São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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Líder ausente encerra ciclo e dá tom do novo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE JERUSALÉM

Nos últimos dias, quando o Kadima começou a cair nas pesquisas eleitorais, o premiê Ariel Sharon voltou a aparecer no horário politico do partido exibido na televisão. A legenda apostou no carisma do lendário líder para conter a queda e mostrou imagens do ato de fundação, em novembro.
"O Kadima vai ser o partido que dará estabilidade e segurança a Israel", disse um Sharon ainda saudável e no auge da popularidade.
Até então, o polêmico ex-general havia aparecido pouco na campanha. Ele não foi muito elogiado, nem muito acusado. Nem mesmo o Kadima explorou a imagem de herói de Sharon, nem os adversários exploraram as acusações de corrupção contra o primeiro-ministro.
Embora ausente fisicamente, em termos ideológicos ele esteve envolvido em cada momento da campanha. Sua idéia de "desligar" Israel dos palestinos transformou-se no ponto central da política israelense. A partir do momento em que ele lançou a idéia do desligamento, posta em prática no ano passado, quando ordenou a retirada da faixa de Gaza, ser de "direita" ou de "esquerda" em Israel passou a significar ser a favor ou contra o unilateralismo.

Ataques
Durante a campanha eleitoral, os ataques às idéias de Sharon foram transferidos para Ehud Olmert. As acusações de corrupção foram deixadas de lado.
Não apareceram os assuntos das listas que Omri, filho de Ariel Sharon, fez de cargos públicos a serem distribuídos para aliados, nem mesmo o dinheiro que ele coletou de maneira irregular para a campanha do pai.
O episódio mais polêmico de sua carreira, pelo menos em relação à sua imagem internacional, também não conseguiu manchar a campanha. O massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, durante a invasão israelense do Líbano, há muito sumiram do currículo político de Sharon dentro de Israel.
"Temos hoje em Israel uma nova realidade. Sharon saiu da direita e criou um novo centro na política. Se não fosse por ele, hoje não teríamos um milhão de eleitores mudando o partido em que votam", disse o trabalhista Yitzhak Herzog, número dois de Amir Peretz, em análise da transferência dos votos do Likud para o Kadima.
A eleição antecipada de hoje em Israel representa a entrada da doutrina de Ariel Sharon para a história do país.
A face do premiê fitando o horizonte aparece em gigantescos murais nas salas do Kadima, assim como fotos enormes de Yitzhak Rabin adornam as sedes do Partido Trabalhista. Sharon virou o Rabin da direita. (MG)


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