do Hamas contra cidades israelenses deve ser lembrado. Na busca pela paz, Israel também tem o dever de proteger seus civis de extremistas. Para o sucesso das negociações em Annapolis, prima-se discutir pontos-chave. O debate sobre os problemas mais sérios, as questões históricas, os desacordos entre Israel e palestinos, já é um avanço.
Estamos comprometidos a alcançar o objetivo de dois Estados, levando em conta os interesses de segurança nacional. Esperamos a mesma boa vontade por parte dos palestinos. Naturalmente, em vista de anos de tentativas frustradas, há um certo ceticismo e preocupação de haver colapso nas negociações -o que pode levar à violência. Há em Israel uma crescente ansiedade em relação à habilidade de Abbas em implementar um acordo.
Por outro lado, alguns medirão esforços para destruir a iniciativa pela paz no Oriente Médio. O Irã e seus aliados Hizbollah e Hamas temem uma solução positiva, que pode desmantelar seu desejo de uma revolução islâmica na região. Esses obstáculos não podem nos impedir de cultivar a paz entre os povos da região. O encontro de Annapolis pode significar um poderoso avanço em direção à paz -que é aguardada com ansiedade, 60 anos após a decisão de partilha da ONU em sessão presidida pelo diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, em 29 de novembro de 1947.
Israel tem a esperança de que cada um dos líderes e partes envolvidos possam debater os aspectos cruciais desta oportunidade única, enfrentando os riscos com coragem e determinação, caminhando em direção a um futuro melhor para todos.


TZIPORA RIMON é embaixadora de Israel no Brasil


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